02 fevereiro 2022

Crônica da terça-feira

Beber o quê?

Luciano Siqueira

 

A notícia veiculada na grande mídia logo repercutiu em larga escala nas redes sociais: vinho é mais eficiente na prevenção da Covid do que a cerveja.

Melhor dizendo: vinho previne a Covid e a cerveja, ao contrário, pode tornar as pessoas mais vulneráveis.

Logo os apreciadores do vinho - que no Brasil crescem a cada ano - passaram a comemorar ruidosamente.

- Tá vendo aí, dona Valmira, bem que eu vinha dizendo que bebedor de vinho não é cachaceiro!

- E aí, amigão, que tal uma rodada de um bom tinto sexta que vem no terraço lá de casa? A gente mantém o distanciamento e só tira a máscara na hora de emborcar a taça.

O fato é que, coincidentemente, estive hoje numa farmácia para comprar meus medicamentos de uso contínuo, todos preventivos para quem tem a minha idade, ainda que clinicamente.

Aí fui notado por um cidadão que se disse meu paciente na clínica médica do velho Hospital Dom Pedro II (lá fiz o internato no 6⁰ ano do urso médico na UFPE):

- Doutor Luciano, quanto tempo! Esses anos todos tenho lhe acompanhado pela imprensa... Então, o senhor também está de acordo que beber vinho protege a gente contra Covid? 

Quando eu ia balbuciando meus condicionais como resposta, eis que aparece o velho amigo Epaminondas, que aproveita qualquer situação para seus impagáveis chistes:

- Acredito nisso não. Quem disse deve tá a fim de promover alguma marca de vinho.

- Isso não, são pesquisadores de um hospital na China — retrucou meu ex-paciente.

Tentando amenizar a polêmica, observei:

- Essas afirmações, mesmo com aparência científica, devem ser relativizadas. Podem ser mais uma fake news...

- Uísque não é bom para o coração, doutor?

- Pela sua ação vasodilatadora, em doses reduzidas pode até ajudar cardiopatas. Mas erra quem bebe pensando que está cuidando da saúde... 

Aí é que o Epaminondas mergulhou mesmo na conversa, mesmo eu me desculpando porque precisava sair rápido para honrar um compromisso: 

- Ah, os destilados! Meu avô mesmo viveu 99 anos tomando diariamente 3 lapadas de cachaça, pela manhã, à tarde e à noite.

- E o médico dele, estava de acordo?, perguntou meu ex-paciente.

- Ah, o médico dele, Doutor Severino, muito competente por sinal, não viveu o suficiente para opinar. Não bebia nem fumava, morreu aos 66 anos cheio de saúde!

Com essa, Epaminondas - sorriso irônico no canto da boca - deu por encerrado o debate ali entre as prateleiras da farmácia.

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A boa imagem depende de quem olha... https://bit.ly/3E95Juz

2 comentários:

Hailton Araujo disse...

Excelente pra quem aprecia uma bebida alcoólica e aproveita a notícia pra justificar o brinde!!! Sempre se arruma um motivo pra justificar o drinque, seja um brinde, seja um protesto ou aborrecimento .

Hailton Araujo disse...

Excelente pra quem aprecia uma bebida alcoólica e aproveita a notícia pra justificar o brinde!!! Sempre se arruma um motivo pra justificar o drinque, seja um brinde, seja um protesto ou aborrecimento .