Que tipo de polícia o resgate do Brasil exigirá?
Quem é a delegada goiana, única policial de esquerda eleita para
o Congresso. O que propõe diante do sequestro da segurança pública pela
ultradireita. Por que mudança passa pelo combate ao racismo e nova relação com
as comunidades
Adriana Accorsi em entrevista a Jeniffer Mendonça na Ponte Jornalismo
A Ponte mostrou,
nesta terça-feira (5/10), que o número de policiais eleitos à Câmara dos
Deputados aumentou para 37 nas eleições de 2022 em relação aos 25 que
conseguiram uma cadeira no pleito de quatro anos atrás. Dentre eles, um nome se destaca pela divergência na
posição ideológica e pelo partido: Delegada Adriana Accorsi (PT-GO). Ela é a
única do campo da esquerda que se elegeu a deputada federal em relação aos
colegas provenientes de legendas de extrema-direita e direita.
Não é novidade que, historicamente, existam menos policiais no
espectro político que a delegada compartilha. Para uma perspectiva eleitoral,
de acordo com levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, das
1.888 candidaturas de policiais e membros das Forças Armadas em todo o Brasil,
3,8% tinham posição de centro-esquerda e 1,4% de esquerda. De 56 policiais
eleitos nas assembleias estaduais, cinco são de centro-esquerda: Delegado
Inacio (PDT-AP), Delegada Gleide Angelo (PSB-PE), Delegada Martha Rocha
(PDT-RJ), Leonel Radde (PT-RS) e Moisemar Marinho (PSB-TO).
“O Congresso já tinha uma composição extremamente de direita e
eu acho que eles conseguiram se fortalecer para essa nova legislatura”,
lamentou a delegada em entrevista à Ponte.
“Ainda tem um resquício da ditadura militar que trouxe todo um pensamento de
que a esquerda, os movimentos sindicais, são subversivos, que eles são contra o
governo e que a polícia tem o dever de combater esses movimentos sociais e
movimentos sindicais”, diagnostica.
“A gente também suscita um ódio maior dos extremistas de direita
porque eles acreditam que é inadmissível uma pessoa ser policial e ser de
esquerda, o que eu discordo totalmente. A segurança pública é um direito
humano, é um direito das pessoas. É totalmente possível você ser policial e
defensor dos direitos humanos, ser legalista, cumprir e defender a Constituição
Federal.”
Antes de ser delegada, Adriana foi militante do PT desde cedo.
Seu pai, o professor e ex-prefeito de Goiânia Darci Accorsi, foi um dos
fundadores do partido no estado, o que, para ela, já trouxe uma consciência da
condição da profissão enquanto classe trabalhadora, ponto que ela reforça ser
essencial para dialogar com a categoria.
“É toda uma construção que a gente precisa refazer, de diálogo,
de respeito à segurança pública como uma área imprescindível à vida das
pessoas, de incluir os trabalhadores da segurança como classe trabalhadora.
Isso tanto da parte da esquerda, mas também por parte dos próprios agentes de
segurança pública se verem como classe trabalhadora”, afirma.
Há 23 anos da Polícia Civil, Adriana foi delegada-geral da corporação
em 2011, ocupou a pasta da Secretaria Municipal de Defesa Social de Goiânia em
2013 e, no ano seguinte, foi eleita pela primeira vez deputada estadual, sendo
a quinta mais votada entre os 41 que ocupam a assembleia. Está no segundo
mandato e decidiu disputar a Câmara a fim de “ter mais influência para a gente
ter uma segurança pública que proteja a vida das pessoas”. Entre os 17
deputados federais de Goiás, foi a sexta com a maior votação.
O estado é o terceiro com a maior taxa de letalidade policial por
100 mil habitantes em 2021, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. A
polícia de Goiás matou 8 pessoas por habitante no ano, atrás apenas de Amapá
(17,1) e Sergipe (9), e próximo do Rio de Janeiro (7,8). Cerca de 30% de todas
as mortes violentas no estado foram praticadas pelas polícias. Além disso, o
atual governador Ronaldo Caiado (União Brasil), alinhado ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), foi
reeleito no 1º turno com 51,1% dos votos.
