31 julho 2025

Palavra de poeta

Não diga nada!

Fernando Pessoa 

Não diga nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta descoberta em nada se dizer
E tudo se entender —
Tudo metade
De sentir e de ver…
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez amanhã

Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada…
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

 

[Ilustração: Camilo Engel]

Veja:”Pra dizer adeus”   https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/edu-lobo-e-maria-bethania-pra-dizer.html 

Claúdio Carraly opina

Brasil e Estados Unidos: uma guerra assimétrica
Cláudio Carraly*  

A ordem executiva assinada por Donald Trump impondo tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e citando nominalmente Jair Bolsonaro e o blogueiro Paulo Figueiredo, não é apenas uma escalada comercial, é uma declaração de guerra econômica contra o povo brasileiro. É a confirmação definitiva de uma nova fase da guerra assimétrica que os Estados Unidos travam contra países que ousam exercer a sua soberania, e representa o momento em que a máscara da “parceria” finalmente caiu. Ao falar de interferência política direta com chantagem econômica, Trump revelou que há de mais arcaico e desesperado na política externa estadunidense.

A justificativa apresentada pela Casa Branca de que o governo brasileiro representa uma "ameaça incomum e extraordinária" à segurança nacional dos EUA expõe a paranóia de um império em decadência. Declarar emergência nacional com base na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional de 1977 contra o Brasil, enquanto simultaneamente sanciona o ministro Alexandre de Moraes pela Lei Magnitsky, demonstra o desespero de quem perdeu a capacidade de exercício de influência através de meios diplomáticos ocasionais.

Durante décadas, os EUA mantiveram sua posição hegemônica no mundo através de uma combinação de uma diplomacia prejudicial, força militar, influência econômica e dominação cultural. No entanto, essa hegemonia já não se sustenta mais, a emergência de novos atores globais e o fortalecimento de blocos alternativos como os BRICS, que buscam investimentos de projetos multilaterais de desenvolvimento e cooperação, têm progressivamente minado o poder unilateral dos EUA. O mundo já não gira em torno de Washington e isso os incomoda profundamente.

O Brasil, ao adotar uma política externa mais autônoma e orientada para o multilateralismo, naturalmente passa a atrapalhar essa ordem em ruínas. As recentes aproximações com a China, com os BRICS+, com países do Sul Global e a defesa de uma nova governança internacional mais equânime colocam o Brasil num novo eixo estratégico. E essa guinada, ainda que moderada e gradual, é percebida pelos setores do establishment norte-americano como um ato de desobediência intolerável.

A inclusão de Bolsonaro e Paulo Figueiredo na ordem executiva revela uma estratégia ainda mais sinistra e antidemocrática: a instrumentalização de extremistas de direita como pretexto para pressão geopolítica devastadoras contra o Brasil. Trump não defende genuinamente os direitos humanos, muito pelo contrário, o que vemos é a operação clássica de utilização de seus aliados internos para causar a destruição econômica de uma nação soberana.

Essa guerra assimétrica não se dá no campo de batalha tradicional, já não há tanques, e não há invasões. O que existe é chantagem comercial, manipulação midiática, operações de desinformação e uso político de organismos internacionais. A atual administração dos EUA pressionou empresas, impôs decisões, desestabiliza democracias por dentro e cria narrativas para explicar suas ações, tudo sob a bandeira da "liberdade" e dos "direitos humanos", ainda que o que esteja em jogo seja, sempre, o controle de mercados e recursos alheios.

A tarifa de 50% não é apenas uma medida comercial, é um recado político. É uma tentativa de punir economicamente o Brasil para exercer sua soberania judiciária e para não se curvar às pressões externas. Quando Trump afirma que está “protegendo a segurança nacional dos Estados Unidos de uma ameaça estrangeira”, ele revela a essência imperial de quem não tolera que outros países tomem decisões independentes que contrariem os interesses do velho poder.

Os brasileiros precisam estar cientes disso. Estamos entrando, pelo nosso crescimento com um ator global extremamente relevante, em uma disputa geopolítica na qual o país será constantemente provocado, testado e baseado. A guerra é comercial, mas também simbólica. Está em jogo a capacidade do país de construir um projeto nacional soberano, voltado para o desenvolvimento com justiça social e inserção internacional altiva. E, ao contrário do que muitos imaginam, isso não será permitido pacificamente aos que ainda se imaginam senhores do mundo.

A tentativa do presidente Lula de estabelecer diálogo, relatada em entrevista ao New York Times quando afirmou que "ninguém dos EUA quer conversar" sobre o tarifaço, demonstra a maturidade diplomática brasileira diante da intransigência estadunidense. Enquanto o Brasil busca o diálogo, eles responderam com ultimatos e sanções.

