03 outubro 2023

Cláudio Carraly opina

Novo Pacto Federativo e a Importância do Poder Local
Cláudio Carraly*

A questão do poder local e a necessidade de um novo pacto federativo são temas cruciais para o Brasil contemporâneo. O poder local, representado pelos municípios, é a esfera mais próxima dos cidadãos e tem grande impacto em suas vidas cotidianas. É onde políticas públicas relacionadas à educação, saúde, transporte, cultura e outros aspectos essenciais são formuladas e implementadas. Contudo, ao longo da história, os municípios brasileiros enfrentaram desafios significativos, incluindo a falta de recursos adequados para atender às demandas locais. Ressalte-se que no papel temos estabelecidas as responsabilidades entre os três níveis de governo dos entes federativos sendo eles,  Governo Federal, Estadual e Municipal, o problema é que a maior demanda de ações ficam ligadas aos municípios, enquanto o dinheiro é concentrado principalmente nos governos Federal e Estadual, como observamos:

Responsabilidades do Governo Federal:
1. Defesa Nacional: Manutenção das forças armadas e segurança nacional;
2. Política Externa: Negociação de acordos internacionais e relações diplomáticas;
3. Política Monetária e Fiscal: Controle da moeda, política fiscal e tributária;
4. Justiça Federal: Manutenção do sistema judicial federal;
5. Infraestrutura Nacional: Investimento em infraestrutura crítica, como rodovias interestaduais e redes de comunicação.

Responsabilidades dos Governos Estaduais:
1. Educação: Supervisão do sistema educacional e financiamento de escolas públicas;
2. Saúde: Gestão de serviços de saúde estaduais;
3. Segurança Pública: Polícia estadual e sistema prisional;
4. Transporte Regional: Manutenção de rodovias estaduais e transporte público;
5. Meio Ambiente: Regulação ambiental e gestão de recursos naturais.

Responsabilidades dos Governos Municipais:
1. Educação Básica: Gerenciamento de escolas primárias e secundárias;
2. Saúde Local: Fornecimento de serviços de saúde primária;
3. Segurança Local: Polícia municipal e segurança pública;
4. Infraestrutura Local: Manutenção de ruas, coleta de lixo e fornecimento de água e esgoto;
5. Planejamento Urbano: Regulação do desenvolvimento urbano e zoneamento.

É importante notar que a massa de trabalho e reponsabilidade do município é enorme enquanto seu quinhão de partição dos recursos é o mais frágil dos entes nacionais, essa para além de uma estrutura conceitual geral e a divisão de responsabilidades e impostos que deveria variar significativamente de acordo com a realidade política, econômica e social de cada ente federativo de acordo com a maior necessidade e responsabilidade de cada um. Além disso, é fundamental garantir que haja mecanismos de coordenação e colaboração entre os diferentes níveis de governo para evitar lacunas na prestação de serviços públicos e garantir a eficiência na administração dos recursos públicos. Qualquer reforma desse tipo requer um amplo diálogo político e envolvimento da sociedade civil. Mas essa repactuação é fundamental para um projeto futuro de país.

A descentralização do poder e dos recursos é um princípio fundamental para os progressistas. Ela permite que as decisões sejam tomadas mais próximas das pessoas afetadas por elas, fortalecendo a democracia e tornando as políticas públicas mais eficazes e adaptadas às necessidades específicas de cada região. Diversos teóricos de esquerda contribuíram com ideias que respaldam a descentralização do poder e o fortalecimento do poder local. Dentre eles, destaca-se Antônio Gramsci, que argumentou em favor de uma cultura política participativa e da importância da sociedade civil na construção de mudanças sociais. Rosa Luxemburgo também enfatizou a necessidade de uma democracia participativa e da descentralização do poder como forma de evitar a centralização excessiva e a burocracia. 

Os progressistas desempenham um papel crucial na promoção do poder local e na busca por um novo pacto federativo mais equitativo. Suas ideias e políticas costumam enfatizar a descentralização do poder, a participação cidadã e a justiça social. Em um país marcado por desigualdades regionais, a esquerda têm a responsabilidade de liderar o debate público sobre a importância do poder local e da revisão do pacto federativo. Isso envolve a mobilização da sociedade civil, a articulação com outros atores políticos e a apresentação de propostas concretas para reformas institucionais que apontem para o futuro.