Ela aponta como positivo o aumento da bancada do PT na Câmara,
de 54 para 68 deputados, mas se esquiva de pautas que colegas de partido, como
o do investigador e vereador de Porto Alegre Leonel Radde, eleito a deputado
estadual do Rio Grande do Sul, defendem, como a desmilitarização das polícias,
e que a ideia é reforçar o diálogo e valorização profissional de outras formas.
“Não há um radicalismo do plano de governo do presidente, do Partido dos
Trabalhadores, dos partidos que compõem a coligação contra as forças de
segurança ou desmonte de força de segurança”, sentencia.
Leia a entrevista.
Ponte — Você é a única policial no campo da esquerda que foi
eleita entre os 37 integrantes vindos da segurança pública para o Congresso
Nacional. Como vê esse resultado?
Delegada Adriana Accorsi — É
de fato é um grande desafio. O Congresso já tinha uma composição extremamente
de direita e eu acho que eles conseguiram se fortalecer para essa nova
legislatura. Mas nós também nos mobilizamos. A esquerda também se mobiliza, o
Partido dos Trabalhadores também conseguiu aumentar bastante a bancada [de 54
para 68] e, dentre essas vitórias, nós temos a nossa vitória no Congresso
Nacional. Em âmbitos estaduais, outros policiais que venceram também, policiais
da esquerda, como o Leonel Radde [do PT, na assembleia do Rio Grande do Sul]. É
um movimento que existe e que vem se fortalecendo em todo o país.
Desde a ditadura militar, as forças de segurança brasileiras têm
se identificado muito com o espectro de direita, contra as mobilizações de
esquerda. Como [se a esquerda] fosse algo ilícito, algo subversivo, os próprios
movimentos sindicais. E a gente vem trabalhando essa questão com uma visão de
uma polícia cidadã, democrática, que defende os direitos das pessoas, né? De
proximidade com o cidadão, comunitária. E tivemos várias experiências nesse sentido
no Brasil, inclusive eu fui chefe da Polícia Civil de Goiás e também chefe da
Secretaria de Defesa Social e chefe da Guarda Civil Metropolitana [de Goiânia].
Então a gente defende uma política de segurança pública
democrática e defensora dos direitos humanos. Isso é perfeitamente possível e
nós temos um movimento grande no Brasil. E eu vejo a minha vitória como vitória
desse movimento, desse pensamento, e acredito que será uma grande luta no
Congresso Nacional. De toda a forma, esse novo mandato de presidente, de
deputados e deputadas, de parlamentares será uma grande luta porque o
acirramento político no Brasil vai continuar. Mas eu acredito que a eleição do
presidente Lula pode iniciar um processo de pacificação no país, de diminuição
dessa política de ódio tão grande. E isso influencia na questão da segurança
pública que tem um papel fundamental nessa paz social, de ter também
instituições que trabalhem na garantia de direitos. Acho que esse é um grande
diferencial que nós colocamos: entre os policiais que defendem o governo
Bolsonaro e os policiais que defendem a democracia e um governo democrático.
Ponte — Inclusive, você sofreu ameaças durante a campanha deste ano, em agosto, nas
redes sociais.
Delegada Adriana Accorsi — Isso.
Na verdade, desde o início da ascensão desse movimento bolsonarista, eu tenho
sido alvo de ameaças. Fui candidata a prefeita pelo Partido dos Trabalhadores
aqui em Goiânia na capital de Goiás. Fui a terceira mais bem votada e fui
ameaçada e a minha família também. Destaco que sou delegada há quase 23 anos e
já fui ameaçada muitas vezes, mas nunca a minha família. As minhas filhas foram
ameaçadas nesse contexto político de ódio que a gente vive. E a gente precisa
trabalhar no sentido de superar essa política de tanto ódio, de morte, de
desejar a morte das pessoas que pensam diferente da gente.