Por isso, o caminho do Brasil não pode ser o da submissão, tampouco o alinhamento automático com qualquer potência. O país precisa afirmar sua soberania com lucidez e estratégia, ampliando suas parcerias sul-sul e aprofundando sua integração com a América Latina e a África. Além disso, deve fortalecer o papel dos BRICS como alternativa real à ordem unipolar e apostar em instrumentos financeiros próprios, como o comércio em moedas locais e o uso de bancos multilaterais independentes.

Ao mesmo tempo, é preciso resistir às tentativas internacionais de sabotagem de extrema direita. Grupos políticos locais alinhados a interesses estrangeiros atuam como verdadeiros cavalos de Troia, não só aqui, mas no mundo todo, esses grupos buscam desestabilizar governos democraticamente eleitos, desacreditar políticas públicas nacionais e semear o caos como pretexto para restaurar um modelo de dependência que agoniza de morte. A ordem executiva de Trump foi dirigida a eles, não ao Brasil democrático e soberano.

O império, ao agir dessa forma, apenas confirma sua decadência terminal e seu desespero crescente. Quando um país precisa recorrer a avaliações econômicas brutais e interferências políticas descaradas para tentar manter sua influência, isso demonstra a sua falência iminente, o esgarçamento do seu modelo de liderança global. É o comportamento típico de um predador acuado, sem capacidade de seduzir ou convencer, resta apenas uma tentativa patética de ameaçar quem ousa desafiá-lo. E, quando um país tenta exportar sua crise interna para outro, é preciso firmeza.

O Brasil precisa entender que o novo conflito em curso não é apenas econômico, e sim civilizacional. A disputa é entre um modelo de mundo multipolar, democrático e respeitoso à soberania nacional de todos os estados nacionais, e outra que insiste na dominação unilateral através da força e da chantagem, neste embate, não basta sobreviver é preciso liderado e direcionado o futuro.

Ou o Brasil assume seu papel como ator geopolítico soberano, com projeto próprio, resistindo às pressões e construindo alternativas concretas à ordem nati-morta, ou será tragado pela tempestade de um antigo império que, sem conseguir mais mandar no mundo, tenta arrastá-lo para o fundo com ele. Este não é mais um debate acadêmico ou uma reflexão diplomática. Cada brasileiro precisa entender que estamos vivendo o momento decisivo, não se trata apenas de economia ou política externa, trata-se de definir se teremos um país realmente soberano ou se serão limitados de volta à condição de colônia.

As forças entreistas internacionais, aquelas mesmas que Trump cita em sua ordem executiva, trabalham incansavelmente para sabotar qualquer projeto nacional independente. Eles sabem a subordinação confortável à dignidade da luta. Precisam ser identificados, expostos e politicamente derrotados em cada espaço de poder que ocupam, carregando para sempre o carimbo de quinta-colunistas que são.

A batalha não será fácil, um antigo império ferido é muito mais perigoso, mas nunca na história moderna houve condições tão elaboradas para quebrarmos definitivamente as correntes de nossa dependência. China, Índia, Rússia, África, os países árabes, todos enfrentam o mesmo tipo de chantagem em algum momento de suas trajetórias. A história julgará sem piedade quem se omitiu nesse momento tão grave. O Brasil não tem apenas uma oportunidade, mas o dever histórico de ser um dos líderes da resistência global contra a tirania dos EUA sob Trump. O futuro se decidir hoje, a neutralidade é cumplicidade e o colaboracionismo crime! Soberania de verdade só se conquista com luta.

*Advogado, ex-secretário executivo de Direitos Humanos de Pernambuco.

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Leia também: Para além do “economicismo governamental” https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_5.html 

Postei nas redes

O cara escreve no Globo que Lula não quer negociar com os Estados Unidos para encontrar uma solução para as nossas relações; quer tirar proveito político-eleitoral do tarifaço. Esse irresponsável desvia-se da honestidade de se declarar de oposição — ao governo e ao Brasil. 

Leia: O busílis da questão https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/06/minha-opiniao_16.html 

Emprego avança

Brasil bate novo recorde e tem menor nível de desemprego da história
Pessoas nessa condição correspondem a de 5,8%, o menor patamar desde 2012. Com isso, número de empregados também atingiu seu melhor índice, num total de 102,3 milhões de pessoas
Priscila Lobregatte/Vermelho  

O desemprego no Brasil continua caindo e chegou ao patamar de 5,8%, o menor da série histórica em 13 anos. Em relação ao trimestre de janeiro a março (7%), a redução foi de 1,2 ponto percentual. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior (6,9%), a queda foi de 1,1 pp. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo IBGE nesta quinta-feira (31).

