MITOS DO MITO: CULTO À IGNORÂNCIA
Religião e eleição, normalmente, é mistura explosiva. Certamente porque crença
e política foram a mesma coisa ancestralmente, sendo o deífico usado para o
exercício do poder nas comunidades primitivas. Sem as tábuas mosaicas a
sociedade hebraica não teria permanecido unida e capaz de enfrentar tantas
provações ao longo dos séculos, assim como sem seus panteões de deuses, deusas
e semideuses a civilização greco-romana não teria se organizado, nem o fulgor
faraônico teria brilhado no delta do Nilo sem as normas tidas como ditadas
pelas divindades meio humanas/meio animais.
Nas eleições modernas, as religiões seguem jogando papel importante e, em pleno
Século XXI, salvo raríssimas e notáveis exceções, não há candidatura que não
apele para a ajuda de seu Deus. No passado, reis e rainhas chegaram a se
deificar, como no Egito antigo ou em certo período do Império Romano. O
imperador do Japão era celestial até a segunda bomba atômica pipocar em solo
nipônico, em 1945. E agora um ser tido como demoníaco aparece na soleira do
templo de fel de Jair Messias, agitando o debate.
Não deveria surpreender, mas surpreende, a presença do velho e supostamente mau
Baphomet (Bafomé) na campanha. Esse ser sobrenatural foi inventado na Idade
Média, na primeira década do século XIV e veio ao mundo dos vivos para
justificar a morte dos Cavaleiros Templários, poderosa ordem monástica/militar
que praticou horrores em nome do Cristianismo na chamada Terra Santa e foi
depois levada em massa à fogueira com aval do Santo Padre Clemente V, em 1314.
O nome foge das denominações usuais dos demônios judaicos/cristãos, pois foi
criado para lembrar Maomé (Memehet) numa difamação ao Islamismo, termo
posteriormente convertido em sinônimo do conhecimento do oculto.
Justiça seja feita, o demo Bafomé nunca foi uma figura tão pecaminosa como o
vigarista que hoje usa a faixa verde-amarela. Ambos mitos. Mas sua chegada ao
pedaço serve para lembrar que o ex-capitão nada tem a ver com o Cristianismo.
Todas as falas e gestos de Jair, ao longo de sua vida pública, são de pura
contestação ao Novo Testamento. Incompatibilidade absoluta. Na verdade, a
práxis (perdoem o termo) bolsonarista não se enquadra em nenhum dos escritos
sagrados mais conhecidos, seja do Cristianismo, seja Judaísmo, Islamismo,
Budismo, Xintoísmo, Xamantismo, ou qualquer outra crença em alguma divindade
justa e misericordiosa. O bolsonarismo é puro ódio, arrogância e culto à
ignorância.
Leia também: Urnas eletrônicas nota 10
deixam de ser mote golpista https://bit.ly/3MdNPfB
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