Ponte — Essas pessoas que fizeram ameaças já foram identificadas
e responsabilizadas?
Delegada Adriana Accorsi — Nesse
caso da ameaça direta às minhas filhas, sim, o processo inclusive encontra-se
[em fase de] finalização, fase de julgamento final, e foi uma ação muito
eficiente da polícia aqui em Goiás. Mas são inúmeros os casos, nem todos a
gente tem como identificar. Eles acontecem nas redes sociais, acontecem
diretamente. Não só eu, né? No Brasil todo, sobretudo mulheres que participam
da política vem sendo alvos dessas ameaças, dessas agressões. É muito grave
isso e a gente espera poder começar 2023 com uma política diferente.
Ponte — Nesse levantamento que fizemos sobre os policiais
eleitos no Congresso, o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
analisou que mudou o perfil desses policiais, que deixaram de ter uma pauta
mais corporativista, sindicalista, para um alinhamento mais bolsonarista,
pró-armas, pela ampliação do excludente de ilicitude. Como dialogar com os
policiais nesse espectro e que pautas você defende em relação à segurança pública
e aos policiais?
Delegada Adriana Accorsi — Eu
concordo plenamente com essa com essa análise eu vi isso acontecer, por
exemplo, com parlamentares aqui de Goiás, como o Delegado Waldir que não se
reelegeu nessa última eleição e foi um dos fenômenos de votação em Goiás
justamente por isso, desse alinhamento a um governo que retira direitos dos
trabalhadores, que se desfaz do movimento sindical e das conquistas históricas
trabalhistas e se afasta da defesa dos trabalhadores. A gente vê que o governo
Bolsonaro na história toda do Brasil foi o que mais retirou direitos,
prerrogativas, condições de trabalho, recurso pra segurança… De uma forma
geral, é uma destruição de políticas públicas de segurança. E o armamento da
população é justamente isso, é o contrário de política pública para a
segurança, né? É dizer ‘não teremos políticas públicas de segurança, se você
tiver como, você proteja aí sua família’, é justamente dizer que não terá
política pública.
A nossa defesa é o contrário, é a defesa dos direitos dos
trabalhadores, dos servidores e servidoras públicas. A previdência foi
duramente afetada também depois do golpe contra a presidenta Dilma (PT) [a
reforma da previdência foi proposta em 2016, sob Michel Temer (MDB), e
sancionada em 2019, sob o governo Bolsonaro], com perdas para a grande maioria
dos trabalhadores da segurança, sobretudo nós mulheres trabalhadoras da
segurança. A defesa de salário digno, a defesa de políticas públicas de
segurança pública, de prevenção. A gente vê que vai ser uma grande luta porque
a gente acredita num país que protege o seu povo e numa polícia que não está em
guerra com seu povo.
Muito importante a gente destacar o símbolo do aparelhamento das
forças de segurança pelo governo Bolsonaro que foi o assassinato daquele homem jogado dentro da viatura [Genivaldo, em
Sergipe, que morreu asfixiado, em maio, ao ser preso no porta-malas de uma
viatura da PRF em que os policiais jogaram gás lacrimogêneo dentro]. A viatura
é um símbolo do nosso trabalho, é um instrumento de trabalho na proteção da
vida das pessoas e foi usada como a câmara de gás para matar um cidadão por
trabalhadores da segurança. É a política do ódio e da morte que infelizmente
levou também uma grande parte das forças de segurança para essa atuação
desvirtuada da lei brasileira, da Constituição Federal, do próprio Código de
Processo Penal e do Código Penal.
Esse alinhamento ao bolsonarismo é extremamente danoso para os
nossos direitos, para os servidores públicos de uma forma geral. Se você verificar,
por exemplo, todas as estruturas de fiscalização, como a fiscalização do
combate ao trabalho escravo, do combate ao trabalho infantil, a extração de
minérios, os danos dos crimes ambientais, todas essas estruturas de
fiscalização que são aliadas da segurança pública também foram destruídas,
foram desmontadas. É uma destruição de todas as políticas públicas que dizem
respeito à proteção da nossa vida e isso que nos preocupa muito,
principalmente, em haver a possibilidade de continuidade desse governo
Bolsonaro.
