A culpa é da chuva?
Marcelo Carneiro Leão*, no Jornal do
Commercio
Estamos vivenciando neste momento na
região metropolitana do Recife, umas das maiores tragédias socioambientais de
nossa história. E de quem é a culpa?
Colocar a culpa na “coitada" da
chuva é de uma superficialidade e simplificação inacreditáveis.
Precisamos refletir sobre as
verdadeiras causas desta calamidade, e que infelizmente, se não fizermos este
debate de forma responsável, profunda e corajosa, a cada ano esta situação se
repetirá, e de forma ainda mais grave. As causas que precisam ser expostas e
debatidas, na minha opinião, são principalmente duas.
A primeira, e que terá forte relação
com a segunda, é a questão das agressões ambientais que nossa sociedade e
nossos sistemas de produção têm feito como nosso planeta. O aumento da
temperatura, a queima de combustíveis fósseis, os desmatamentos e todas as
ações que estão destruindo o nosso ambiente.
A segunda, e que tem extrema relação
com a primeira, é o modelo de sociedade baseada em um sistema que cada vez mais
amplifica as desigualdades sociais. No caso desta tragédia, por que será que as
pessoas que perderam suas casas e seus pertences, e até suas vidas, vivem em
condições de vulnerabilidade socioeconômica, e não em bairros de classe média
alta e das elites brasileiras?
Neste contexto, se quisermos de fato
resolver, ou pelo menos mitigar esta questão, precisamos repensar nosso modelo
de produção e consumo. Será que precisamos ampliar nossas fronteiras
produtivas, incrementar cegamente o chamado “desenvolvimento econômico”, ou
seria melhor trabalhar em um grande processo de distribuição de renda e riqueza
existente em nosso planeta? Creio por exemplo, que não precisaríamos agredir
mais nosso ambiente, na tentativa de aumentar a produção de alimentos, e sim
distribuir de forma mais justa e com equidade estes alimentos existentes. Não
podemos pensar um futuro da humanidade, onde 1% dos mais ricos, detenham mais
de 50% da riqueza do mundo.
Enfim, a culpa não é da chuva, é do
homem. Aliás do modelo de sociedade que a humanidade tem adotado. Precisamos
colocar em pauta urgentemente, a discussão da possibilidade do
não-desenvolvimento e da distribuição de renda e riqueza com forma de cuidado
com o planeta e com a redução das desigualdades sociais.
*Professor titular e Reitor da UFRPE
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