Desde 2012, o índice não era tão baixo. Pelas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou o resultado: “É para isso que seguimos trabalhando todos os dias. Emprego, renda, dignidade”.

O IBGE também apontou recordes na taxa de participação na força de trabalho, que ficou em 62,4%, bem como no nível da ocupação, de 58,8%, igualando-se ao trimestre de setembro a novembro de 2024. De acordo com a pesquisa, a população ocupada, de 102,3 milhões, foi recorde da série histórica. Houve crescimento tanto no trimestre — , 1,8% (mais 1,8 milhão) — quando no ano — com avanço de 2,4% (mais 2,4 milhões).

Leia também: Lula sanciona Programa Acredita Exportação para incentivar pequenos negócios

“O crescimento acentuado da população ocupada no trimestre influenciou vários recordes da série histórica, dentre eles a menor taxa de desocupação”, explica Adriana Beringuy, coordenadora da pesquisa.

No campo inverso, o da população desempregada, que soma 6,3 milhões, o recuo foi de 17,4% (cerca de 1,3 milhão de pessoas) no trimestre e de 15,4% (menos 1,1 milhão) no ano.

Carteira assinada x informalidade

Dado igualmente bastante positivo trazido pelo levantamento diz respeito a outro recorde: o empregados com carteira assinada no setor privado. Ao todo, esse contingente soma 39 milhões de pessoas, resultado 0,9% superior ao apresentado no trimestre anterior. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 3,7%.

Ao mesmo tempo, foi identificada queda na informalidade. No período analisado, essa taxa foi de 37,8%, índice inferior ao verificado tanto no trimestre móvel anterior (38%), como no mesmo trimestre de 2024 (38,7%).

Segundo o IBGE, “a taxa de informalidade registrada de abril a junho de 2025 só é maior do que a observada em igual trimestre de 2020 (36,6%). A queda na informalidade aconteceu apesar da elevação de 2,6% do contingente de trabalhadores sem carteira assinada (13,5 milhões), acompanhada da alta de 3,8% do número de trabalhadores por conta própria com CNPJ (mais 256 mil) na comparação trimestral, e mostrou estabilidade no confronto anual”.

Nesse cenário favorável, o contingente de desalentados atingiu seu menor nível em quase dez anos. Ao todo, são 2,8 milhões de brasileiros nessa situação, com recuos de 13,7% frente ao trimestre de janeiro a março de 2025, e de 14% em relação a abril a junho de 2024, quando existiam 3,2 milhões de pessoas vivendo nessa condição.

Ganhos dos trabalhadores

Os avanços que o Brasil vêm obtendo na economia e no mercado de trabalho também se refletem no aumento dos ganhos. O rendimento médio mensal real chegou a R$ 3.477 no trimestre de abril a junho de 2025, outro patamar recorde.

Conforme a pesquisa, houve crescimento de 1,1% ante o período de janeiro a março deste ano, e de 3,3% quando comparado ao mesmo trimestre do ano anterior. Já a massa de rendimento real habitual (a soma das remunerações de todos os trabalhadores) atingiu R$ 351,2 bilhões, também recorde, subindo 2,9% no trimestre, um acréscimo de R$ 9,9 bilhões, e aumentando 5,9% (mais R$ 19,7 bilhões) no ano. 

“O resultado recorde da massa de rendimento é consequência da significava expansão da ocupação no trimestre, acompanhada de crescimento do rendimento médio real dos trabalhadores”, observa Adriana.

Juntamente com esses dados, o IBGE também publicou a reponderação da série histórica da Pnad Contínua Mensal. A reponderação da pesquisa em 2025 considera os totais populacionais das Projeções de Populações, divulgadas em 2024, que incorporam os resultados do último Censo Demográfico, realizado em 2022.

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Veja: Desenvolvimento e estagnação no Brasil https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/05/desenvolvimento-x-estagnacao-no-brasil.html 

Arte é vida

 

Maurício Arraes

O indispensável diálogo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_28.html 

Postei nas redes

Pesquisa Quaest revela que 60% das menções nas redes sociais criticam a decisão de Donald Trump de aplicar a Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes e apenas 28% defendem. Extrema direita sofre, "tá okay?" 

A caminho da insignificância https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_26.html 


Minha opinião

Trump e o programa do PCdoB*
Luciano Siqueira    
instagram.com/lucianosiqueira65  

Que têm a ver as agressões do presidente dos Estados Unidos com o Programa Socialista para o Brasil sustentado pelo PCdoB?