Ponte — E que falta para que esse campo da esquerda se aproxime
desses policiais? Pergunto porque as principais propostas nesse sentido versam
sobre a desmilitarização…
Delegada Adriana Accorsi — Acredito
ser um fenômeno complexo que nós temos estudado. Como eu disse, tem ainda um
resquício da ditadura militar que trouxe todo um pensamento de que a esquerda,
os movimentos sindicais são subversivos, que eles são contra o governo e que a
polícia tem o dever de combater esses movimentos sociais e movimentos
sindicais. É toda uma construção que a gente precisa refazer, de diálogo, de
respeito à segurança pública como uma área imprescindível à vida das pessoas,
de incluir os trabalhadores da segurança como classe trabalhadora. Isso tanto
da parte da esquerda, mas também por parte dos próprios agentes de segurança
pública se verem como classe trabalhadora. É todo um movimento que tem que ser
feito e que vinha acontecendo.
Veja: Agora é que fica mais
claro que foi uma tremenda demonstração de fraqueza https://bit.ly/3lRLcVT
Por exemplo, no governo presidente Lula, principalmente sob a
coordenação do ex-secretário nacional de segurança Ricardo Balestreli [entre
2008 e 2010], nós tivemos um grande investimento na segurança, um grande
investimento na capacitação, na estruturação das forças de segurança. Aqui, em
Goiás, nós construímos nos governos do PT a mais bem estruturada Academia da
Polícia Civil do país, que é a primeira escola superior da Polícia Civil. Tudo com
recurso federal nos governos Lula.
Fizemos centros de tecnologia e videomonitoramento em todo o
país. Investimos muito na polícia técnica, na prova pericial. Foi um
investimento imenso na qualificação, na capacitação, na estrutura da segurança
pública e, infelizmente, nesse momento de acirramento político, acredito que o
bolsonarismo capturou, a partir de pautas morais, muita fake news e muita
mentira, essa maior parcela das forças de segurança, sobretudo os militares.
Talvez uma seja uma parcela única de trabalhadores que não teve tantas perdas,
né? Os militares, o Exército principalmente, foram beneficiados nesse governo,
mas as demais forças de segurança, não. E eu acho que a gente precisa retomar
esse diálogo.
Essa pauta da desmilitarização não está no plano de governo do
presidente Lula. Isso não faz parte. Eu fiz parte desse diálogo. Existem
algumas pessoas que levantam essa questão. Mas essa não é proposta do
presidente Lula. A proposta é investimento nas forças de segurança, é
qualificação, é combate ao racismo institucional, uma intensificação da
necessidade de sermos legalistas, de sermos os guardiões e defensores da
Constituição Federal.
É um plano de governo de muita qualificação e valorização dos
trabalhadores para que possam prestar um bom trabalho. E uma proposta de
alinhamento nacional com as políticas públicas de segurança, com um
investimento muito grande nas políticas sociais, de geração de emprego e renda,
que têm um impacto verdadeiro na prevenção da violência, se a gente estudar as
políticas de segurança no mundo todo. O combate à impunidade, a prevenção à
violência doméstica. São muitas propostas nesse sentido. A desmilitarização não
está no plano de governo do presidente Lula. Não há um radicalismo do plano de
governo do presidente, do Partido dos Trabalhadores, dos partidos que compõem a
coligação contra as forças de segurança ou desmonte de força de segurança.
Ponte — Pergunto sobre isso porque o próprio Leonel Radde, agora
deputado eleito pelo PT, defende e existe um movimento de Policiais
Antifascismo que reivindica…
Delegada Adriana Accorsi — Tem
pessoas que defendem, mas não está no plano de governo do presidente Lula. Eu,
por exemplo, acredito que nós precisamos discutir isso mais profundamente. Eu
defendo a valorização dos trabalhadores da segurança, qualificação, o Sistema
Nacional de Segurança Pública, tanto no que se refere aos recursos ao salário
dos trabalhadores, mas também às políticas públicas, né? Políticas de
prevenção, políticas de qualificação, política de segurança pública
comunitária, combate ao racismo institucional, combate ao preconceito social
que muitas vezes permeia a nossa atuação. E, principalmente, políticas de uma
ligação forte com a população, com as comunidades, das forças de segurança.