Exemplos dessa intervenção local sob liderança progressista não faltam e estes exemplos viraram modelo para o Brasil e para o mundo no modelo de governança local. Podemos ressaltar  a   experiência do Orçamento Participativo em Porto Alegre ainda nos anos noventa, exemplo notório e bem sucedido de descentralização do poder, que permitiu aos cidadãos participar ativamente na alocação de recursos municipais, dando-lhes voz direta na formulação de políticas públicas. Sob a liderança de Luizianne Lins, Fortaleza adotou políticas inovadoras, como a construção de Centros de Educação Infantil em bairros carentes e a promoção de políticas de igualdade de gênero. 

No âmbito pernambucano, temos outros bons exemplos, a gestão de João Paulo no Recife enfatizou a educação e cultura, com a construção de novas escolas e a valorização dos professores, além de promover políticas de inclusão social. Olinda sob administração de Luciana Santos, se destacou por promover a implementação de conselhos municipais e a criação de políticas de habitação para comunidades de baixa renda. Outro exemplo virtuoso é a gestão de Elias Gomes em Jaboatão dos Guararapes, que focou em políticas de inclusão social, seu governo implementou programas inovadores na área de assistência social, além de criar a Secretaria de Direitos Humanos e Segurança Cidadã, trazendo para o município a responsabilidade sobre segurança pública. 

O fortalecimento do poder local e a revisão do pacto federativo são elementos cruciais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária no Brasil. Os progressistas desempenham um papel central nessa tarefa, baseando-se em teorias de esquerda que enfatizam a descentralização do poder e a participação cidadã. Os exemplos de governos municipais de esquerda demonstram que é possível implementar políticas inovadoras e eficazes quando se prioriza o poder local. O futuro do Brasil depende, em grande parte, da capacidade de reformar o sistema federativo para torná-lo mais democrático e eficiente, garantindo que todas as regiões e cidadãos tenham igualdade de oportunidades e participação ativa na construção do país.

O poder local é fundamental para o crescimento qualitativo da esquerda no Brasil. As eleições municipais desempenham um papel vital nesse processo, permitindo que se formem novas lideranças, e se construa uma base sólida demonstrando a eficácia das políticas progressistas de governança. Os governos municipais de esquerda bem-sucedidos, como os exemplos citados, demonstram como administrações exitosas, podem melhorar a qualidade de vida das pessoas. O poder local não apenas fortalece a democracia, mas também contribui para a construção de um Brasil mais justo e igualitário, alicerçado em políticas públicas inovadoras e eficazes. Portanto, as eleições municipais uma oportunidade imperdível para o crescimento e o fortalecimento da esquerda no país e respectivamente a contenção do fascismo que assola o país após o renascimento da extrema-direita.

*Advogado, ex-Secretário Executivo de Direitos Humanos de Pernambuco
Nas águas do tempo https://bit.ly/3Ye45TD

6 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns ao companheiro Carraly por sua breve, porém demasiadamente assertiva na explanação da importância do pacto federativo com exemplos de administrações que incluíram o povo em suas gestões.

Anônimo disse...

Sim , porque as pessoas moram e vivem em uma casa situada em uma rua de sua cidade, lugar da realidade concreta acontece, daí a importância de um trabalho de base que empodere os cidadãos para buscar soluções práticas e objetivas. Infelizmente hoje quem faz trabalho de base são os pastores evangélicos, os milicianos e os bandidos, estão fincados nas comunidades para dominar e manipular por bem ou por mal.

Anônimo disse...

O texto de Carraly bem didático, muito bem formulado!! Uma aula !!

Cláudio Carraly disse...

Muito obrigado pelo carinho das palavras. Fico feliz que gostou

Cláudio Carraly disse...

Esse tipo de utilitarismo da fé é realmente absurdo. Preciso tratar disso em algum texto. Obrigado pelo alerta

Cláudio Carraly disse...

Muito obrigado pelo carinho. Vale a pena a discussão e debate.