Área desmatada na Amazônia em 1 ano é maior que a Grande São Paulo
Acumulado representa queda
de 2% em relação ao mesmo período de 2020 a 2021; taxa é a terceira maior da
série do Deter iniciada em 2015
Phillippe Watanabe, Folha de S. Paulo
A Amazônia completou mais um
período de elevada destruição. De agosto de 2021 até julho de 2022, foram
derrubados 8.590,33 km² do bioma, área maior que a da Grande São Paulo. A taxa
é a terceira maior do histórico recente do Deter, iniciado em 2015.
A
ferramenta do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mede o
desmatamento praticamente em tempo real. O novo dado só fica atrás de 2019-2020
e de 2020-2021, respectivamente o primeiro e o segundo ano com maiores
desmates, segundo o Deter.
A
nova taxa de desmate foi divulgada na manhã desta sexta-feira (12) pelo Inpe.
Os
novos números deixam ainda mais consolidados os patamares altíssimos de
desmatamento alcançados durante o governo Jair Bolsonaro (PL).
O
Deter não tem a função de mensuração precisa de desmatamento. Para isso, o Inpe
possui o Prodes, sistema com maior precisão que divulga os dados de desmate
—computados sempre de agosto de um ano a julho do ano seguinte— nos últimos
meses do ano. Mesmo assim, a partir do Deter, cujo objetivo primário é o
auxílio a operações de combate ao desmate, é possível ver se há tendências de
queda, manutenção ou subida de destruição, conforme passam os meses.
E
os meses amazônicos, desde o início do governo Bolsonaro, foram marcados por
recordes de derrubada de floresta.
Com
exceção do mês de dezembro, os recordes de desmatamento do Deter de todos os
outros meses ocorreram sob Bolsonaro. Ou seja, sua administração tem quase um
ano inteiro de recordes de desmate.
Só
no ciclo mais recente (agosto/21 até julho/22) foram cinco meses com os números
mais elevados de destruição já vistos para aqueles meses: outubro (876,56 km²),
janeiro (430,44 km²), fevereiro (198,67 km²), abril (1.026,35 km²) e junho
(1.120,2 km²).
Vale
mencionar, porém, que o histórico recente do Deter tem início em agosto 2015. O
sistema anterior possuía resolução inferior e acabou substituído.
Levando
em conta dados do Deter, já foram derrubados mais de 31 mil km² de Amazônia
desde o início do governo Bolsonaro, em 2019. Isso equivale a, aproximadamente,
mais de 720 km² de floresta indo ao chão mensalmente, o que representa mais de
450 parques Ibirapuera destruídos todo mês.
O
valor é consideravelmente superior ao que se via em mandatos presidenciais
anteriores. De agosto de 2015 (início do novo Deter) até o afastamento da
presidente Dilma Rousseff (PT) pela abertura do
processo de impeachment, em maio de 2016 (nove
meses), foram derrubados cerca de 364 km² de Amazônia por mês.
Nos
32 meses do governo de Michel Temer (MDB), já levando
em conta os meses de afastamento de Dilma, foram desmatados cerca de 420 km² de
Amazônia por mês.
O
desmatamento na Amazônia já vinha crescendo antes de 2019, mas explodiu após a
entrada de Bolsonaro no Palácio do Planalto. Antes mesmo de assumir a
Presidência, ainda no período eleitoral, Bolsonaro já iniciou um discurso que
condenava a fiscalização ambiental e citava uma suposta "indústria da
multa", nunca comprovada pelo presidente. Quando ainda era deputado
federal, em 2012, Bolsonaro foi multado por pesca
ilegal em Angra dos Reis (RJ). O servidor que multou o então deputado
foi exonerado após a posse de
Bolsonaro e a multa, considerada prescrita.
Bolsonaro chegou também a desautorizar operação
de combate ao desmate em andamento. No primeiro ano de governo, conforme dados
do Deter apontavam uma disparada na destruição, o presidente questionou a qualidade do trabalho do Inpe, afirmando que o então
diretor do instituto, Ricardo Galvão (agora pré-candidato a deputado federal pela Rede
Sustentabilidade), poderia estar a "serviço de alguma ONG".
Galvão respondeu ao ataque sofrido
e acabou deixando o Inpe.
Junto
ao desmatamento cresceram também as queimadas. As duas ações são interligadas:
de forma geral, primeiro derrubam a mata, a deixam secar e, em seguida, no
período seco da Amazônia, queimam a área desmatada.
As
chamas e as derrubadas crescentes e as fiscalizações e multas no caminho
contrário voltaram a atenção internacional ao Brasil, que passou a ser
fortemente criticado pela atual gestão ambiental e viu reduzido o seu
protagonismo na área.
Aos
olhos internacionais, o desmatamento se torna um fator importante pela
crescente preocupação com linhas de produção contaminadas com crimes
ambientais, o que põe em risco o acordo do Mercosul com a União Europeia.
Entra
em jogo também a maior aflição mundial com a crise climática. No Brasil, o
desmatamento é a maior fonte de gases-estufa, responsáveis pelo
aquecimento anormal no planeta.
O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society
Foundations.
Leia
também: A floresta sumiu, ninguém sabe, ninguém viu https://bit.ly/3AByP7C
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