Surto de grupos no WhatsApp
Luciano Siqueira
Participo de grupos
no WhatsApp por necessidade e dever de ofício — sempre contrariado pela
dispersão no trato dos assuntos e pela contaminação por postagens que nada têm
a ver com a temática do grupo, nem presumivelmente com o interesse da maioria.
Participo também de
grupos por questão de cortesia: frequentemente sou incluído muitas vezes sem nem
saber o motivo. Mas não demoro muito a pedir desculpas e justificar minha
saída.
Não que me incomode
conversar com as pessoas. Ao contrário, ouvi-las faz parte do meu cotidiano
desde a adolescência e vem a ser uma atitude essencial para assegurar a
qualidade do que faço.
Ouço-as pacientemente,
inclusive quando me expõem opiniões frontalmente divergentes. Adoto a máxima de
Dom Hélder Câmara: "Se tu diferes de mim, tu me enriqueces."
Mas conversar pelo
WhatsApp nem sempre é simples. Mais complicado ainda quando se conversa em
grupo. A babel se instala na primeira rodada.
Se estamos tratando
da montagem do ministério do novo governo Lula, por exemplo, por que razão o
cara posta uma piada sobre a seleção brasileira de futebol?
O assunto é o
enfraquecimento do SUS durante o governo Bolsonaro. De repente vem a sugestão
de uma nova série na Netflix, uma anedota de mau gosto e instruções sobre
como pagar o IPVA em 2023 com percentuais de desconto.
Tento retomar o
debate sobre o SUS, mas me deparo com perguntas acerca de variantes do
coronavírus e o registro de um remédio caseiro expectorante. Haja paciência!
Agorinha, num grupo de
estudiosos e analistas políticos de dimensão nacional alguém propõe a criação
de um novo grupo exclusivamente dedicado à cerimônia de posse do presidente
Lula. Arre!
Às vezes parece mesmo
um surto virótico, um grupo gera outro grupo que por sua vez abriga sugestões
de novos grupos!
Na verdade, um vício.
O mistério é como
gente sabidamente ocupada consegue integrar vários grupos ao mesmo tempo (além
de usar listas de transmissão). Que tempo dispõe para trabalhar, ler, conviver
com a família e amigos, fazer pelo menos as três refeições, amar e ser amado,
tomar dois banhos diários e um cafezinho no intervalo?
Sei não, nem quero
saber — para não correr o risco de ser incluído em mais um grupo de discussão
sobre não sei o quê.
Tenho mais que fazer,
viu?
O instigante
mundo atual https://bit.ly/3Ye45TD
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