02 maio 2020

Sofrimento e consciência


Dos legados da pandemia
Melka


Desde que vejo a fome e o desemprego assolarem as pessoas ao meu redor, como na comunidade em que trabalho, entendo que não se pode esperar apenas por políticas públicas dos governantes, desde que foi aprovada a Emenda Constitucional 95 em que limita os "gastos" com direitos, como saúde, educação e assistência social, entendo que as lideranças políticas desse país que aprovaram essa barbaridade, não se importam com a vida das pessoas.

Entendo então que além de travar a luta política e social para derrotar as forças que não representam as necessidades das pessoas, que deve ser fortalecida nas ruas quando podíamos estar nas ruas, nas redes, em todos os lugares, e na principal arena de luta, a consciência do povo, precisamos de mobilização em rede de apoio.

Acredito que já faz um tempo que todas as entidades dos movimentos sociais, partidos políticos e figuras públicas, deveriam assumir a trincheira da caridade, da solidariedade. As pessoas que tem "fome de tudo" não podem esperar por conscientização das massas para elegermos representantes que defendam as políticas públicas que a sociedade precisa.

Agora, em tempos de pandemia, agora que está tão explicito todas as contradições sociais de quem está à margem dos direitos sociais enfrenta, agora que as políticas públicas se isentam de salvar o nosso povo, agora só resta o caminho da rede de apoio solidária. As pessoas hospitalizadas precisam ser salvas da morte, as pessoas que estão em casa sem renda, precisam ser salvas da vida. A maioria da população está perdida, desesperada e desamparada, não tem com quem contar.

Precisam ser apoiadas com respeito e humanidade. A consciência política do povo jamais será alcançada de forma espontânea, mas quando pudermos respirar nesse caos instaurado que estamos vivendo, espera-se que ao menos, todo o povo tenha memória, e com a memória do sofrimento em que estamos submetidos possamos fazer entender que pobreza, miséria, humilhação e falta de esperança será sempre uma questão sobretudo política.

E espera-se então que a consciência política seja uma das consequências, um dos legados da pandemia quem sabe.
[Ilustração: Grafite em parede do Recife Antigo]

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