23 dezembro 2022

Minha opinião

Nada fácil para os idosos

Luciano Siqueira

 

Transcrevi aqui no blog matéria do boletim ONU News https://bit.ly/3ViGO0c a propósito de que 34% dos idosos não dispõem de renda na América Latina e no Caribe.

O texto é apenas factual, carente de uma análise abrangente e profunda. Vale como informação. No final, aponta 10 desafios para a consolidação do sistema de proteção social da população idosa.

São proposições óbvias para quem lida com políticas públicas. E mesmo para o cidadão e a cidadã comum minimamente informados. 

Carece ainda a nota da ONU de um mergulho, mesmo superficial, nas causas da desigualdade. 

Pois parece evidente que a penúria de parcela tão expressiva de idosos reflete a ultra concentração da produção, da renda e da riqueza e o empobrecimento crescente da maioria da população. Nosso subcontinente é vítima de continuadas políticas econômicas neoliberais.

No cotidiano, para além de dificuldades de sobrevivência material, os idosos sofrem o preconceito e a solidão. Mesmo aqueles eventualmente integrantes de grupos familiares abastados.

Em minha experiência pessoal tenho podido registrar manifestações de preconceito que tiro de letra e até me divirto.

Certa vez, caminhando na praia com Luci, paramos um instante e nos beijamos na boca. Uma jovem senhora que conduzia o filhinho pequeno não se conteve: "Que lindo! Posso tirar uma foto?"

Na garagem do subsolo da Prefeitura do Recife, eu costumava transpor os degraus até o elevador quase que correndo e frequentemente ouvia a advertência: "Cuidado! O senhor não pode levar uma queda..."

E após um belo concerto da Orquestra Sinfônica do Recife na Praça de Casa Forte, o breve diálogo com um funcionário da Prefeitura: 

— Parabéns, prefeito!

— Olá! Fico feliz que você tenha gostado do concerto...

— Gostei, sim, mas estou lhe parabenizando porque o senhor aguentou uma hora inteira de pé!

Quanto ao isolamento, você que me lê certamente já testemunhou, talvez na própria família, situações em que todos conversam animadamente mas não incluem o avô ou a avó, que simplesmente observa e ouve.

Anotei de uma reportagem extensa sobre o assunto, publicada há alguns anos atrás pela Folha de S. Paulo, que um dos fatores de isolamento do idoso no ambiente familiar está em que já não é mais considerado depositário de informações acumuladas ao longo da vida, terá sido substituído por um leve clique no Google...

Felizmente o casal de idosos daqui de casa não vive essa amarga experiência isolacionista em razão da atividade militante intensa, que nos consome quase os três expedientes diários há décadas.

Ainda bem.

O mundo gira. Saiba mais https://bit.ly/3Ye45TD

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