Tudo. O quase tudo. 

A mescla de tarifaço com ingerência sobre as instituições jurídicas brasileiras ataca a soberania do nosso país. 

Remete precisamente a uma das questões essenciais da proposição sustentada pelo PCdoB de que é necessário e possível — numa percepção estratégica — a superação do capitalismo por uma forma de socialismo com o jeito da nossa gente e o cheiro do nosso barro.

Longo e arriscoso caminho a percorrer? Sim. Mas apontar a perspectiva é o ponto de partida.


Afirmar e defender a nação contra investidas e imposições imperialistas e hegemonistas em íntima correlação com as demandas democráticas e sociais deve inspirar a militância cotidiana. 

Acontece, mas nem sempre é simples. Requer “consciência programática” e sensibilidade para identificar, no curso dos acontecimentos, os elementos que mais simbolicamente se prestem à correlação entre o particular e imediato e o geral, no caso, um outro projeto de nação.

Entretanto, às vezes os fatos são tão retumbantes que favorecem essa correlação de modo amplamente compreensível.

O “caso Trump” nos dá de bandeja a oportunidade de debater o tema (e afirmar o nosso Programa) em toda parte. É o assunto do dia, mais do que o futebol ou o último assalto na rua ao lado.


Melhor: a partir mesmo da voz do presidente da República, o governo se posiciona como guardião da democracia e da soberania do país, possibilitando que, na análise dos fatos, mesmo a mais ligeira e pontual, venha à tona a plataforma de reconstrução nacional que dá conteúdo à frente ampla aglutinada em torno de Lula.


De quebra, o arrazoado de Trump incluindo como uma das justificativas do tarifaço e das sanções restritivas contra o ministro do STF Alexandre de Moraes a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, contribui para isolar e enfraquecer a corrente bolsonarista que pontifica na extrema direita recém-ascendente no país. 

O estremecimento do chamado multilateralismo, sob a desordem nas relações comerciais promovida por Trump, contraditoriamente repercute positivamente no sentido de uma maior diversificação das relações comerciais do Brasil, mediante política externa soberana e propositiva. 

Em síntese, os comunistas e seus aliados mais próximos encaram o momento presente como uma oportunidade de fortalecimento do governo Lula e da explicitação de caminhos pelos quais se possa dar um passo adiante.

*Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho www.vermelho.org.br  

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Leia também: Para além do “economicismo governamental” https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_5.html

Humor de resistência

Gilmar

O caminho da insignificância https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_26.html 

 

Enio Lins opina

O esgoto bolsonarista transborda e céu escorre aberto
Enio Lins 

ALÉM DO FILHO 03  do capitão de milícias, outros personagens são esmerados em expor suas próprias tripas e os produtos deles advindos. Pútridos. E se regozijam ao fazer isso, em atos públicos de coprofilia política e ideológica. O falso patriotismo de Jair et caterva nunca enganou ninguém fora do bolhão mitológico deles, mas é chocante testemunhar um Bananinha, terceiro deputado federal mais votado em São Paulo, trombeteando sua traição nacional, em êxtase ao se apresentar como sabotador da economia brasileira. E um senador capixaba se jactando de ser cabueta dos serviços de informação dos Estados Unidos? Uma distopia patética e muito perigosa, convenhamos.

NUM ATO SEM PRECEDENTES , um parlamentar se homizia no país alheio, e cavalgado pelo governo estrangeiro, promove agressões que causam danos enormes na economia de sua nação original. Esse extremo-entreguismo não tem paralelo no mundo atual, embora possam ser encontrados exemplos de traição nacional semelhantes no passado remoto. Na história antiguíssima, tempo onde as lendas se misturam com a realidade, existe uma triste figura de um traidor chamado Efialtes, um espartano (deficiente físico, segundo as crônicas), que descobriu o rei persa Xerxes, a ele se vendeu, e guiou as tropas persas numericamente superiores para surpreender o rei de Esparta, Leônidas, derrotando a resistência espartana na Batalha das Termópilas, em agosto de 780 aC Assistiu o arquivo “300”? Hoje, Dudu e seus asseclas, Efialtes de bombas financeiras, são aleijões morais. Ah, sim: No caso da traição aos espartanos, ao fim e ao cabo, a superpotência persa perdeu a guerra.

