O FENÔMENO PEDRO VINICIO
Aos 16 anos, Pedro Vinicio é fenômeno nas redes e reforça importância da arte através do humor.
GQ Digital
Seguido por quase 300 mil pessoas, incluindo artistas como Selton Mello, o ilustrador pernambucano fez do amor pelo desenho uma plataforma para se expressar.
Você pode até não conhecer seu nome mas certamente já viu sua arte no Instagram, nos Stories de alguém. “Por trás de todos os desenhos ruins, existe uma pessoa que tentou fazer você sorrir”. Essa é a frase que Pedro Vinicio escolheu para definir sua obra compartilhada na rede social desde 2020, quando ele tinha apenas 14 anos.
Rapidamente, o garoto, apaixonado por arte desde criança, tornou-se um fenômeno da internet, hoje com quase 300 mil seguidores incluindo artistas e figuras públicas como Taís Araújo, Selton Mello, Débora Falabella, Patrícia Pillar e Fernanda Lima. Com seu estilo único de debochar das situações mais simples do cotidiano, o artista cativou as pessoas com uma assinatura muito própria. As imagens misturam frases curtas com ilustrações em cores vibrantes, muitos contrastes e desenhos que vão na contramão da estética normativa: um diálogo franco e livre com o estranho, o diferente e o extravagante.
Pedro é pernambucano, nascido e criado na cidade de Garanhuns, localizada no agreste do estado, a 230km da capital, Recife. Hoje ele tem 16 anos e nunca saiu de Pernambuco. Mas sua arte, por meio da internet, conseguiu viajar pelo Brasil e pelo mundo. E foram nos muros da vida que ele descobriu sua vocação como artista, aos 12 anos. Sua professora à época, a artista plástica Joyce Torquato, ia pintar um muro da escola e, vendo que Pedro amava desenhar, perguntou se o menino gostaria de acompanhá-la. Ele contribuiu com o desenho de um cachorrinho. “Depois disso só queria saber de desenhar”, conta.
“Eu já queria ser artista mas não sabia como ser artista. Eu sempre gostei de desenhar mas não conhecia o caminho. Depois que eu pintei o muro, [a professora] continuou em contato comigo. Quando tinha evento de arte ela me convidava, e fui pegando gosto. Ela foi uma das pessoas que me motivaram”, lembra.
Pedro diz que o pai Mário, motorista, e a mãe Neide, dona de casa, assim como a irmã Marília, também sempre incentivaram sua produção artística. Em 2018, ainda aos 12 anos, veio o primeiro lugar em uma competição anual que estimula talentos locais em Garanhuns, promovida pelo governo municipal.
2019 foi um ano decisivo para que Pedro organizasse sua identidade e seu estilo artísticos. Ele conta que foi um período muito frutífero, em que mesclava diversos materiais como óleo e aquarela. Suas criações passaram a ocupar várias caixas em casa. Com tamanha base produtiva, ficou fácil para que, em 2020, ele direcionasse a estética do seu trabalho para um estilo próprio, exatamente como foi desenvolvido no Instagram a partir do mesmo ano.
Tímido, o garoto diz que não é muito de conversar sobre sua vida pessoal. Todas suas reflexões e anseios ele põe nos desenhos. “Não considero a arte meu trabalho, considero-a minha vida. Eu só penso em arte”, diz Pedro, que nunca fez cursos dedicados ao tema.
“Eu não tenho muita referência na ilustração, mas sim na arte contemporânea. Nelson Leirner, Tunga, Cildo Meireles, Adriana Varejão me influenciam de alguma maneira. Também gosto muito das performances de Marina Abramovic. E Os Gêmeos”, conta. Com inspirações desse calibre, é fácil entender como ele consegue chegar tão próximo do ser humano com suas ilustrações aparentemente despretensiosas, porém profundas.
A dualidade entre leveza e complexidade compõe o estilo do artista, que fala sobre temas como saúde mental – ele começou seus posts no Instagram semanas antes da pandemia do coronavírus iniciar no Brasil. O artista acredita que o adolescente e o jovem não lidam bem com o volume de informação e conteúdo que têm recebido, e isso se intensificou na pandemia. “Às vezes até eu me perco”, diz Pedro.
Para ele, as pessoas acabam não vivendo muito a vida presas a uma tela de celular, em uma tecnologia sem limites. E tudo isso é bem retratado em suas ilustrações. Aliás, foi justamente sua sensibilidade diante desse tema que o fez ser convidado a contribuir semanalmente para a plataforma Mina Bem-Estar que tem a apresentadora Angélica como cofundadora.
Com o trabalho veio o reconhecimento e o sucesso que permitiu, mesmo muito novo e no início da carreira, vender material original para figuras públicas notórias (como Zeca Camargo), desenvolver colaboração para estampar suas ilustrações em produtos (camisas, chaveiros, canga, body infantil, etc), além de fazer publicidade paga no Instagram. Pedro contudo não se deslumbra. “Para mim sucesso é quando eu faço ou vejo alguma coisa simples”, diz artisticamente. “É alguma coisa que faz o outro se emocionar ou me emocionar. Pode ser uma flor que está saindo do calçamento, aquilo para mim é sucesso. Só que as pessoas não veem.”, comenta. “A arte está em qualquer lugar. Só que só dão valor quando ela está no museu. E a verdadeira arte é a que está na rua”, conclui.
A arte transformou a vida do estudante da escola municipal Letácio Brito Pessoa, mas ele reconhece a importância da internet nesse processo, especialmente sendo pernambucano - seria muito mais difícil, diz, ter o sucesso e a visibilidade que obteve sem a ferramenta que lhe proporcionou reconhecimento. Um dos seus planos agora é lançar um livro, diz à GQ Brasil, motivado por alguns convites que já tem recebido.
“Eu sou uma pessoa igual a todas. Que só desenha”, diz Pedro. “Meu trabalho é uma mistura de colorido, com sentimentos, com alegria e tristeza, uma mistura igual uma feijoada”, fala rindo. O garoto abastece seu bom humor irresistível, para além das situações mais diversas do cotidiano que ele observa atentamente, em episódios da série A Grande Família, da qual ele é fã. “Eu vou fazer uma coisa que quando eu errar ninguém vai perceber”, diz sobre sua produção livre e sorridente. Sim, a excelência de Pedro está na sinceridade em como ele abraça o erro fazendo dele sua base para humanizar a experiência de quem o prestigia em trocas cheias de efervescência, afeto e identificação. “As pessoas me inspiram”, finaliza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário