Onde começa a fritura dos treinadores no Brasil?
São os analistas ou as redes sociais os principais formadores de opinião?
Tostão/Folha de S. Paulo
Por mais importantes que sejam as estratégias usadas pelos treinadores, existe um exagero, uma supervalorização, das ações deles na tentativa de explicar as atuações e resultados das partidas. Essa é a principal razão das frequentes trocas de técnicos no Brasil. Em jogos equilibrados, como no Brasileirão, as vitórias e derrotas ocorrem por inúmeros motivos, previsíveis e imprevisíveis.
Fernando Diniz, após a conquista da Libertadores, passou a ser tratado como um técnico revolucionário, o único que escala dois meio-campistas de zagueiros no mesmo jogo e o único que coloca quase todos os jogadores próximos em um lado de campo, para ter superioridade numérica e envolver o adversário. Neste início ruim de temporada do Fluminense, Diniz passou a ser criticado pelas suas convicções, por deixar a defesa desprotegida e por escalar muitos veteranos.
Ele não é um revolucionário, mas é um bom treinador, que precisa flexibilizar suas convicções e utilizar mais as variações táticas de acordo com o momento e o adversário. Assim fazem os principais treinadores do mundo.
Simeone, que há um longo tempo dirige o Atlético de Madrid, era muito elogiado por organizar ótimas defesas e muito criticado por não ser ousado. Agora, ele tem sido elogiado por atacar com mais jogadores e criticado por deixar muitos espaços na defesa, o que teria ocorrido na derrota por 4 a 2 para o Borussia Dortmund, pela Liga dos Campeões.
Treinadores são elogiados e criticados de acordo com o resultado. A gota d’água para a dispensa do técnico Larcamón do Cruzeiro foi ele ter trocado um meia ofensivo por mais um defensor na tentativa, na metade do segundo tempo, de garantir o resultado e o título estadual contra o Atlético-MG. Muitos outros técnicos fazem o mesmo com variáveis resultados.
Treinadores necessitam ter um comportamento equilibrado e digno durante as partidas e nas entrevistas depois dos jogos. O treinador do Vasco, Ramón Díaz, falou uma grande besteira, machista, ao criticar o fato de uma mulher comandar o VAR.
Alguns treinadores, como Guardiola e Ancelotti, conquistaram tanto prestígio, merecidamente, que passa a ser difícil criticá-los. Eles também erram. Na eliminação, na disputa por pênaltis, do Manchester City para o Real Madrid, Haaland jogava novamente mal e foi substituído na metade do segundo tempo. Teria sido correto, já que ele é um grande artilheiro e o cobrador oficial de pênaltis do City, uma situação que caminhava para acontecer?
Não gostei da substituição de De Bruyne na metade do segundo tempo, uma situação que já ocorreu em outros momentos. De Bruyne não brilhava, mas era o mais eficiente dos jogadores do City do meio para a frente. Craque costuma, de repente, fazer uma grande jogada decisiva. O desgaste físico durante a partida do jogador belga não era maior do que o de outros jogadores.
Se o City tivesse vencido, pois dominou o jogo durante todo o tempo, Ancelotti poderia ser criticado por colocar o time para marcar muito atrás.
Na véspera do jogo entre Flamengo e São Paulo, as manchetes eram de que seria a última chance de o técnico Carpini não ser demitido, em uma partida em que o Flamengo era nitidamente favorito. Carpini foi bastante elogiado no início do trabalho pela conquista da Supercopa e rapidamente dispensado depois de vários resultados ruins.
Onde começa a fritura, a dispensa dos técnicos, nos programas esportivos ou nas redes sociais? Hoje, quem é mais formador de opiniões, os analistas ou as redes sociais? Há controvérsias.
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