Pandemia
produz um bilionário a cada 26 horas, diz Oxfam
Dez homens mais ricos do mundo
dobram fortuna durante a crise sanitária, enquanto renda de 99% das pessoas cai
Douglas Gravas, Folha de S. Paulo
Enquanto
a renda de 99% da humanidade caiu durante a pandemia, um novo bilionário surgiu
a cada 26 horas, e os dez homens mais ricos do mundo mais que dobraram as suas
fortunas, na comparação de março de 2020 e novembro de 2021.
Os
dados são de um relatório inédito da Oxfam e também mostram que as fortunas das
dez pessoas mais ricas do mundo passaram de US$ 700 bilhões (R$ 3,87 trilhões)
para US$ 1,5 trilhão (R$ 8,3 trilhões) durante os dois primeiros anos da
pandemia de Covid-19.
Ao
mesmo tempo, a renda de 99% das pessoas caiu e mais de 160 milhões foram empurrados para a pobreza,
enquanto cerca de 17 milhões de pessoas morreram de Covid-19, mostra o
relatório "Desigualdade Mata".
O
documento alerta para o fato de que a pandemia de coronavírus tornou-se mais
mortal, mais prolongada e mais prejudicial aos meios de subsistência em razão
da desigualdade. "A desigualdade de renda é um indicador mais assertivo
para saber se você morrerá de Covid-19 do que a idade", diz o texto.
Segundo
a diretora-executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia, se os dez homens mais ricos
do mundo perdessem 99,99% de sua riqueza da noite para o dia, eles continuariam
mais ricos do que 99% de todas as pessoas. "Eles hoje têm seis vezes mais
riqueza do que os 3,1 bilhões mais
pobres."
A
Oxfam também destaca o que batizou de a "variante bilionária" do
coronavírus, dando como exemplo a viagem ao espaço feita pelo
homem mais rico do mundo, Jeff Bezos, em julho de 2021, enquanto
milhões de pessoas morriam por falta de comida ou de vacinas.
Além
disso, se os dez homens mais ricos gastassem US$ 1 milhão (R$ 5,53 milhões)
cada um por dia, seriam necessários 414 anos para gastar suas fortunas
combinadas.
O
Brasil ganhou dez novos bilionários desde março de 2020, quando a pandemia
chegou oficialmente ao país. Atualmente, são 55 bilionários, que acumulam uma riqueza total
de US$ 176 bilhões (R$ 974 bilhões).
Segundo
a Oxfam, o aumento da riqueza dos bilionários brasileiros foi de 30% (US$ 39,6
bilhões, ou R$ 219,2 bilhões), enquanto 90% da população teve uma redução de
0,2% entre 2019 e 2021. Nesse cenário, os 20 maiores bilionários do país têm
mais riqueza (US$ 121 bilhões ou R$ 669,7 bilhões) do que 128 milhões de
brasileiros, ou 60% da população.
"As
crescentes desigualdades econômicas, de gênero e raciais, assim como as
desigualdades que existem entre os países, estão destruindo nosso mundo. Isso
não acontece por acaso, mas sim por escolha", diz o relatório.
A
organização aponta, ainda, que a riqueza dos bilionários cresceu mais durante a
pandemia do que nos últimos 14 anos.
"Enormes
quantias de verbas públicas injetadas em nossas economias inflaram
drasticamente os preços das ações, que, por sua vez, engordaram as contas
bancárias dos bilionários mais do que nunca", diz a Oxfam.
A organização também defende que não faltam recursos para reduzir a
desigualdade, apenas coragem e imaginação para lidar com o problema.
"Todos
os governos deveriam tributar imediatamente os ganhos obtidos pelos super-ricos
durante este período de pandemia a fim de recuperar esses recursos e
utilizá-los para ajudar o mundo."
"Um
imposto único de 99% sobre o aumento repentino nos lucros decorrentes da
Covid-19 dos dez homens mais ricos geraria US$ 812 bilhões [R$ 4,5
trilhões]", afirma a Oxfam.
Os
cálculos são baseados na lista de bilionários da revista Forbes 2021. Os dados
sobre a parcela de riqueza vêm
do Global Wealth Databook 2021, do Instituto de Pesquisa do Credit Suisse. Já
os dados sobre os ganhos dos 99% da população global são do Banco Mundial.
.
De antenas
ligadas no que acontece https://bit.ly/3n47CDe
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