Ponte — A sua militância no PT vem antes de entrar na polícia. O
que a fez ingressar na carreira policial?
Delegada Adriana Accorsi — Eu
sou filha de fundadores do Partido dos Trabalhadores. Professores que vieram
das comunidades eclesiais de base. Começo a minha atuação política e social na
Pastoral da Juventude, que luta pelos direitos das crianças, adolescentes e
jovens no Brasil. Vou para o movimento estudantil onde também me destaquei. Fui
cara pintada na época do impeachment do presidente Collor [1992]. Depois, eu consigo
passar no concurso para policial civil, que era um sonho de infância. O que me
moveu e o que me fez lutar por esse sonho de ser policial? Porque eu cresci
numa comunidade muito carente, necessitada de políticas públicas sociais, de
extrema vulnerabilidade social, onde a violência fazia parte do cotidiano das
crianças, das mulheres e eu queria ser delegada para proteger as crianças.
Para proteger as crianças como as que estudavam comigo, como as
que conviviam comigo que eram vítimas de violência tanto doméstica, violência
urbana, violência institucional por não ter acesso à educação como eu tinha.
Meus pais sendo professores, eu tinha uma condiçãozinha um pouquinho melhor. E
conseguia ver, né? Que tinha amigos que não conseguiam estudar, que não tinham acesso
a saúde não tinham uma moradia digna e por isso eu queria ser delegada.
Me tornei delegada e fui uma das primeiras chefes da uma das
primeiras delegacias de proteção à criança e adolescente do Brasil. A primeira
de Goiás onde trabalhei por uma década e tive destaque nacional. Dali, eu fui
convidada para ser a primeira superintendente de Direitos Humanos [na
Secretaria da Segurança Pública, em 2011] do estado de Goiás e depois a
primeira delegada geral da Polícia Civil. Esse é o último estágio, último cargo
que você pode chegar na instituição. Eu fui uma. Na época, só cinco mulheres no
Brasil tinham conseguido alcançar esse cargo.
Veja:
Bolsonaro, os militares e a democracia https://bit.ly/3NwQssg
Então, resolvi lutar de outra forma, continuar as minhas causas
pelos direitos humanos, o combate à violência contra crianças e mulheres, a
valorização das políticas sociais que eu acredito que tem uma ligação muito
grande com combate à violência. Eu me candidatei a deputada estadual [em 2014]
e fui a mulher mais votada de Goiás, a quinta entre todos, e fui reeleita em
2018. Fui candidata a prefeita [de Goiânia], em 2016, e eleita agora deputada
federal mais votada do PT no estado. Então, para mim, a segurança pública é um
espaço de defesa dos direitos humanos, é um espaço de garantia dos direitos das
pessoas, em que o poder do Estado é usado para proteger as pessoas, sobretudo
as pessoas que mais precisam.
Eu construí a minha a minha carreira policial nesse sentido e
atuo assim como parlamentar. Meus projetos são todos nesse sentido de
valorização das forças de segurança. Tive uma atuação muito grande agora para
garantir a paridade quando o policial civil aposenta, que tinha sido retirado
aqui pelo governo do estado e é alinhado ao governo Bolsonaro. Mas também ter
criado delegacias especializadas no atendimento à mulher com meus recursos
emendas da minha autoria e estão sendo construída em todo o estado. As salas
lilás que é um espaço para atendimento das mulheres e meninas vítimas de
violência.
Tenho feito emendas pra criar os espaços de depoimento especial
das crianças vítimas de abuso, né? Em todos os municípios do estado. Então, a
minha atuação é voltada para uma segurança pública cidadã e próxima das
pessoas. E combato de forma veemente os desvios de autoridade, as ilegalidades
das forças de segurança, os abusos de autoridade e combati de forma muito forte
isso como chefe da Polícia Civil.
