Brasil e Argentina jogam futebol
moderno, com características diferentes
Não deveríamos ser saudosistas, achar que tudo era melhor,
nem modernosos
Tostão, Folha de S. Paulo
O Brasil fez uma excelente partida, individual e coletiva, na goleada por 5 a 1, facilitada pelas deficiências técnicas e pela passividade e gentileza da Coreia do Sul, que olhava o Brasil jogar. Neymar, livre, mostrou um amplo repertório. Prefiro, contra fortes adversários, que marcam muito e que fazem muitas faltas, vê-lo atuar mais à frente, mais perto do gol.
A Argentina, na vitória por 3 a 0 sobre a Itália, teve também uma excelente atuação, individual e coletiva. Ao contrário do que aconteceu durante muito tempo, Messi joga hoje muito melhor na seleção do que no clube. Os companheiros, pelo comportamento dentro e fora de campo e pelo carinho e admiração que têm por Messi, demonstram um compromisso velado e silencioso de ajudá-lo a ganhar títulos, especialmente o Mundial.
Argentina e Brasil estão entre umas oito seleções candidatas ao título. As duas, quando perdem a bola e não conseguem pressionar, recuam e marcam com duas linhas de quatro, com os jogadores dos lados próximos aos volantes. A diferença é que os pontas brasileiros são rápidos, dribladores e atuam abertos, enquanto na Argentina os dois jogadores pelos lados, Di Maria e Lo Celso, são meias que se aproximam de Messi e dos companheiros, para trocar passes e envolver o adversário.
O Brasil tem mais opções táticas e individuais do que a Argentina. Os dois jogam um futebol moderno, de compactação, de muita intensidade, diferente do futebol do passado. Isso é um fato. Por outro lado, muitos jovens, por desconhecimento, baseados em uma imagem de Gerson andando com a bola no meio-campo, na Copa de 1970, exageram e pensam que isso ocorria durante a maior parte do jogo. Os adversários inferiores, como se dá também no futebol moderno, costumavam recuar para fechar os espaços e, com isso, deixavam os meio-campistas do outro time livres com a bola.
No passado, excepcionais meio-campistas atuavam também de uma intermediária à outra, de acordo com as próprias características e as da época, como Gerson, Rivellino, Ademir da Guia, Dirceu Lopes, Toninho Cerezo, Falcão e outros. Posteriormente, os técnicos brasileiros dividiram o meio-campo entre os volantes que marcam e os meias ofensivos que atacam, o que acabou com os grandes meio-campistas. Isso começou a mudar lentamente.
Gerson voltava para receber a bola do goleiro, como é hoje frequente, tocava, avançava, recebia, até chegar ao campo adversário, como no gol contra a Itália, na final da Copa de 1970. Ademir da Guia, com suas passadas largas, deslizava de uma área à outra. Era o falso lento. Dirceu Lopes estava em todas as partes do gramado. Falcão e Cerezo eram volantes e meias.
Na Copa de 1970, Jairzinho voltava ao próprio campo para desarmar, tocava e recebia a bola na intermediária do outro time, como no segundo gol contra o Uruguai. Assim costumam fazer Vinicius Junior e Mbappé.
Ganso se tornou o símbolo do jogador do passado, lento e sem intensidade. Se tivesse sido formado em outra época, teria chance de se tornar um grande meio-campista, para jogar de uma área à outra.
No passado, o futebol era lento, mas nem tanto. Não deveríamos ser saudosistas, achar que tudo era melhor e que a solução atual seria voltar ao futebol-raiz nem ser como um modernoso, que acha que tudo o que acontecia antes está ultrapassado, que a vida e o futebol começaram com a internet e que dizer palavras e expressões modernas é um atestado de conhecimento e de sabedoria.
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O fato e a ideia https://bit.ly/3n47CDe
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