Quase fui campeão do mundo na
Copa de 2002
Fascinou-me o convite para
ser diretor da seleção, mas recusei
Tostão,
Folha de S. Paulo
Neste
mês, há 20 anos, no Japão, o Brasil ganhou, pela quinta vez, a Copa.
Eu estava presente, como colunista. PVC conta
todos os detalhes no ótimo livro "Cinco Estrelas – a Conquista do
Penta".
Em
2001, quando foi convidado para ser o treinador da seleção, Felipão era técnico do Cruzeiro. Conversei com
ele em Belo Horizonte. Estava impressionado com a seleção argentina, dirigida
por Bielsa, disparada, a melhor das Eliminatórias. A Argentina foi eliminada na
primeira fase do Mundial, e o Brasil foi campeão.
Felipão
organizou a equipe, na prancheta, da mesma maneira que a Argentina, com três
zagueiros, dois alas (Roberto Carlos e Cafu), um volante (Gilberto Silva), um
meia ofensivo (Juninho Paulista) e três na frente (Ronaldo, Ronaldinho e
Rivaldo).
Não
funcionou na primeira fase da Copa, porque os dois alas jogavam encostados à
lateral, e Juninho era mais um atacante, deixando Gilberto Silva sozinho no
meio-campo. A Argentina, nas Eliminatórias, era mais compacta, tinha dois alas
que atuavam ao lado do volante, como armadores, como costuma fazer hoje o
Manchester City.
Leia também: O espaço de cada um https://bit.ly/3n27IuA
Nas oitavas
de final, Felipão mudou, e o time melhorou, ao colocar Kleberson no lugar de
Juninho Paulista. Kleberson marcava como volante e avançava como meia.
Quase
fui campeão do mundo em 2002. Quando Leão foi demitido, o presidente da CBF,
Ricardo Teixeira, convidou-me para ser o diretor técnico. Eu escolheria o
treinador, que seria Felipão. Fiquei fascinado pelo convite, pelo cargo e pelo
desafio, e disse a ele que lhe daria a resposta no dia seguinte, mesmo já
sabendo que não aceitaria, porque não tinha nenhum apreço pela CBF e por Ricardo Teixeira, já acusado, na época, por trapaças.
Achava ainda que um dos motivos do convite era fazer um agrado, para diminuir
as críticas à entidade, pois eu era campeão do mundo como jogador e colunista
de um grande jornal.
Na
véspera da final da Copa de 2002, os jornalistas alemães presentes no centro de
imprensa me disseram que a finalista Alemanha era uma das piores da história do
país. O nível da Copa realmente não foi bom, o que não tira os enormes méritos
da seleção brasileira.
Depois
daquele Mundial, todos perceberam que era preciso melhorar, e começou uma
evolução no futebol, que nunca vai acabar. A Alemanha investiu na formação de
jogadores, na maneira de atuar, formou uma ótima geração, a do 7 a 1, e ganhou
em 2014. Mas a grande transformação foi feita no Barcelona, dirigido por
Guardiola, seguido pela seleção da Espanha, que, além de encantar, foi bicampeã
da Eurocopa, em 2008 e 2012, e campeã mundial, em 2010.
Hoje, as
equipes são mais compactas, atacam e defendem em bloco, com intensidade e
velocidade, pressionam quem está com a bola em todo o campo, os goleiros
aprenderam a jogar fora do gol e a dar bons passes, os meio-campistas atuam de
uma intermediária à outra, defendem, constroem e avançam, e tantos outros detalhes.
É outro futebol.
Por outro
lado, as regras básicas do futebol continuam as mesmas. Dizem que, há quase 150
anos, os ingleses, bebendo cerveja em um pub, decidiram, oficialmente, as
regras do jogo, como o tamanho do gramado, a marcação das linhas das áreas, do
meio-campo e do pênalti, o número de 11 jogadores para cada lado e muitas
outras coisas, que perduram, como a troca de passes, símbolo do futebol
coletivo, apesar de muitos insistirem até hoje em dar chutões para chegar
rapidamente ao gol.
.
As muitas
cores da vida https://bit.ly/3n47CDe
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