Varíola dos macacos: apesar de óbitos em
Brasil e Espanha, mortes pela doença são raras
Nos últimos dias, as quatro primeiras mortes
relacionadas ao monkeypox, vírus causador da doença conhecida popularmente como
varíola dos macacos, foram confirmadas fora do continente africano.
BBC Brasil
A primeira delas
aconteceu no Brasil, outras duas ocorreram na Espanha e nesta segunda-feira
(1), um óbito foi confirmado na Índia.
Pelo que se sabe até
agora, o monkeypox causa um quadro autolimitado, que se resolve em duas a
quatro semanas, e mais de 99% dos pacientes infectados se recuperam bem.
Mas existem alguns grupos — crianças menores de oito anos,
pacientes com sistema imunológico comprometido, indivíduos com histórico de
doenças inflamatórias de pele, gestantes e lactantes — que correm um risco
maior de desenvolver complicações mais graves.
Primeiros óbitos
Até o dia 28 de junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
contabilizava cinco mortes relacionadas ao surto atual. Todas elas haviam
acontecido em países africanos, onde a doença é endêmica.
Os três primeiros óbitos fora da África foram confirmados na
sexta-feira (29/7), no sábado (30/7) e nesta segunda-feira (1).
No Brasil, o Ministério da
Saúde anunciou que um homem de 41 anos, que havia sido
diagnosticado com monkeypox, morreu em Belo Horizonte (MG).
Em nota, o ministério detalhou que tratava-se de um paciente
"imunossuprimido, com outras comorbidades relevantes e histórico de
tratamento quimioterápico".
Mais tarde, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que o
paciente tinha linfoma, um tipo de câncer que afeta partes do sistema
imunológico.
Horas depois, o governo da Espanha também revelou a morte de
dois pacientes que estavam com a doença.
De acordo com
reportagem do El País, a causa do óbito de ambos foi a encefalite,
um tipo de inflamação no cérebro que pode ser a consequência de uma infecção
viral.
O texto diz que as vítimas são "homens jovens" e
afirma que investigações estão em andamento para entender melhor as razões do
agravamento e da morte deles.
Já na Índia, a morte de um homem de 22 anos foi o primeiro óbito
pela doença confirmado na Ásia.
Número abaixo do
esperado
Por ora, as mortes relacionadas ao monkeypox são consideradas
raras.
"Se a gente analisar a taxa de mortalidade do surto atual,
ela fica bem abaixo de 1%", calcula a infectologista Mirian Dal Ben, do
Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
De acordo com o portal Our World In Data, já foram
confirmados mais de 21 mil casos da doença até o momento e, como mencionado
anteriormente, são oito mortes até agora.
Falamos, portanto, de uma taxa de 0,0003% — ou uma morte a cada
2,6 mil indivíduos que testaram positivo.
Esses números estão bem abaixo das estimativas anteriores. A própria OMS calcula que, em surtos
ocorridos no passado em alguns países africanos, a letalidade da doença variava
entre 3 e 6%.
Essa redução da taxa de mortalidade observada até o momento está
relacionada a dois fatores principais. Primeiro, a falta de informações
precisas e detalhadas sobre a endemia de monkeypox que ocorre há décadas em
diversos países africanos.
"Talvez, na África, a doença já tivesse uma manifestação
mais branda. Mas, como são países pobres e falamos aqui de uma doença
negligenciada, é possível que apenas os casos mais graves chamassem a atenção
das autoridades", raciocina o médico Alexandre Naime Barbosa,
vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
"Agora que o vírus atingiu países mais ricos, que têm
sistemas de notificação e testagem maiores, tornou-se possível conhecer com
detalhes a doença e suas manifestações, mesmo nos casos mais leves",
complementa o especialista, que também é professor da Universidade Estadual
Paulista (Unesp).
O segundo ponto tem a ver com o tipo de vírus que está
circulando com mais intensidade fora da África. Pelo que se sabe até agora,
existem dois clados (ou subtipos) principais do monkeypox: a versão da Bacia do
Congo e a da África Ocidental.