ALÉM DO DEPUTADO DUDU , um senador bolsonarista ambicioso aos Estados Unidos, desrespeitando decisão anterior do STF, e de lá desacatou a suprema corte brasileira em postagens atrevidas. Mas “se surpreendeu” ao ter as contas bloqueadas, assim como vetado seu acesso ao pix. O político está respondendo a um processo sobre sua participação na tentativa de golpe e por, efetivamente, tentar intimidar agentes federais. Em agosto de 2023, ocorreu um bloqueio de R$ 50 milhões em suas contas e bens, o que parece não ter o afetado. E informa o site metrópoles.com/brasil: "Antes de ir para os Estados Unidos, contrariando determinações do Supremo Tribunal Federal (STF), o senador Marcos do Val se gabou ao Metrópoles ter um visto “categoria S" para o país norte-americano. Esse tipo de documento é utilizado pela Casa Branca para permitir a entrada de estrangeiros que forneçam informações relevantes". É isso mesmo: o sujeito (senador e milionário) se gaba de ser cabueta (forma alagoana de falar “alcaguete”)!

MAS O PIOR NESSA meleira toda é o eleitorado brasileiro eleger duas feridas como o Zero-três e a cabueta reforçada. E não se diga que foram eleitos por algum processo fraudulento. Não. As urnas eletrônicas eliminaram essa antiga chaga no nosso sistema político, a modernidade tecnológica que chateia enormemente o bolsonarismo que, insatisfeito com a quantidade de votos recebidos, acha melhor jair urdindo a restauração do fraudável voto em papel para adulterar para mais seus resultados. Infelizmente para o Brasil, as urnas eletrônicas invioláveis atestaram a representatividade desses deletérios: Dudu, o traidor da pátria, abiscoitou 741.701 votos paulistas (3,12% dos votos válidos) em 2022; Val, o alcagueta, amealhou 864.359 votos capixabas (24,08% dos votos válidos) em 2018. Construir uma nação soberana, com esse número de eleitores do que em traíras, não é fácil. E olhe que Dudu Bananinha perdeu 1,1 milhão de votos entre 2022 e 2018!

DENUNCIAR ESSA CAMBADA  de traidores é a principal tarefa democrática nesta quadra de tempo. A meta é informar à população nome por nome dessa súcia para que essa bancada lesa-pátria seja eliminada – pelo voto – do cenário nacional.

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Leia também: Para além do “economicismo governamental”  https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_5.html

30 julho 2025

Palavra de poeta

diáspora
Cida Pedrosa 

abro os olhos
e a quarta-feira é cinza

as taras da noite me perseguem
neste quarto de hotel

é bom acordar sem deus
descer a rua
e ver o mesmo flanelinha no ofício

diáspora
palavra que me segue
sem pedir perdão

sou retalho carne dilacerada
fragmento escuridão

abro as pernas no sinal
os carros passam
e o vento leva  pó para o meu rosto

a noite chega
a quarta-feira é cinza
e faz  tempo que me perdi de mim

[Ilustração: Childe Hassam]

Leia também: 'Publicação do corpo', um poema de Alberto da Cunha Melo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/palavra-de-poeta_6.html 

Postei nas redes

Lula disse ao  New York Times que o Brasil “não vai negociar como se fosse um país pequeno diante de um país grande” diante do tarifaço de Trump. Falou pela honra da nação. 

Leia também: Para além do “economicismo governamental”  https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_5.html 

Sylvio: nem se compara

O Brasil tinha saído do mapa da fome no governo de Lula, voltou no desgoverno Bolsonaro e agora sai de novo com Lula, segundo relatório da ONU. Dá pra comparar?

Sílvio Belém 

O diálogo indispensável https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_28.html 

Fotografia

 

Helmut Newton

Veja: Reforma tributária e desenvolvimento nacional https://www.youtube.com/watch?v=wNAWnBHyEOg&t=13s 

Lula no New York Times

Lula ao NYT: “O Brasil exige respeito e não cederá às pressões de Trump”
Em sua 1ª entrevista ao jornal em 13 anos, Lula reafirmou que o Brasil não negociará sob pressão, criticou as tarifas de 50% e defendeu a soberania nacional
Lucas Toth/Vermelho   

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ao  New York Times  que o Brasil “não vai negociar como se fosse um país pequeno diante de um país grande” diante da ameaça do governo Donald Trump de tarifas de importação de 50% sobre produtos brasileiros. 

Foi a primeira entrevista de Lula ao jornal norte-americano em 13 anos e, segundo o  NYT , um gesto calculado para falar diretamente ao público dos Estados Unidos em meio ao agravamento da crise diplomática entre os dois países.

As matérias publicadas pelo jornal enfatizam que Lula é hoje “possivelmente o líder mundial que mais desafia Trump” e destaca o uso recorrente do tema da soberania nos discursos do presidente brasileiro. 

