Lula, o comunismo e o STF
“Pela primeira vez na história deste país conseguimos colocar na Suprema Corte um ministro comunista”, sentenciou Lula referindo-se à entrada de Flávio Dino no STF
Fábio Palácio*/Lemonde Diplomatique
“Pela primeira vez na história deste país conseguimos colocar na Suprema Corte um ministro comunista”, sentenciou Lula na última quinta (14), durante a Conferência Nacional de Juventude, referindo-se à entrada de Flávio Dino no STF. Dino é um político de convicções comunistas, com histórico de militância no PCdoB. Mas, para além disso, a afirmação de Lula dá o que pensar. Há quem pense, no âmbito da própria esquerda, que só serve para dar munição ao bolsonarismo. Será?
O comunismo é o núcleo duro do espectro democrático. É o sal da esquerda. Uma das razões por trás da esmagadora dominância do neoliberalismo no tempo em que vivemos é a estigmatização da ideia comunista sofrida na esteira da derrota estratégica do projeto socialista no final do século XX.
Quando Lula faz questão de brandir a indicação de um comunista para o STF, mostra ter claro que os estigmas semeados pelo campo reacionário não atingem só os comunistas stricto sensu, mas a esquerda – e o campo democrático – como um todo. Lula tem essa percepção avançada porque é um estadista do Brasil – no polo da unidade –, mas também um estadista da esquerda – no polo da oposição. Seu ser político, com suas contradições e potencialidades, é expressão concreta do estágio atual do avanço da esquerda em nosso país.
A verdade é que, sem partidos comunistas fortes – como havia na metade do século XX –, o (neo)fascismo encontrou campo aberto para avançar, pois não se depara com o inimigo em sua versão mais consequente, mas com o inimigo em sua versão cambaleante após a derrota estratégica.
O campo reacionário sabe disso e, consequente com seus objetivos regressivos, investe na desmoralização do ideário comunista, num esforço maciço que tem como resultado a transformação do comunismo em espantalho – algo que as pessoas temem sem saber o que é.
Note-se, porém, que, quando abomina o “comunismo”, a extrema direita está sempre se referindo a algo mais amplo: o campo democrático. Em última instância, o que a reação não tolera não é apenas o comunismo, mas qualquer coisa que cheire a avanço da democracia e dos direitos do povo.
Por esse motivo as forças do espectro fascista tendem a unir contra si amplas correntes democráticas dos mais diversos matizes. Essa unidade será tanto mais consequente quanto mais for nucleada pela esquerda em primeiro plano, e por sua vértebra comunista em último plano.
Tenho claro comigo que, enquanto a “hipótese comunista” – para citar a feliz expressão de Alain Badiou – não vicejar novamente no polo oposicionista e contra-hegemônico, a esquerda seguirá no calvário, em defensiva, acabrunhada de si, retraída no canto do ringue. Como percebe Lula em suas intuições, o comunismo abre horizontes à esquerda.
Foto: O presidente Lula com o ministro Flávio Dino (Ricardo Stuckert/PR)
*Fábio Palácio é Jornalista, professor da Universidade Federal do Maranhão. Autor do livro “Sob o céu de junho: as manifestações de 2013 à luz do materialismo cultural”.
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