Leia também: Por que a OMS declarou
varíola dos macacos como emergência de saúde pública internacional? https://bit.ly/3cEFFPD
Esses nomes,
inclusive, têm sido alvo de muitas críticas de especialistas, que pedem para
que as instituições internacionais utilizem nomenclaturas mais neutras, para
não estigmatizar algumas regiões ou os seus moradores (a exemplo do que foi
feito na pandemia de covid-19, em que foram adotadas letras gregas para nomear
as variantes do coronavírus).
"O da Bacia do Congo tem uma mortalidade maior, que pode
chegar até a 6% dos casos", calcula Dal Ben.
"Mas o subtipo que está por trás da maioria das infecções
fora da África é a da África Ocidental, em que a mortalidade é menor que
1%", diz.
Quem tem mais risco
O Centro de Controle e
Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos esclarece que as
infecções com o subtipo de monkeypox identificado no surto atual são raramente
fatais.
A entidade reforça que mais de 99% das pessoas vão desenvolver
as formas leves da doença e ficarão bem depois de algumas semanas.
Há, porém, quatro grupos em que a doença pode ser mais grave e
há um risco maior de morte. São eles:
- Pessoas com o sistema imune
enfraquecido;
- Crianças com menos de oito
anos;
- Pessoas com histórico de
doenças inflamatórias na pele;
- Gestantes e lactantes.
Nesses indivíduos, as células de defesa podem não estar
suficientemente preparadas para lidar com o vírus.
"Com isso, o monkeypox deixa de acometer apenas a pele, com
a formação das lesões e feridas, e chega a comprometer órgãos vitais, como os
pulmões e o cérebro", detalha Barbosa.
Entre as possíveis
complicações da doença nas crianças, o CDC cita quadros
como encefalite (apontada como a causa das duas mortes na Espanha), pneumonia,
sepse e obstrução respiratória pelo inchaço dos vasos linfáticos, além de
inflamações na pele e nos olhos.
Que fique claro: pelo visto até agora, esses episódios são raros
e costumam acontecer com mais frequência quando o indivíduo é acometido pelo
subtipo da Bacia do Congo, que não é o monkeypox responsável pelo surto atual
em várias partes do mundo.
No momento, de acordo com um estudo britânico publicado no
final de julho, cerca de 13% dos pacientes diagnosticados com
monkeypox precisaram ficar internados.
As principais causas de hospitalização foram dor severa no ânus
e no reto, infecções oportunistas e, mais raramente, faringite, lesões
oculares, crise renal aguda e miocardite (um tipo de inflamação que afeta o
coração).
Como proteger a si e aos outros
O primeiro passo é ficar atento aos sintomas e buscar a
avaliação médica se eles aparecerem.
"Qualquer lesão que comece com um edema ou uma pequena
vermelhidão e evolua para uma placa, tenha líquido, forme ferida e crostas,
pode ser monkeypox", descreve Barbosa.
Essas manifestações podem aparecer no ânus, nos genitais, no
rosto e nas mãos.
"A lesão também pode ser acne, herpes, herpes-zóster ou uma
série de outras coisas. Mas, na dúvida, é importante procurar atendimento
médico e fazer um teste", complementa.
Caso o exame confirme a presença desse agente infeccioso, os
profissionais de saúde recomendam fazer um isolamento e evitar o contato
próximo com outras pessoas até que as feridas estejam completamente
cicatrizadas (mesmo a casquinha delas ainda carrega vírus).
Ao limitar a interação e o compartilhamento de objetos de uso
pessoal, o paciente diminui o risco de transmitir o vírus adiante e evita a
criação de novas cadeias de contágio na comunidade.
Alguns países, como Reino Unido, Espanha e Estados Unidos, já
iniciaram campanhas de vacinação contra o monkeypox, mas ainda não há previsão
de quando as primeiras doses devem chegar ao Brasil.
Por ora, não está claro se a camisinha ajuda a proteger contra esse vírus — embora o uso de preservativos continue a ser primordial para impedir a transmissão de várias infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como HIV, sífilis, gonorreia e algumas hepatites.
Leia também: Embora a situação seja atípica, as chances da varíola dos macacos se tornar uma pandemia são pequenas pela baixa capacidade de transmissão do vírus https://bit.ly/3b7qaj2
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