Ponte — E você não sofreu nenhum tipo de resistência por ser
alinhada à esquerda dentro da polícia?
Delegada Adriana Accorsi — Para
começar, a gente ser mulher dentro de força de segurança já é muita luta, sabe?
As forças de segurança por muito tempo foram exclusivamente masculinas e existe
uma ligação muito grande entre segurança ser força física e virilidade
masculinas. Provar a minha competência no meio policial, assim como todas as
outras mulheres policiais, é um grande desafio. E, além disso, ser de esquerda
no estado de Goiás que é um estado coronelista mais alinhado à direita, onde a
direita é muito forte, também se tornou um desafio muito grande.
Mas eu tenho respeito da maioria dos colegas aqui pelo meu
trabalho como policial, pela minha luta como parlamentar pelos direitos desses
trabalhadores, o que também é reconhecido. A gente também suscita um ódio maior
dos extremistas de direita porque eles acreditam que é inadmissível uma pessoa
ser policial e ser de esquerda, o que eu discordo totalmente. A segurança
pública é um direito humano, é um direito das pessoas. É totalmente possível
você ser policial e defensor dos direitos humanos, ser legalista, cumprir e
defender a Constituição Federal.
Nós vamos conseguir demonstrar isso com o governo Lula que vai
atuar na segurança pública de uma forma muito profunda, com muitas ações que
vão unificar a atuação da segurança no país, junto com os governadores, com
investimento, salário digno. O que começou a acontecer nos governos Lula, mas
que foi tímido. E como em todo o mundo, essa pauta da segurança anda junto com
os medos que as pessoas têm, e muitas vezes é capturada e sequestrada pelos
movimentos de direita.
Nós podemos demonstrar que, por exemplo, o governo Bolsonaro não
fez nada para a segurança das pessoas. Nenhuma política pública, nenhum
investimento. O armamento da população é o contrário de uma política pública. A
prova é o imenso aumento da violência contra as mulheres, que é um processo
plenamente possível de ser controlado com políticas. Ao contrário, esse governo
cortou todos os recursos para o combate à violência contra as mulheres e
meninas, desmontou as políticas públicas que existiam e resultou nesse grande
aumento da violência. Isso mostra como o governo Bolsonaro e a extrema-direita
não tem competência nem capacidade de trabalhar por uma segurança pública
melhor para a população.
Ponte — De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, Goiás
foi o terceiro estado com a maior taxa de letalidade policial por 100 mil
habitantes em 2021. Com a reeleição do governador Ronaldo Caiado (União), qual
a sua perspectiva para os próximos quatro anos no estado?
Delegada Adriana Accorsi — Infelizmente
Goiás reelege o governo Caiado, que tem também uma política alinhada ao governo
Bolsonaro nas destruições de direitos dos trabalhadores, no corte de
investimentos em políticas sociais e políticas relacionadas a educação. Por
exemplo, no ensino médio foram fechadas escolas, não é feito concurso [para
professores], foi retirado recurso da universidade estadual, que é a
possibilidade dos filhos dos trabalhadores, das pessoas que vivem no interior
do estado, fazerem o curso superior… É um governo que não investe no
desenvolvimento do estado. Nessa questão da segurança, além da retirada de
direito dos trabalhadores, a gente não vê um investimento nas políticas
públicas de prevenção, de combate à violência contra mulheres, crianças,
pessoas idosas.
Nós criamos aqui, com um projeto da minha autoria, o grupo
especial de combate aos crimes de intolerância religiosa, de racismo e em
relação à orientação sexual porque isso é gravíssimo em Goiás e nós conseguimos
até agora criar só dois grupos em todo o estado. Eu destinei emenda para
equipar essa delegacia. A gente vai continuar nessa luta e espero como deputada
federal ter mais influência para a gente ter uma segurança pública que proteja
a vida das pessoas.
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