O TSE está sob ataque
Na virada do primeiro para
o segundo turno, uma máquina descentralizada de desinformação entrou em
atividade máxima
Pedro Dória, O Globo
Esta eleição presidencial de 2022 é, muito
provavelmente, a mais importante desde aquela que, feita no interior do
Congresso Nacional e sem o voto popular, elegeu Tancredo Neves para um mandato
que, é nossa tragédia nacional, ele não pôde cumprir. Não está em jogo apenas a
manutenção do Brasil como democracia liberal. Está em jogo também a
possibilidade de reconstruirmos nossa democracia — porque ela está fissurada.
E, neste segundo turno, implantou-se o caos informativo.
Neste exato momento, o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) está sob um nível tal de ataques que já fica clara a
estratégia bolsonarista de tentar uma ação golpista em caso de derrota nas
urnas. Um pastor evangélico popular, André Valadão, divulgou nas redes para quase
7 milhões de seguidores um vídeo em que se “retratava” afirmando que o
ex-presidente Lula não é a favor do aborto. Afirmava que havia recebido
intimação com ordens do ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE.
Mentira. Não houve qualquer ordem.
Há também uma imensa onda de indignação por o TSE ter censurado a rádio
Jovem Pan, espécie de Fox News bolsonarista. A história é bem mais complicada.
Primeiro porque não há, como circula nas redes sociais, um censor como aqueles
do tempo da ditadura instalado em sua redação.
O TSE atendeu a um pedido de direito de resposta por acusações feitas
contra Lula — o que é corriqueiro mesmo em tempos não eleitorais. Os
jornalistas foram proibidos de afirmar que Lula foi condenado. Porque,
juridicamente, as condenações deixaram de existir.
A decisão precisa ser compreendida num contexto. Na quarta-feira, o
mesmo TSE tirou da campanha de Bolsonaro e entregou à de Lula um total de 226
inserções da publicidade gratuita como direito de resposta. Quase metade
daquilo a que o presidente teria direito. A maioria delas trata do mesmo tema:
a prisão de Lula. E é difícil distinguir, na Jovem Pan, o que é jornalismo e o
que é publicidade governista.
Outro veículo que acusa censura é a produtora Brasil Paralelo, que faz
documentários históricos em geral manipulados, com viés de extrema direita. O
TSE ordenou que fosse desmonetizada — isso simplesmente quer dizer que não pode
ganhar dinheiro com a publicidade veiculada em espaços como YouTube. E, este é
o ponto complicado, proibiu o lançamento antes do dia 30 do filme “Quem mandou
matar Jair Bolsonaro?”. O filme poderá ser veiculado. Mas depois da eleição.
Leia também: Incômodas verdades de um boquirroto https://bit.ly/3MCEdLA
De acordo com a investigação da Polícia Federal, Adélio Bispo tentou
matar o presidente agindo por conta própria. É um homem doente e profundamente perturbado.
Existe uma máquina descentralizada de desinformação implantada no país.
Na virada do primeiro para o segundo turno, ela entrou em atividade máxima. Não
temos como mensurar o aumento dos disparos por WhatsApp nas últimas semanas,
mas foram em muito ampliados. Há uma rede de empresários que ajudam nesse
financiamento, de acordo com as investigações feitas no âmbito do inquérito das
fake news. E parte do dinheiro vem pela propaganda via grandes audiências em
plataformas sociais. A principal mensagem da campanha negativa governista se
concentra na acusação de corrupção de Lula. É hipócrita, pois ignora
rachadinhas, imóveis comprados em dinheiro vivo e os rios de dinheiro desviados
do orçamento secreto. E distorce ao ignorar que, gostem ou não seus adversários,
a Justiça já deu a palavra final. Lula nada deve a ela. Bolsonaro deve.
Como se controla desinformação feita em guerrilha num pleito onde a
democracia está em jogo, e o outro lado não tem qualquer pudor? Enquanto gritam
censura, afinal, lutam para censurar pesquisas.
Leia também: Fake news sobre urnas,
pesquisas e TSE dominam retórica da mentira https://bit.ly/3BQHoup
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