22 agosto 2021

Escalar não é fácil

É inexplicável ver Reinaldo na reserva do São Paulo

No duelo pela Libertadores, Palmeiras não tinha nenhum atacante veloz pela direita
Tostão, Folha de S. Paulo

 

Os resultados das partidas de futebol são, geralmente, definidos por um conjunto de fatores técnicos, físicos, estratégicos e emocionais, por escolhas corretas e incorretas, por detalhes inesperados e, principalmente, pela qualidade dos jogadores.

Na vitória por 3 a 0 sobre o River Plate, o Atlético-MG foi nitidamente superior, no conjunto e nas virtudes individuais. O mesmo ocorreu na goleada do Flamengo sobre o Olimpia. Já o Fluminense foi eliminado na Libertadores, após o empate em 1 a 1 com o Barcelona de Guayaquil, por causa do maior número de gols marcados fora de casa pelos equatorianos, regulamento que eu nunca gostei.

Como se esperava, foram dois jogos equilibrados. O Fluminense foi eliminado porque está longe de ter os valores individuais de Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras.

Muitos jogos, geralmente entre equipes de mesmo nível técnico ou próximo, são decididos pelos detalhes, pelas escolhas nos momentos dos lances, pelos acasos, pelos suspiros. De repente, acontece algo surpreendente, que muda o resultado da partida. Esta incerteza não muda a importância dos treinamentos, do planejamento, das estratégias e dos erros e acertos dos treinadores.

Na derrota do Palmeiras para o Atlético-MG, pelo Brasileiro, por 2 a 0, e na vitória sobre o São Paulo, pela Libertadores, por 3 a 0, foram importantes os detalhes inesperados que ocorreram durante as partidas. O erro absurdo do árbitro na expulsão de Patrick de Paula, contra o Atlético-MG, foi decisivo. O time atleticano estava um pouco melhor, mas não o suficiente para ser o favorito. Dessa vez, o agitado e reclamão Abel Ferreira teve razão, ao ficar indignado.

Na Libertadores, o gol perdido por Pablo, contra o Palmeiras, livre e diante do goleiro, quando o São Paulo perdia por 1 a 0, em um jogo indefinido, foi também decisivo. O São Paulo, desesperado, foi todo para frente, o técnico Crespo tirou o volante Luan e deixou enormes espaços no meio-campo, para os habilidosos Raphael Veiga e, especialmente, Dudu criarem a merecida vitória por 3 a 0.

É inexplicável ver o lateral Reinaldo na reserva do São Paulo, ainda mais que o Palmeiras não tinha um atacante veloz pela direita. Além disso, o São Paulo, pela esquerda, tinha enormes espaços para atacar, o que Reinaldo faz melhor, pois tem um cruzamento forte e de curva, com a bola chegando entre o goleiro e os defensores, uma das jogadas principais do time nos últimos anos.

Cada dia mais aumenta a superioridade das equipes brasileiras na América do Sul. Palmeiras, Flamengo e Atlético-MG estão muito fortes. Os melhores jogadores de outros países do continente são contratados pelos europeus, pelos times brasileiros ou pelos dos Estados Unidos.

Jorge Jesus, ao fazer do Flamengo um time que atacava com quatro jogadores ofensivos, além do meio-campista Gerson, estimulou os técnicos brasileiros a abandonarem os vícios das últimas décadas, que empobreceram nosso futebol. A contratação de alguns treinadores estrangeiros, como Abel Ferreira e vários argentinos, ajuda na evolução.

Evoluir profissionalmente, no futebol e em qualquer atividade humana, não é apenas estudar, se informar, ter vontade, disciplina e saber comandar um grupo. É também observar os detalhes emocionais, objetivos e subjetivos, ter senso crítico, ser capaz de inovar, de surpreender, de tomar decisões rápidas e eficientes, de reconhecer as incertezas e de ir além da vitória.

Veja: Uma breve palavra sobre nossa conversa com o ex-presidente Lula https://bit.ly/3kbDHqq

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