04 junho 2022

Tragédia urbana

A culpa é da chuva?

Marcelo Carneiro Leão*, no Jornal do Commercio

 

Estamos vivenciando neste momento na região metropolitana do Recife, umas das maiores tragédias socioambientais de nossa história. E de quem é a culpa?

Colocar a culpa na “coitada" da chuva é de uma superficialidade e simplificação inacreditáveis.

Precisamos refletir sobre as verdadeiras causas desta calamidade, e que infelizmente, se não fizermos este debate de forma responsável, profunda e corajosa, a cada ano esta situação se repetirá, e de forma ainda mais grave. As causas que precisam ser expostas e debatidas, na minha opinião, são principalmente duas.

A primeira, e que terá forte relação com a segunda, é a questão das agressões ambientais que nossa sociedade e nossos sistemas de produção têm feito como nosso planeta. O aumento da temperatura, a queima de combustíveis fósseis, os desmatamentos e todas as ações que estão destruindo o nosso ambiente.

A segunda, e que tem extrema relação com a primeira, é o modelo de sociedade baseada em um sistema que cada vez mais amplifica as desigualdades sociais. No caso desta tragédia, por que será que as pessoas que perderam suas casas e seus pertences, e até suas vidas, vivem em condições de vulnerabilidade socioeconômica, e não em bairros de classe média alta e das elites brasileiras?

Neste contexto, se quisermos de fato resolver, ou pelo menos mitigar esta questão, precisamos repensar nosso modelo de produção e consumo. Será que precisamos ampliar nossas fronteiras produtivas, incrementar cegamente o chamado “desenvolvimento econômico”, ou seria melhor trabalhar em um grande processo de distribuição de renda e riqueza existente em nosso planeta? Creio por exemplo, que não precisaríamos agredir mais nosso ambiente, na tentativa de aumentar a produção de alimentos, e sim distribuir de forma mais justa e com equidade estes alimentos existentes. Não podemos pensar um futuro da humanidade, onde 1% dos mais ricos, detenham mais de 50% da riqueza do mundo.

Enfim, a culpa não é da chuva, é do homem. Aliás do modelo de sociedade que a humanidade tem adotado. Precisamos colocar em pauta urgentemente, a discussão da possibilidade do não-desenvolvimento e da distribuição de renda e riqueza com forma de cuidado com o planeta e com a redução das desigualdades sociais.

*Professor titular e Reitor da UFRPE

Veja: A poesia em seus lugares e cores https://bit.ly/3BKdwhd

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