Desde que o governo Trump condicionou o fim da medida tarifária à suspensão do processo criminoso contra Jair Bolsonaro, Lula passou a reforçar que não aceitará pressões externas. 

"Nós conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos o poder militar dos Estados Unidos, confirmamos a dimensão tecnológica dos Estados Unidos. Mas seriedade não exige subserviência", disse.

O presidente brasileiro reagiu com firmeza às ameaças feitas por Trump pelas redes sociais e classificou a postura do ex-presidente dos EUA como “vergonhosa” e “fora de todo padrão de negociação e diplomacia”. 

Ele disse que divergências comerciais e políticas precisam ser resolvidas com diálogo, e não por meio de ultimatos. 

"Quando você tem uma divergência comercial, uma divergência política, você pega o telefone, marca uma reunião, conversa e tenta resolver o problema. O que você não faz é taxar e dar um ultimato", afirmou.

Lula também reiterou que o caso Bolsonaro não está em negociação, já que a Justiça brasileira atua de forma independente. "Talvez ele não sabe que aqui no Brasil o Judiciário é independente. O processo tem que transcorrer livremente e sem intromissão da política nesse processo", disse. 

NYT  detalhou que Bolsonaro pode pegar décadas de prisão por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 e que recentemente passou a usar tornozeleira eletrônica por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Questionado sobre a possibilidade de as tarifas entrarem em vigor, Lula afirmou que não teme Trump, mas está preocupado com os impactos econômicos. Ele disse que estudará medidas de retaliação, mas que, se necessário, procurará outros mercados para os produtos brasileiros. 

"Nem o povo americano nem o povo brasileiro merecem isso. Vamos sair de uma relação de 201 anos de ganhos-ganha para uma relação de perde-perde", anunciava. 

O presidente também disse que pediu contato com Trump em diversas graças, mas a Casa Branca não tem respondido. "O que está impedindo é que ninguém quer conversar. Todos sabem que tenho pedido para fazer contato", afirmou.

Ao  New York Times , Lula reforçou que está pronto para o diálogo, mas não abrirá a mão da soberania nacional. 

"Na política entre dois Estados, a vontade de nenhum deve prevalecer. Sempre precisamos encontrar o meio-termo. Isso não se consegue estufando o peito e gritando coisas que você não pode cumprir, nem abaixando a cabeça e simplesmente dizendo 'amém' para tudo o que os Estados Unidos querem", disse.

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Leia também: Para além do “economicismo governamental”  https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_5.html

Tarifaço confirmado

Trump assinou decreto e confirma “tarifaço” de 50% contra o Brasil
A Casa Branca alega ameaça “à segurança nacional, à política externa e à economia dos EUA”. Lista de abordagens, do suco de laranja às aeronaves, mostra que Trump nunca teve intenção de negociar
Murilo da Silva/Vermelho  

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou o “tarifaço” contra o Brasil, nesta quarta-feira (30), ao aprovar o decreto em que adiciona 40% de tarifa aos 10% já aplicados. A informação partiu da Casa Branca, em comunicado que alega uma suposta ameaça “à segurança nacional, à política externa e à economia dos EUA” para aumentar a tributação contra os produtos brasileiros para 50%.

A ordem determina que as tarifas comecem a valer em sete dias, portanto, em 6 de agosto – o anúncio anterior colocava o dia 1 de agosto como data inicial. O documento (veja  em inglês ) revelou as mesmas mentiras sobre perseguição do Judiciário brasileiro ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores, assim como novamente alega, falsamente, perseguição a empresas norte-americanas, principalmente as big techs.

Também acusa — com o mesmo discurso enviado de antes — o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de ser um dos principais agentes de “perseguição” a Bolsonaro e às empresas e cidadãos dos EUA.

Leia mais:  No xadrez tarifário, empresas apelam a Trump que cogita isentar alguns produtos

A Casa Branca não cita em nenhum momento as inúmeras tentativas de diálogo pelo governo brasileiro para negociar as tarifas, o que revela que Trump, em nenhum momento, quis negociar, como tentei fazer parecer. Na verdade, Trump e a extrema direita, aliado à família Bolsonaro, buscam sancionar o Brasil como forma de tentar defender uma das maiores democracias do mundo e, ao mesmo tempo, impedir que a influência dos BRICs e a pauta da desdolarização das relações comerciais entre seus membros avancem.

Exceções

Outro manifesto evidente de que o governo Trump não atua pelo comércio bilateral, mas sim pela pauta política, é que, no próprio decreto, há propostas de produtos brasileiros que não serão sobretaxados.

