28 dezembro 2022

Minha opinião

Surto de grupos no WhatsApp 

Luciano Siqueira

 

Participo de grupos no WhatsApp por necessidade e dever de ofício — sempre contrariado pela dispersão no trato dos assuntos e pela contaminação por postagens que nada têm a ver com a temática do grupo, nem presumivelmente com o interesse da maioria.

Participo também de grupos por questão de cortesia: frequentemente sou incluído muitas vezes sem nem saber o motivo. Mas não demoro muito a pedir desculpas e justificar minha saída.

Não que me incomode conversar com as pessoas. Ao contrário, ouvi-las faz parte do meu cotidiano desde a adolescência e vem a ser uma atitude essencial para assegurar a qualidade do que faço.

Ouço-as pacientemente, inclusive quando me expõem opiniões frontalmente divergentes. Adoto a máxima de Dom Hélder Câmara: "Se tu diferes de mim, tu me enriqueces."

Mas conversar pelo WhatsApp nem sempre é simples. Mais complicado ainda quando se conversa em grupo. A babel se instala na primeira rodada. 

Se estamos tratando da montagem do ministério do novo governo Lula, por exemplo, por que razão o cara posta uma piada sobre a seleção brasileira de futebol?

O assunto é o enfraquecimento do SUS durante o governo Bolsonaro. De repente vem a sugestão de uma nova série na Netflix, uma anedota de mau gosto e instruções sobre como pagar o IPVA em 2023 com percentuais de desconto.

Tento retomar o debate sobre o SUS, mas me deparo com perguntas acerca de variantes do coronavírus e o registro de um remédio caseiro expectorante. Haja paciência!

Agorinha, num grupo de estudiosos e analistas políticos de dimensão nacional alguém propõe a criação de um novo grupo exclusivamente dedicado à cerimônia de posse do presidente Lula. Arre!

Às vezes parece mesmo um surto virótico, um grupo gera outro grupo que por sua vez abriga sugestões de novos grupos!

Na verdade, um vício.

O mistério é como gente sabidamente ocupada consegue integrar vários grupos ao mesmo tempo (além de usar listas de transmissão). Que tempo dispõe para trabalhar, ler, conviver com a família e amigos, fazer pelo menos as três refeições, amar e ser amado, tomar dois banhos diários e um cafezinho no intervalo?

Sei não, nem quero saber — para não correr o risco de ser incluído em mais um grupo de discussão sobre não sei o quê.

Tenho mais que fazer, viu?

O instigante mundo atual https://bit.ly/3Ye45TD

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