A escalada de uma guerra anunciada e a indignação seletiva
Enio Lins
Como se sabe, no dia 1º de abril, Israel bombardeou a representação diplomática do Irã em Damasco, matando oito militares iranianos, inclusive um comandante sênior, general Mohammad Reza Zahedi. 12 dias depois, os iranianos tentaram devolver a maldade lançando drones armados sobre o território israelense, em ação que até agora não se tem notícia nem de vítimas humanas, nem de danos materiais. E agora?
TERROR SEM FRONTEIRAS
Não é flor que se cheire o velho Irã dos aiatolás, mas o jovem Israel dos sionistas é o estado mais agressivo e mais letal em todo Oriente Médio. Em 25 de dezembro de 2023, Israel matou – na Síria – outro general iraniano, Razi Moussavi. Noutro caso famoso, em 27 de novembro de 2020, o cientista nuclear Mohsen Fakhrizadeh foi morto, no meio da rua de uma cidade iraniana, alvejado por um equipamento israelense controlado por Inteligência Artificial (assim noticiado pelo NY Times). Diz a Wikipédia: “o [serviço secreto israelense] Mossad , desde 2007, assassinou cinco cientistas iranianos e feriu outro, usando uma variedade de métodos, incluindo envenenamento, bombas detonadas remotamente e motociclistas atirando nos carros dos alvos. Há anos que Israel procurava formas de assassinar Fakhrizadeh”.
TEOCRACIAS EM LUTA
Como reza a filosofia popular, “o pau que bate em Francisco, tem que bater em Chico”: ou se condena as ações violentas cometidas por Israel e pelo Irã, ou não se condena nenhuma, e seja o que Adonai e Alá quiserem. O Irã é uma teocracia islâmica que oprime iranianos que discordem da versão xiita do Alcorão, persegue as mulheres, e é acusado de financiar grupos armados no exterior. Israel é uma interpretação geopolítica da Torá, baseada no mito de que “o Deus de Israel lhes deu a terra prometida”, persegue judeus que não sejam sionistas, e é acusada de genocídio contra os palestinos. Israel e Irã possuem suas constituições fundadas nas concepções de suas respectivas populações, elegem pelo voto direto suas representações. Apenas trajam estilos teocráticos pr&oacu te;prios: o Irã, figurino medieval e Israel, look moderninho.
ANTES AMIGOS
Israel e Irã se guerreiam através de ações pontuais desde 1979, depois da Revolução Iraniana. Até então eram amigos e colaboradores, e lembra O Globo que, em 1950, dois anos depois da criação do Estado de Israel, “o Irã foi o segundo país muçulmano a reconhecer o novo país, atrás apenas da Turquia. Na época, Teerã abrigava a maior comunidade judaica do Oriente Médio” e que “Israel mantinha uma importante missão diplomática no Irã e importava 40% de suas necessidades de petróleo do país em troca de armas, tecnologia e produtos agrícolas. A colaboração era tão estreita que a temida polícia secreta iraniana, o Savak, foi criada em 1957 com a ajuda da Agência Central de Inteligência (CIA) americana, depois do Mossad israelense”.
GUERRA GLOBAL?
Nessas refregas que se estendem há 45 anos, os israelenses têm tomado a iniciativa e obtido resultados mais significativos. Na perspectiva de um recontro, deve-se levar em consideração: 1) Irã possui um grande exército, mas não conseguiu derrotar o Iraque numa guerra direta, crudelíssima, que findou empatada depois de oito anos, entre 1980 e 1988; pode ter armamento nuclear. 2) Israel possui as forças armadas mais letais do planeta, tem vencido todas as guerras desde sua fundação (em 1948) e sempre com impressionante rapidez; possui armas nucleares. 3) Um combate direto entre esses dois países será catastrófico para o mundo – a não ser para a indústria bélica, óbvio.
Para além do horizonte visível https://bit.ly/3Ye45TD
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