Imagens de satélite mostram plataforma de gelo da Antártida
desmoronando mais rápido do que se pensava
A perda líquida da camada de
gelo do continente apenas por desprendimento nos últimos 25 anos é quase do
tamanho da Suíça
Steve Gorman, Folha de S. Paulo
As
geleiras no litoral da Antártida estão desprendendo
icebergs mais rapidamente do que a natureza consegue repor o gelo, duplicando
as estimativas anteriores de perdas da maior plataforma de gelo do mundo nos
últimos 25 anos, conforme mostrou uma análise de satélite nesta semana.
O
primeiro estudo desse tipo, liderado por pesquisadores do Laboratório de
Propulsão a Jato (LPJ) da Nasa perto de Los
Angeles e publicado na revista Nature, levanta uma nova preocupação sobre a
velocidade com que as mudanças climáticas estão enfraquecendo
as plataformas de gelo flutuantes da Antártida e acelerando o aumento global
dos níveis do mar.
A
principal descoberta do estudo foi que a perda de pedaços das geleiras
costeiras da Antártida que se soltam no oceano é quase igual à quantidade de
gelo que os cientistas já sabiam que é perdida com o afinamento das plataformas
de gelo inferiores causado pelo aquecimento do mar e o derretimento.
Juntos,
o desbaste e o desprendimento reduziram a massa das plataformas de gelo da
Antártida em 12 trilhões de toneladas desde 1997, o dobro da estimativa
anterior, concluiu a análise.
A
perda líquida da camada de gelo do continente apenas por desprendimento no
último quarto de século abrange uma área aproximada de 37 mil quilômetros
quadrados, quase o tamanho da Suíça, de acordo com o
cientista do LPJ Chad Greene, principal autor do estudo.
"A
Antártida está desmoronando em suas bordas", disse Greene em um anúncio da
Nasa sobre as descobertas. "E quando as plataformas de gelo diminuem e
enfraquecem, as enormes geleiras do continente tendem a acelerar o derretimento
e aumentar a taxa de elevação global do nível do mar."
As
consequências podem ser enormes. A Antártida contém 88% do potencial de nível
do mar de todo o gelo do mundo, disse ele.
As
plataformas de gelo, camadas flutuantes permanentes de água doce congelada
presas à terra, levam milhares de anos para se formar e agem como contrafortes
segurando geleiras que, de outra forma, deslizariam facilmente para o oceano,
fazendo com que os mares subissem.
Quando
as plataformas de gelo são estáveis, o ciclo natural de longo prazo de
desprendimento e recrescimento mantém seu tamanho razoavelmente constante.
Nas
últimas décadas, porém, o aquecimento dos oceanos enfraqueceu as plataformas
por baixo, fenômeno anteriormente documentado por altímetros de satélite que
medem a mudança da altura do gelo e mostram perdas em média de 149 milhões de
toneladas por ano de 2002 a 2020, segundo a Nasa.
IMAGENS DO ESPAÇO
Para
essa análise, a equipe de Greene sintetizou imagens de satélite de comprimentos
de onda visíveis, infravermelho térmico e radar para mapear o fluxo glacial e o
desprendimento desde 1997 com maior precisão do que nunca em 50 mil quilômetros
da costa antártica.
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As
perdas medidas ultrapassaram a reposição natural das plataformas de gelo de tal
forma que os pesquisadores acharam improvável que a Antártida possa recuperar
os níveis das geleiras anteriores a 2000 até o final deste século.
O
desprendimento glacial acelerado, assim como o afinamento do gelo, foi mais
pronunciado na Antártida Ocidental, área mais atingida pelo aquecimento das
correntes oceânicas. Mas mesmo no leste da Antártida, região cujas plataformas
de gelo eram consideradas menos vulneráveis, "estamos vendo mais perdas do
que ganhos", disse Greene.
Um
evento de desprendimento na Antártida Oriental que pegou o mundo de surpresa
foi o colapso e a desintegração
da enorme plataforma de gelo Conger-Glenzer em março, possivelmente um sinal
de maior enfraquecimento futuro, disse Greene.
Eric
Wolff, professor de pesquisa na Royal Society da Universidade de Cambridge,
apontou para a análise do estudo sobre como a camada de gelo da Antártida
Oriental se comportou nos períodos quentes do passado e modelos do que pode
acontecer no futuro.
"A
boa notícia é que, se mantivermos os 2 graus de aquecimento global que o Acordo de Paris promete, o aumento
do nível do mar devido à plataforma de gelo da Antártida Oriental deverá ser
modesto", escreveu Wolff em um comentário sobre o estudo do LPJ.
Se
falharmos em limitar as emissões de gases do efeito estufa, entretanto, poderá
haver "muitos metros de aumento do nível do mar nos próximos
séculos", disse ele.
Janelas abertas para o mundo https://bit.ly/3n47CDe
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