09 julho 2022

Primazia da técnica

Só se fala em intensidade, mas é preciso ter talento

Há partidas intensas e péssimas, cheias de chutões e cruzamentos
Tostão, Folha de S. Paulo

 

Nesta época de contratações e de saídas de jogadores, a superioridade dos que chegam é evidente sobre os que partem, o que melhora a eficiência das equipes brasileiras. Porém, para dar um salto de qualidade, é essencial mudar o calendário. Todos reclamam, e tudo continua na mesma, porque quem lucra com tantos jogos não quer mudanças.

Por causa do equilíbrio entre as equipes, as previsões correm grandes riscos de dar errado, embora a tendência seja que PalmeirasAtlético e Flamengo, que possuem os melhores elencos, cresçam durante o Brasileirão.

No momento, a equipe que mais agrada na maneira de jogar é o Fluminense, dirigido por Fernando Diniz. A aproximação dos jogadores no meio-campo, pelo centro e pelos dois lados, mantém uma superioridade numérica sobre o adversário, para trocar passes, ter o controle da bola e do jogo e envolver o adversário. Ganso tem, no Fluminense, as condições para fazer o que sabe, com toques curtos e inteligentes, que enganam a marcação.

Obviamente, falta a Ganso a intensidade, uma qualidade essencial no futebol moderno, mas que está sendo excessivamente valorizada, tratada como fetiche. Só se fala em intensidade. Não basta ser intenso. É preciso ter talento, ainda mais no meio-campo, local de construção de jogadas. A intensidade associada ao número excessivo de jogos, como ocorre no Brasil, facilita também as contusões, cada dia mais frequentes.

Na segunda-feira, na vitória do Botafogo sobre o Bragantino, por 1 a 0, o jogo foi intenso e péssimo, somente com chutões, bolas longas e cruzamentos para a área. O gol só poderia ter saído em uma bola espirrada, após uma jogada aérea.

Além da intensidade, outra palavra-chave no futebol moderno é espaço. Explica tudo. O Santos, na derrota para o Flamengo, avançava o meio-campo e deixava um enorme espaço entre o setor e a defesa. Éverton Ribeiro, atuando mais pelo centro, deitou e rolou.

Uma enorme dificuldade das equipes brasileiras é ser compactas, por erros dos treinadores, que erram e acertam, o que não significa que os erros e os acertos sejam as razões das vitórias e das derrotas. Repito, pela milésima vez, um dos motivos da intensa troca de comando das equipes é a supervalorização dos treinadores, pelos torcedores, pelos dirigentes e pela imprensa, como se tudo o que acontecesse em um jogo fosse por causa da conduta dos técnicos.

Na vitória do Fluminense sobre os reservas do Corinthians, por 4 a 0, Fred entrou no fim e fez um gol, ao seu estilo. No sábado, contra o Ceará, será a despedida oficial dos gramados. Fred merece muitos aplausos. Foi um grande artilheiro, excelente centroavante, só inferior aos maiores craques da posição na história do futebol brasileiro, como Ronaldo, Romário, Coutinho e Reinaldo.

ESTILOS

O grande escritor Milan Kundera, ao se mudar, ainda jovem, para a França, disse que ficou impressionado com as diferenças de comportamento entre a média das pessoas na República Tcheca, mais espontâneas, emotivas e alegres, e os parisienses, mais reflexivos, introvertidos e formais.

Dizem que Neymar vai sair do PSG. A causa principal seria a antipatia e as críticas dos franceses ao jogador, pelo estrelismo e distanciamento da cultura francesa. Ocorreu o contrário com Raí, que brilhou na França, também pelo PSG, na época em que o clube não era tão poderoso. Se Raí tivesse tanto talento quanto Neymar, teria uma estátua na Champs-Élysées.

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