Minha seleção brasileira tem
Gerson, Everton Ribeiro e Vinicius Junior
Admiro Tite e outros treinadores, como Klopp e Guardiola, mas
todos erram e acertam
Tostão,
Folha de S. Paulo
As
estatísticas dominaram o futebol. Com frequência, alguns programas de televisão
misturam, no mesmo pacote, os números que têm enorme importância para as
corretas análises técnicas e táticas com as estatísticas apenas interessantes,
curiosas, que servem para distrair. Comparar e igualar o talento de Zico, um
dos maiores jogadores da história, com Gabigol e Bruno Henrique, dois ótimos
atacantes, por causa do número de gols marcados, é um absurdo.
O Flamengo é a
equipe que mais encanta no Brasil, mas o Atlético-MG, no Campeonato Brasileiro,
é a mais eficiente e regular, pela ampla vantagem de pontos, por estar há 15
jogos sem perder, sendo 12 vitórias, além de praticar também um futebol
agradável de se ver, ótimo no ataque e na defesa.
Independentemente
das atuações individuais e coletivas de Palmeiras e de Atlético e da
competência dos dois treinadores, Abel Ferreira e Cuca, a razão principal da classificação do Palmeiras
para a final da Libertadores foram os detalhes não programados,
como o pênalti perdido por Hulk e a falha imprevista e estranha do bom zagueiro
Nathan Silva, do Atlético, muito bem aproveitada por Gabriel Veron.
A maneira
fascinante de o Flamengo jogar só existe porque, em 2019, surgiu um
treinador inventivo, corajoso, que colocou cinco jogadores no campo
adversário, o que na época, no Brasil, era uma loucura. Os loucos costumam ter
razão. Melhor ainda é o futebol brilhante e emocionante, em todos os aspectos,
jogado por Liverpool e Manchester City, dois times comandados por loucos
pragmáticos, Klopp e Guardiola.
Os torcedores
brasileiros, ao verem Flamengo, Liverpool e City encantarem, exigem que a
seleção faça o mesmo. Está na hora de Tite definir uma maneira de jogar e os
titulares, com algumas variações. Cada um tem sua seleção. A de Tite não é
igual à minha, que teria, para começar, um trio no meio-campo, formado por
Casemiro, Gerson, mais pela esquerda, e Everton Ribeiro, mais pela direita, uma mistura de meia e de
jogador pelo lado, como faz no Flamengo. Mais à frente, Neymar, Vinicius
Junior e Gabriel Jesus. Vinicius Junior tem grandes chances de evoluir até o
Mundial. Neymar e Casemiro não jogam contra a Venezuela.
Neymar é excepcional, como armador e atacante, arco e flecha. Porém,
repito, prefiro vê-lo atuar mais perto do gol do que como armador. Ele recua
demais para receber a bola e, com frequência, é desarmado ou derrubado. Existe
ainda o risco de perder a bola e dar um ótimo contra-ataque ao adversário, com
a defesa desprotegida. A bola deveria chegar a Neymar, mas ele é quem tem sido o responsável
por levá-la até os companheiros.
Não entendi a
razão de Guardiola escalar, contra o Liverpool, o meia Grealish de
centroavante. Ele joga normalmente pelo lado esquerdo. Não compreendo também
porque Grealish é titular da seleção inglesa e é tão elogiado, como se fosse um
craque. É um bom jogador, elegante, que joga com a cabeça em pé, habilidoso,
que, às vezes, dribla e toca bem a bola para o lado. Ainda não vi nada mais que
isso, no City nem na seleção.
Não deveríamos
ser reféns de treinadores nem de outros profissionais que admiramos. Não
podemos perder a independência e a capacidade crítica nem idolatrar, mitificar
e desvirtuar a realidade. O mundo precisa de profissionais sérios e
competentes, não de mitos.
[Ilustração: Ademir Martins]
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Veja:
Quem semeia o caos colhe o quê? https://youtu.be/yLfPBPiRBik
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