Manter sempre viva a memória da resistência, uma necessidade da Democracia
Enio Lins
Lúcio Antônio Vieira da Rocha, médico e militante das causas mais saudáveis para a humanidade, enviou mensagem no domingo, 25, lembrando que a UNB (Universidade de Brasília) emitiu o diploma post mortem para Honestino Monteiro Guimarães, ex-presidente da UNE, assassinado por militares da Marinha, no Rio de Janeiro, depois de ter sido preso em 1º de outubro de 1973. Honestino, em memória, passa a ser Geólogo. Um emocionante reconhecimento. Bolinho – como é mais conhecido – sugere que as instituições de ensino em Alagoas sigam o mesmo caminho.
DIPLOMAÇÃO DA RESISTÊNCIA
Tem mais: na segunda-feira, 26, a Universidade de São Paulo emitiu diplomas post mortem para 15 ex-estudantes que perderam a vida lutando na resistência à ditadura. A Comissão da Verdade da USP identificou entre as vítimas fatais do regime militar 47 pessoas vinculadas àquela instituição (39 alunos, seis professores e dois funcionários). Segundo o Jornal da USP, essas certificações fazem parte do projeto “Diplomação da Resistência”, e, em 15 de dezembro de 2023, os primeiros ex-alunos a receber esse reconhecimento foram Alexandre Vannucchi Leme (assassinado em 17 de março de 1973) e Ronaldo Queiroz (assassinado em 6 de abril de 1973). As demais vítimas receberão homenagens idênticas em seguida.
UFAL ATENTA
Na solenidade pelos 50 anos de fundação da Universidade Federal de Alagoas, em 23 de outubro de 2011, sob a batuta da Reitora Ana Dayse Dória, a UFAL homenageou, com troféus, seus ex-estudantes mortos durante a ditadura: Gastone Beltrão, Dalmo Lins e Manoel Lisboa. Como morreram por ação direta dos órgãos de repressão, sem concluírem seus cursos, é uma ótima ideia, como sugeriu Lúcio da Rocha, que seus diplomas póstumos fossem concedidos, complementando o tributo prestado há 13 anos. Indo mais além, as instituições de ensino superior em Alagoas poderiam homenagear outras lideranças da Resistência, como Dênis Agra (não concluiu Medicina) e Breno Agra (formou-se em Engenharia pela UFAL), e Dênisson Menezes (médico pela Escola de Ciências Médicas); esses três, presos e duramente torturados em 1973, morreram cerca de duas décadas depois, entre 40 e 45 anos de idade, deixando óbvias suspeitas de que os danos causados à saúde de cada um, em decorrência das pesadas torturas sofridas, teriam contribuído para seus óbitos prematuros. Na mesma toada, é necessária manter viva a memória da resistência em todas as áreas, homenageando todas as vítimas da repressão, muitas vivas – felizmente – quando estas linhas são lidas.
HISTÓRIA VIVA
Fundamental é a política de preservação da memória da Democracia, de repulsa ao autoritarismo. Pois, como declarou Ulisses Guimarães, quando da promulgação da Constituição Cidadã em 1988, “Temos ódio e nojo à ditadura”. Essa ojeriza civilizatória é muito mais importante em momentos bizarros e perigosos como os vividos pelo Brasil desde, pelo menos, 2016, quando o mais notório e covarde torturador de toda história brasileira, o famígero coronel Ustra – facínora que o próprio regime militar tentou isolar, travando suas promoções –, passou a ser reverenciado publicamente, e, em 2021, foi ilegal e vergonhosamente promovido postumamente a “marechal”. Assim, a hora das vítimas é esta, agora e sempre, e sem concessões para torturadores e assassinos.
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