15 julho 2022

Palavra de poeta: Adalberto Monteiro

Desculpa, moço

Adalberto Monteiro*
 
Vinha veloz na avenida
Driblando e saltando obstáculos
Talvez correndo para pegar 
Uma pipa que desabava,
Pois em julho venta muito por aqui. 
Tinha uns 8, 9, vá lá, quando muito 
Uns 10 anos. 
Na verdade, um fugitivo.
Na calçada, acossado por uma moto
Levou as mãos ao alto. 
- Os bracinhos finos como os galhos 
De uma infante árvore do Cerrado—
Trêmulo, acuado, infantilmente, 
Pediu desculpas e devolveu
O objeto do furto.
E saiu pela calçada, 
A criança “parda”, 
Chinelo de dedo, bermudinha preta,
E uma camiseta branca surrada de algodão.
 
[Ilustração: Neves e Souza]
 
*Jornalista, poeta
Veja: A poesia em seus lugares e cores https://bit.ly/3BKdwhd     

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