Investimentos diretos chineses no
mundo: participação da State Grid no setor elétrico brasileiro
Roberto Yplá Trevas*
O presente trabalho tem por finalidade analisar a participação da empresa estatal da República Popular da China a STATE GRID CORPORATION OF CHINA (SGCC) no setor elétrico brasileiro, dentro do contexto da política de expansão das empresas estatais e privadas chinesas, realizada através de investimentos diretos no mundo, notadamente na América do Sul, e particularmente no Brasil.
Conforme dados do Ministério do Comércio da China (MOFCON), os investimentos chineses no exterior em 2023 cresceram 11,49, em relação a 2022, chegando a US$ 130,00 bilhões. O valor ultrapassou a faixa de 110-120 bilhões registrada entre 2017 e 2022 e foi o maior desde 2016, quando os aportes atingiram o recorde de US$ 170 bilhões.
Apesar dessa queda, a China foi o segundo país que mais investiu no exterior, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e a frente do Japão, da Suíça e da Alemanha.
É de suma importância salientar que esse montante substancial de investimento direto no exterior é um reflexo da política adotada pelo líder DENG XIAOPING, a partir de 1978, com a implantação do “Socialismo de Mercado”, que em 46 anos proporcionou um crescimento exponencial da economia chinesa, haja vista que em julho de 2024 a República Popular da China conseguiu alcançar um valor recorde das suas Reservas Internacionais, no montante de US$ 3,256 trilhões, bastante superior as do Japão no montante de US$ 1,084 trilhão, da Índia de US$ 589,3 bilhõ ;es da Rússia de 394,1 bilhões e do Brasil no montante de US$ 330,14, dentre outras.
No Brasil os Investimentos Diretos chineses no período de 2007 a 2023, atingiram o respeitável montante de US$ 73,3 bilhões onde o setor de eletricidade representa 45% do total, no montante de US$ 33,2 bilhões com grande concentração no setor elétrico. Os investimentos chineses no Brasil atingiram US$ 1,73 bilhão em 2023, um aumento de 33% em relação ao ano anterior, retomando um crescimento após a queda que ocorreu de 78% entre 2021 e 2022. Analisando por número de projeto, os investimentos chineses caíram em 2023 no percentual de 9%, entretanto esse result ado foi o terceiro maior número registrado, atrás apenas de 2018, com 31 projetos, e de 2022 que atingiu 32 empreendimentos.
Entre 2020 e 2023, a média dos aportes financeiros foi de US$ 2,71 bilhões por ano, número inferior à média anual de US$ 6,53 bilhões entre os anos de 2016 a 2019. Em 2010, quando os aportes financeiros atingiam o recorde de US$ 13,0 bilhões, a cotação do dólar foi de R$ 1,76, entretanto entre 2015 e 2017, quando os investimentos alcançaram entre US$ 7 bilhões e US$ 8,8 bilhões, a taxa de câmbio média foi de R$ 3,33, ressaltando-se que entre 2020 e 2023, a moeda brasileira teve uma depreciação considerável, com o valor médio do dólar atingindo R$ 5,18, entretanto o aumento dos investimentos chineses no Brasil em 2023, ocorreu apesar da queda de 17% nos investimentos estrangeiros de forma geral, que atingiram o valor acumulado de US$ 62 bilhões, conforme o Banco Central do Brasil.
ATUAÇÃO DA STATE GRID CORPORATION OF CHINA NO BRASIL A PARTIR DE 2010
A matriz chinesa, a State Grid Corporation of China (SGCC), em 2010 criou a empresa State Grid Brazil holding, visando a expansão chinesa no setor de transmissão energética brasileiro, assunto esse associado a um longo processo de negociações entre a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a State Grid Corporation of China (SGCC) e a ELECNOR S.A., movimento esse que consistiu na compra de sete concessionárias do segmento do setor elétrico pela SGCC no montante de US$ 989 milhões adquiridos à empresa espanhola ELECNOR S.A.
A State Grid Brazil holding – SGBH está no Brasil desde 2010 atuando no setor de transmissão de energia. Atualmente o Grupo detém 19 concessionárias e outras cinco concessões por meio de consórcios com participação em 51% em cada.
Grandes cidades como Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, bem como extensas áreas próximas a centros de carga já estão cobertas por cerca de 16.000km. de linhas de transmissão, o que torna a companhia uma das maiores do Brasil no setor. Entre seus principais empreendimentos est ão os dois bipolos de transmissão da usina de Belo Monte – as maiores linhas de transmissão do mundo – que utilizam tecnologia inédita de mais ou menos 800 KVA TCC. Desde 2010 a SGBH investiu R$ 21,6 bilhões no Brasil, sendo a sua maior aquisição a Companhia Paulista de Força e Luz – C.P.F.L., que participa nas atividades de geração, transmissão, distribuição, comercialização e prestação de serviços no território nacional. A CPFL é a terceira maior geradora de energia privada no Brasil e é a líder na produção de energia renováveis, com participação em diversos trabalhos nas áreas de Pesquisa e Desenvolvimento e de Eficiência Energética, inclusive a CPFL também atua nas áreas de energia eólica, solar, pequenas usinas hidro elétricas e biomassas.
A CPFL atua na transmissão em alta tensão e está presente em 679 municípios nas regiões Sul e Sudeste do país, além de também atuar na comercialização de compra e venda de contratos de energia.
Em face do exposto, no tocante aos Investimentos Diretos Chineses no mundo, verifica-se que apesar de o estoque desses investimentos seguir concentrado nos Estados Unidos, há presença crescente de nações em desenvolvimento dentre os principais destinos das aportes do país asiático no exterior, verifica-se inclusive que em 2017, entre os 10 principais receptores de empreendimentos chineses apenas 3 eram países em desenvolvimento, entretanto esse cenário foi totalmente distinto em 2023, quando os países emergentes ocuparam 9 das 10 posições, com a Indonés ia na liderança e o Brasil em nono lugar.
Concluindo, fazendo-se uma análise dos investimentos chineses no mundo, de 2015 a 2023, a República Popular da China investiu cerca de US$ 1,13 trilhão, nos Estados Unidos foram aplicados nesse mesmo período US$ 145,0 bilhões e no Brasil em torno de US$ 45,0 bilhões, ressaltando entretanto que no Brasil no período de 2007 a 2023 foram investidos US$ 73,3 bilhões onde o setor elétrico representa 45% desse total e a STATE GRID do Brasil ocupa 39% desse percentual, ressaltando consequentemente a importância substancial dos Investimentos Diretos da República Popular da China, no Brasil.
REFERÊNCIAS
CEBC – CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL. China. Investimentos Chineses no Brasil, 2023.
CHUMACERO VANDERLEI, Gary Raines. Dissertação. State Grid: A inserção chinesa no setor elétrico brasileiro. 2018. UF.Pb.
CUNHA, Paulo Gustavo. China: de Confúcio à modernidade. São Paulo, 2015.
KISSINGER, Henry. Sobre a China. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
*Engenheiro, ex-Coordenador de Relações Internacionais da Prefeitura do Recife
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