29 dezembro 2022

Minha opinião

Cartomantes do mercado

Luciano Siqueira

 

Neste século 21 da inteligência artificial e avanços tecnológicos em todas as direções, nem sei se ainda existem as populares cartomantes.

Na minha infância ouvia falar delas como videntes competentes a que alguns recorriam porque desejavam antecipar o futuro sobre o qual combinavam curiosidade e angústia; outros delas mantinham distância porque preferiam alimentar expectativas e esperanças sem nenhum indicativo prévio do quinhão de felicidade a alcançar.

Pois bem. A poucos dias do terceiro governo Lula, grandes veículos midiáticos exibem análises pretensiosas sobre o futuro imediato do país.

Arriscam previsões praticamente em todas as áreas — da economia e das finanças ao meio ambiente e até mesmo ao imaginado padrão de relacionamento entre ministros desta ou daquela corrente política com o presidente, o Congresso e seus colegas de Esplanada.

Como se costuma dizer, papel aceita tudo... e as plataformas digitais também.

Tirante palpites meio que diversionistas, predomina mesmo a defesa dos interesses do todo poderoso mercado — o capital financeiro que tem as rédeas do sistema capitalista que quase todo o mundo.

Lula tem diante de si uma imensa carteira de problemas sociais a enfrentar? Sim, ninguém discorda. 

É preciso recuperar a educação pública esfaqueada por Bolsonaro e seus desastrados ministros, ressuscitar o SUS e retomar investimentos em ciência, tecnologia e inovação? Ninguém tem coragem de negar.

Até mesmo a questão crucial de promover a recuperação das atividades econômicas tendo como fio condutor a indústria, via pesados investimentos públicos em infraestrutura, parece recolher de tais jornalistas um sim unânime.

Porém tudo isso há que se resolver dentro dos limites de um inviável teto de gastos, para que a remuneração do capital rentista se mantenha firme e forte em favor dos que ganham com taxas de juros elevadas e fazem a festa com a usura em todas as suas dimensões!

Então, a pressão midiática tenta conduzir antecipadamente o governo em nome do rentismo. Mas no meio do caminho tem uma pedra — o próprio presidente da República a ser empossado no dia primeiro de janeiro à testa de um governo de frente ampla e de compromissos sociais básicos, que já aprendeu a honrar com considerável grau de eficiência.

Nada será fácil, tudo implica pressões e contrapressões. Daí a necessidade de contrapor às poderosas cartomantes no mercado a legítima mobilização popular que sindicatos, entidades e instituições da sociedade civil têm o dever de realizar.

A cada passo haverá disputas cujos desenlace é impossível prever.

Vamos à luta!

Leia também: Não pode haver no Brasil um teto fiscal que leve à fome https://bit.ly/3UtVnOS

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