Leia mais:  Nordeste articula saídas para reduzir impacto do tarifaço de Trump

Entre uma lista de produtos que continuam com a taxa somente em 10% estão suco e polpa de laranja, minerais de ferro e de estanho, carvão, petróleo e derivados, fertilizantes minerais ou químicos, diversos tipos de artigos de borracha, máquinas e motores, além de aeronaves comerciais – o que diz respeito especialmente à Embraer.

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Leia também: Para além do “economicismo governamental”  https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_5.html

Palavra de poeta

Solidão
Lília Gondim* 

Ela vem, como invasor intratável,
se instala,
se ajeita, desfaz a mala
e habita
meu corpo surpreso da sua ousadia.

Ela vem, como herdeira incontestável,
me agride,
me bate, morde
e se faz dona
do meu corpo inerte à sua maldade.

Ela vem, posseira inquestionável,
me toma,
se aconchega, aperta, toca,
e se apossa
do meu corpo sujeito à sua vontade.

Ela vem, amante insuperável,
me envolve,
enlouquece, deita e rola,
e toma
minha alma largada ao seu desejo.

[Ilustração: Ramon Casas]

*Lília Gondim, é economista, funcionária pública estadual aposentada, escreve contos, crônicas e poemas.

Humor de resistência

 

Aroeira

Unir o Brasil para rechaçar ataque de Trump https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/palavra-do-pcdob_11.html 

Brasil na cena global

Brasil sob Lula desafia tendência autoritária global e avança na democracia, revela estudo internacional
Relatório V-Dem 2025 revela que o país interrompeu processo de autocratização e é destaque mundial por fortalecer sua democracia liberal
Ana Gabriela Sales/Jornal GGN  

Enquanto potências globais escorregam rumo ao autoritarismo, o Brasil surpreende o mundo ao emergir como uma exceção democrática. Sob o terceiro mandato do presidente Lula (PT), o país deu um passo firme no sentido oposto ao da maioria das nações, fortalecendo a democracia liberal e evitando o colapso institucional, segundo o Relatório V-Dem 2025, produzido pela Universidade de Gotemburgo, na Suécia.

A pesquisa, considerada a mais abrangente do mundo sobre regimes políticos, contabiliza atualmente 88 países democráticos e 91 autocráticos. Pela primeira vez em mais de cinco décadas, mais pessoas vivem sob regimes autoritários. Ainda assim, o Brasil foi na contramão: conseguiu reverter parte da deterioração institucional vivida entre 2016 e 2022.

Apesar dos avanços, o relatório mostra que o Brasil ainda sente os efeitos da autocratização iniciada com o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e agravada durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). O país ocupa a 29ª posição global, com nota 0,71 (numa escala em que 1 representa democracia plena). A liderança mundial é da Dinamarca, com 0,88, enquanto o Chile, com 0,79, é o país mais democrático da América Latina. Já os Estados Unidos registraram queda, figurando na 25ª posição, com 0,75.

O Brasil enfrentou uma forte crise da democracia, mas conseguiu recuperar e não evoluir para um regime autoritário”, afirmou Tiago Fernandes, professor do Instituto Universitário de Lisboa (Iscte) e diretor do Centro Regional V-Dem Europa do Sul. As declarações estão na reportagem de Jair Rattner, publicada pelo portal Público.

O Brasil foi tema de quatro artigos científicos incluídos no relatório, sinal da relevância internacional do caso. O levantamento analisa mais de 600 indicadores e conta com a colaboração de 4.200 acadêmicos e especialistas, com base de dados que cobre 202 países desde o ano de 1789. 

Pilares que evitaram o colapso democrático

Para Fernandes, a resistência democrática brasileira se apoiou em três eixos fundamentais. O primeiro foi a força da sociedade civil. “A primeira foi a força da sociedade civil, que conseguiu pôr gente na rua, em uma aliança entre vários grupos sociais distintos, para defender o Estado democrático de direito. Nos Estados Unidos, contra Donald Trump, não se vê gente na rua, a não ser episodicamente”, observou o pesquisador.

O segundo fator foi a atuação decisiva do sistema judicial, sobretudo no enfrentamento aos atos golpistas. “O Poder Judiciário conseguiu levar Bolsonaro a tribunal pela tentativa de golpe de Estado”, pontuou Fernandes, referindo-se aos processos em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) e à responsabilização de militares e apoiadores envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

O terceiro ponto foi a articulação política durante as eleições de 2022, que culminou na vitória de Lula. “Criou-se uma frente pró-democracia. Mesmo partidos do ‘centrão’, frequentemente associados à corrupção, romperam com Bolsonaro e passaram para o lado da democracia nas eleições de 2022”, explicou.

