Guedes adiantava em 2020 plano de cortes sociais e “discurso” só
para reeleger Bolsonaro
"Fazer
todo o discurso da desigualdade para eleger o presidente", disse Guedes na
polêmica reunião ministerial de 2020
Patrícia
Faermann, Jornal GGN
Jair Bolsonaro
anuncia programas sociais e libera milhões em benefícios à população mais
pobre, em estratégia eleitoral. Mas caso permaneça no governo, reportagem da
Folha revelou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, já estuda como reverter
os gastos sociais e cortar R$ 100 bilhões em 2023.
No dia depois da
suposta vitória de Bolsonaro, Guedes quer apresentar uma PEC (Proposta de
Emenda à Constituição) que congela o salário mínimo e a aposentadoria,
retirando a obrigatoriedade de todos os ajustes ecônomicos atrelados serem corrigidos
anualmente pela inflação, pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
Mas o plano de
Guedes não é novidade. Em abril de 2020, durante a polêmica reunião de Jair
Bolsonaro com seus ministros, alguns trechos daquele encontro não foram explorados,
e o ministro já escancarava o projeto de reduzir investimentos sociais, em
desfavor dos trabalhadores, e apostar nas privatizações.
Naquela reunião,
Paulo Guedes falou que o discurso de “acabar com as desigualdades regionais”
era “bonito, mas isso é o que o Lula, o que Dilma tão [sic] fazendo há 30
anos”, que eles não podiam “se iludir” e que iriam aceitar “politicamente” e
“fazer todo o discurso da desigualdade” de “gastar mais”, com o objetivo
somente de reeleger Jair Bolsonaro dois anos depois, mas sem efetivar os
investimentos sociais na prática.
“Discurso
das desigualdades é bonito, mas…”
A
reunião ministerial ocorria em ano de eleições municipais e Guedes referiu-se a
ministros do governo Bolsonaro que estavam interessados nas disputas daquele
ano, que segundo ele pediam recursos do Orçamento para investimentos em
políticas sociais em troca de apoio popular.
“Não
vamos nos iludir. A retomada do crescimento vem pelos investimentos privados,
pelo turismo, pela abertura da economia, pelas reformas. Voltar uma agenda de
30 anos atrás, de investimentos públicos financiados pelo governo, isso foi o
que a Dilma fez. Então tá cheio de gente pensando nessa eleição agora, e
botando coisa na cabeça de todo mundo aqui dentro, que são governadores
querendo fazer a festa, são, às vezes, ministros querendo aparecer, tem de
tudo.”
“Então
se agente lançar, agora, um plano, de todo esse discurso conhecido, ‘acabar com
as desigualdades regionais’, Marinho [ex-ministro do Desenvolvimento Regional],
claro, tá lá, são as digitais dele. É, é bonito isso, mas isso é o que o Lula,
o que a Dilma tão fazendo há 30 anos. (…) Eu acho um discurso bom, mas nós
temos que tomar cuidado e reequilibrar as coisas. Não pode ministro pra querer
ter um papel preponderante esse ano, destruir a candidatura do presidente, que
vai ser reeleito se nós seguirmos o plano das reformas estruturantes originais”,
continuou.
“500 bi” em
privatizações e concessões
Em
seguida, o ministro da Economia começou a listar juntamente com Tarcísio de
Freitas, então ministro da Infraestrutura e hoje candidato ao governo de São
Paulo, os bilhões de reais garantidos em vendas de estatais e concessões.
Leia também: A frente ampla diante da nação dividida
https://bit.ly/3EWSIbq
“Como é que um governo
quebrado vai investir, vai fazer grandes investimentos públicos? Tarcísio sabe
disso, conversamos sempre. Tarcísio sabe, quanto você consegue [de concessões],
Tarcísio? Passar de 5 bi para quanto? Pra quinze, pra vinte, pra trinta?”,
perguntou Guedes. “250”, respondeu Tarcísio.
Com
a resposta, Guedes fez um cálculo de quanto o governo obteve no total das
privatizações e concessões em saneamento, petroleiras, mineração e
infraestrutura, para concluir que entrariam “R$ 500 bilhões”, mas que esses
recursos chegariam ao longo dos anos, não imediatamente.
“Fazer todo o discurso da desigualdade para eleger o
presidente”
E
afirmou que “todo o discurso da desigualdade” seria usado intecionalmente para
“eleger o presidente”:
“Cadê
o dinheiro do governo pra fazer isso? Num tem. Então quem tá sonhando, é
sonhador. A gente aceita, politicamente a gente aceita [divulgar um plano de
políticas sociais]. Vamos fazer todo o discurso da desigualdade, vamos gastar
mais, precisamos eleger o presidente. Mas o presidente tem que pensar daqui a 3
anos. Não é daqui a 1 ano não. Tem muita gente só pensando na eleição desse
ano.”
Tarcísio ainda se
referiu às políticas de Guedes – contra os investimentos públicos e a favor das
privatizações – como algo que marcaria Jair Bolsonaro “pra História”: “Tivemos
aí dois caras aí na história recente que pegaram terra arrasada e entraram pra
História. Um foi o Roosevelt, o outro foi o Churchill. O terceiro vai ser o
Bolsonaro.”
“Passamos o ano todo vendendo o Brasil”
Após
as considerações de Paulo Guedes, Onyx Lorenzoni, que naquele momento era
ministro da Cidadania disse que se somaria à “visão do ministro Paulo Guedes”,
e que ele e os ministros Tarcísio -atual candidato ao governo de São Paulo-,
Tereza Cristina (Agricultura), Bento Albuquerque (de Minas e Energia) e Marcos
Pontes (Ciência), passaram “o ano todo” de 2019 “andando pelo mundo e fazendo o
quê? Vendendo o Brasil.”
“Pois
nós passamos, Paulo Guedes, o ano todo, Tarcísio, Teresa, Bento, o nosso
ministro Marcos Pontes e outros, andando pelo mundo e fazendo o quê? Vendendo o
Brasil. Terminamos o ano, 14, lembro do número, 482 bilhões de investimentos
para os próximos 20 anos. Uma boa parte mineração, petróleo e por ai vai…”
“Passar a boiada“
É
sobre essas viagens que Onyx mencionou que Ricardo Salles, então ministro do
Meio Ambiente, posteriormente fez referência a “passar a boiada” e “passar as
reformas infralegais de desregulamentação” que favorecem as grandes indústrias
em negócios escusos e prejudicam as regulamentações civilizatórias do país,
incluindo o meio ambiente.
“A
oportunidade que nós temos, que a imprensa não tá, tá nos dando um pouco de
alívio nos outros temas, é passar as reformas infralegais de desregulamentação,
simplificação, todas as refornas que o mundo inteiro, nessas viagens que se
referiu o Onyx certamente cobrou dele, cobrou do Paulo [Guedes], cobrou da
Tereza, cobrou do Tarcísio, cobrou de todo mundo, da segurança jurídica, da
previsibilidade, da simplificação, grande parte dessa matéria ela se dá em
portarias e norma dos ministérios que aqui estão, inclusive o de Meio
Ambiente.”
“Então, pra
isso precisa ter um esforço nosso aqui, enquanto estamos nesse momento de
tranquilidade, no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid e
ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De
IPHAN, de ministério da Agricultura, de Ministério de Meio Ambiente, de
Ministério disso, daquilo. Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a
simplificação de regulamentação que nós precisamos em todos os aspectos.”
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