Ancelotti, o técnico sem
filosofia
Treinador
representa o futebol moderno, prático, que associa talento, estratégia e
disciplina
Tostão/Folha de S. Paulo
Existe um consenso de que o italiano Ancelotti, campeão em vários países, é um grandíssimo treinador, embora alguns achem que o técnico da seleção deveria ser um brasileiro. Outros pensam que o fato de ele nunca ter sido treinador de seleção possa prejudicá-lo, ainda mais em outro país.
Ancelotti já mostrou que se adapta
muito bem a diferentes circunstâncias e tem bom relacionamento com jogadores,
dirigentes, torcedores e imprensa esportiva.
Por melhor que ele seja, não há
nenhuma certeza de que a seleção dará um salto de qualidade. O desempenho e os
resultados dependem de muitos fatores, como a qualidade dos jogadores, dos
adversários e de inúmeros detalhes previsíveis e imprevisíveis.
Os problemas da seleção não são
apenas coletivos. Existe uma carência nas laterais, no meio-campo e na posição
de centroavante. Quando digo isso, não comparo com os craques dessas posições
presentes na história do futebol brasileiro, e sim com jogadores
atuais dessas posições de outras fortes seleções.
Como todas apresentam também
deficiências, o Brasil é sempre candidato a ganhar um título mundial. Se
melhorar com Ancelotti, aumentam as chances.
Na convocação não houve grandes surpresas. Há muitos outros jogadores mais ou menos do mesmo nível de alguns que foram chamados. Casemiro deve ser o titular. Ancelotti o conhece bem e conta com sua liderança e experiência, além de ele ser bom nas jogadas aéreas, defensivas e ofensivas, uma prática cada vez mais decisiva no futebol.
Repito: como o futebol exige hoje muito mais
mobilidade dos jogadores de meio-campo, que marcam, constroem e avançam,
prefiro ver Casemiro mais centralizado na proteção dos defensores, formando um
trio com um meio-campista de cada lado que atuam de uma intermediária à outra.
Isso facilita o avanço dos laterais.
Outra opção de Ancelotti é atuar com
dois volantes e dois pontas que voltam para marcar, formando um quarteto na
proteção dos quatro defensores, além de um meia centralizado ofensivo e um
centroavante.
Bruno Guimarães, o melhor dos
meio-campistas brasileiros, atua com muito mais qualidade no Newcastle do que
na seleção porque o time inglês joga com um volante pelo centro e um
meio-campista de cada lado (Bruno Guimarães e Joelinton). Bruno marca, dá
ótimos passes e avança com muita eficiência. Na seleção ele tem sido apenas um
volante marcador.
O melhor da entrevista coletiva de
Ancelotti ao ser perguntado sobre qual é a sua filosofia de jogo e se prefere o
estilo mais propositivo ou mais reativo, respondeu, com sabedoria e
simplicidade, que não tem filosofia, que seu time joga de acordo com o momento
e as características e qualidades de seus jogadores e adversários e que a
melhor estratégia é a mais bem executada. Ancelotti conhece profundamente o
óbvio.
A festejada contratação de Ancelotti
é também contraditória. Ao mesmo tempo em que existe um desejo nacional, uma
utopia saudosista de que o Brasil volte às suas origens e jogue um futebol
encantador e que dê espetáculo, Ancelotti representa o futebol moderno,
prático, que associa o talento à estratégia e à disciplina.
Assim são o futebol e a vida. Somos
todos contraditórios, uns mais que outros.
[Se
comentar, assine]
Leia também: "Mergulhar fundo para avançar na superfície" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/meu-artigo-no-portal-da-fundacao.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário