Ensino remoto: professores(as) já estão
esgotados(as)
Wallace Melo
O atual contexto de
pandemia implicou em grandes mudanças na rotina de trabalho de várias
categorias profissionais, dentre essas, a dos (as) professores (as). Em
Pernambuco, desde o dia 18 de março, as aulas presenciais estão suspensas,
devido às determinações do poder público, haja vista o necessário enfrentamento
a disseminação da Covid-19 no estado.
Ainda em março, o
Conselho Estadual de Educação, por meio da Resolução Nº 03/2020, dentre outras
orientações, regulou, no âmbito do sistema de ensino de Pernambuco, a
possibilidade de atividades pedagógicas mediadas por tecnologias não presenciais,
em tempo real ou não.
No âmbito das escolas
particulares, diante a suspensão das aulas, os sindicatos dos(as)
professores(as) (Sinpro Pernambuco) e dos patrões (Sinepe), acordaram no
adiantamento das férias da categoria para o mês de abril. Prevendo a volta às
aulas para maio, na forma de ensino remoto.
Contudo, o retorno
das atividades escolares nas instituições particulares, embora autorizadas e
orientadas pelas normativas emitidas pelos conselhos (estadual e nacional) de
educação e alicerçadas na Medida Provisória 934/2020, publicada pelo Ministério
da Educação, dispensando excepcionalmente a obrigatoriedade quanto ao
cumprimento dos dias de efetivo trabalho escolar, tem sido um desafio enorme
para toda comunidade escolar.
No que diz respeito ao
fazer docente, essa realidade não tem sido fácil, nos aspectos pedagógicos e
também no âmbito das relações de trabalho, principalmente pelo fato de muitas
escolas estarem adotando as implicações da Medida Provisória 936/2020, que,
dentre outros alcances, estabelece uma sistemática redução nas jornadas de
trabalho e nos salários dos (as) professores (as).
No final, a realidade
se estabelece da seguinte forma: Professores (as) com salários reduzidos, mas,
contraditoriamente, com demandas de trabalho crescentes, no que diz respeito,
sobretudo ao ensino remoto.
É bem verdade que
essas mudanças no fazer docente estão em curso, sobretudo no âmbito das
transformações oriundas da quarta revolução industrial, na constituição de uma
educação 4.0, mobilizando nos processos educacionais aspectos da inteligência
artificial, tecnologias da informação e comunicação, internet das coisas,
metodologias ativas, ensino híbrido etc. Porém, ninguém esperava que as
transformações epistemológicas e didáticas oriundas desses contextos,
ocorressem sob um espectro emergencial e de forma acelerada devido ao contexto
da pandemia.
E assim, desprovidos
de uma mínima transição, o ano letivo foi radicalmente transformado, como
também, a rotina de milhares de profissionais da educação. Mudanças que
acarretaram em novos desafios e possibilidades às práticas educacionais, e
emergiu um campo de atuação profissional desprovido de regulamentação e carente
de normativas mais específicas, haja vista, sobretudo o ambiente de
excepcionalidade.
O fato é que lecionar
e interagir com estudantes, mediado por telas não vem sendo uma coisa fácil
para a categoria de professores(as), e não é só por questões geracionais,
existem outras variáveis mais complexas nesse horizonte. Por exemplo, temos uma
gama de mestres que não dominam com tamanha maestria os recursos, as
metodologias e plataformas tecnológicas, principalmente as mais específicas
para o âmbito educacional.
O acesso as
tecnologias também atinge esse contexto, bem como o tempo de adaptação e
aprendizado, principalmente para transpor as aulas e os planejamentos para
versões digitais e não presenciais. Esses fatores, dentre outros, implicam aos
professores (as) mais tempo de trabalho e investimentos para obterem formação e
acesso aos recursos tecnológicos.
E os resultados estão
sendo percebidos por toda categoria. As semanas têm sido de aprendizagem e
dedicação. Porém, o trabalho e as demandas só aumentam. As dúvidas também. Como
ficam a integridade e o direito à imagem e a produção intelectual nessa quadra
de ensino remoto? Qual o tempo mínimo para uma aula à distância? Como avaliar o
desempenho cognitivo nesse novo momento? Como calcular o tempo e a jornada de trabalho
dos profissionais? Os questionamentos são crescentes.
Percebam que os
esforços tem sido hercúleos para que as atividades pedagógicas cheguem às casas
dos (as) estudantes. A privacidade dos domicílios e os horários livres dos (as)
professores (as) tem sido tomados pelo trabalho remoto e muitos desses (as)
profissionais, por incrível que pareça, estão com suas jornadas contratuais
reduzidas, via Medida Provisória 936, mas na prática, trabalhando muito mais,
se comparado aos períodos pré-pandemia.
Pois bem, os (as)
professores (as) das escolas particulares estão, em meio a todas as
dificuldades impostas ao estado de isolamento e distanciamento social, ficando
esgotados (as), e olhem que as aulas remotas retomaram no início de maio, temos
ainda muitos dias letivos pela frente.
Enfim, eis que está
aberto um horizonte destituído de regras objetivas, obviamente justificadas
pela situação extraordinária de pandemia, mas que, já é chegada à hora de
iniciarmos as discussões sobre como deve se estabelecer o ensino remoto nesse
período, pelo bem da educação e pela saúde e preservação dos mestres. Cuidemos
dessa pauta junt@s!
Wallace
Melo Barbosa, professor, humanista, secretário de formação do Sinpro Pernambuco
e atua nas redes, particular e pública, com a educação básica e no ensino
superior privado.
Fique
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