Desafios

Embora o Brasil seja hoje visto como um dos países que mais se distanciaram do autoritarismo, o discurso bolsonarista, ainda presente na oposição, acusa o Judiciário de governar com mão de ferro. “Trata-se de um discurso simplificado de ódio, facilitado por uma visão de mundo bipolar, entre nós e eles”, rebateu Fernandes.

Ele chamou atenção ainda para o fato de que o risco autoritário não está totalmente afastado: “Esse movimento autoritário pode voltar algum dia, apoiando outra personalidade política do tipo Bolsonaro”.

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Terras raras, EUA x Brasil

Terras raras: EUA precisam do Brasil; e agora?
Após tarifaço, Washington revela cobiça por minérios estratégicos brasileiros – e apela para chantagem comercial. Sua enorme necessidade é também sua fraqueza. Lula enfrenta encruzilhada estratégica e pode virar ator central na disputa
João Stacciarini e Ricardo Assis Gonçalves, no The Conversation Brasil/Outras Palavras 

Representantes do governo americano demonstraram interesse nos minerais estratégicos do Brasil como moeda de negociação diante da recente decisão de Washington de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A sinalização aponta para um movimento geoeconômico cada vez mais evidente: os Estados Unidos estão mobilizando sua política comercial na tentativa de garantir acesso a insumos minerais cruciais para setores considerados estratégicos, como a transição energética e a inteligência artificial.

Mas o que são, afinal, os chamados minerais estratégicos? Qual a sua importância na atual ordem global — e por que o Brasil passou a ocupar posição relevante nesse tabuleiro? 

O que são minerais estratégicos e por que importam tanto

Embora o conceito varie conforme instituições e contextos, a Agência Internacional para as Energias Renováveis define como minerais estratégicos — também conhecidos como minerais críticos — aqueles considerados essenciais para tecnologias fundamentais da transição energética (ou tecnologias de ponta), que apresentam uma ou mais das seguintes características: produção concentrada em poucos países, dificuldades técnicas ou ambientais para extração, ou declínio na qualidade e disponibilidade das reservas.

A lista pode variar conforme o período e a metodologia de análise, mas geralmente inclui elementos como cobalto, níquel, cobre, lítio e os metais de terras raras. Esses recursos são indispensáveis à produção de baterias, painéis solares, turbinas eólicas, veículos elétricos, semicondutores, equipamentos médicos, sistemas de defesa, satélites e infraestrutura digital de alto desempenho — componentes centrais tanto da economia digital quanto da transição energética global.

Energia renovável: o novo motor da demanda mineral

O crescimento da demanda por energia renovável tem sido exponencial. Segundo o Energy Institute, todas as principais fontes globais de energia bateram recordes em 2024, impulsionadas por um aumento expressivo no consumo mundial. Entre 2013 e 2022, a energia solar e a eólica atraíram investimentos de US$ 1,63 trilhão e US$ 1,31 trilhão, respectivamente, resultando em expansões de capacidade de 1.817,6% e 362,3% no período.

Ao mesmo tempo, os Estados Unidos enfrentam a crescente liderança da China nesse setor. Atualmente, o país asiático gera cerca de 4,4 vezes mais energia solar e 3 vezes mais energia eólica do que os EUA. Essa disparidade acende um alerta geopolítico: além do domínio tecnológico, a China também controla boa parte da cadeia de suprimentos dos minerais necessários para essas tecnologias.

Ademais, as fontes renováveis apresentam características – como menor densidade energética, vida útil reduzida em comparação às fontes tradicionais e limitações nos processos de reciclagem – que ampliam a dependência por minerais. Segundo a Agência Internacional de Energia, uma turbina eólica terrestre pode demandar até nove vezes mais minerais do que uma usina a gás natural de mesma capacidade. Em projetos eólicos offshore, essa relação pode chegar a quinze vezes mais. Veículos elétricos requerem até seis vezes mais minerais estratégicos que os automóveis convencionais, principalmente em razão das baterias de grande porte.

Os painéis solares também são intensivos em minerais. Para se ter uma dimensão da escala, estima-se que os Estados Unidos já possuam 5 milhões de instalações solares, podendo atingir 10 milhões em 2030 e 15 milhões em 2034. Embora a maioria seja de pequeno porte e uso residencial, há inúmeros projetos industriais que, individualmente, ultrapassam 1 milhão de painéis. Todos esses sistemas precisarão ser substituídos ao fim de sua vida útil, que pode variar entre 20 e 30 anos — o que evidencia a magnitude da demanda mineral associada.

A cadeia mineral por trás da inteligência artificial

Outro eixo central dessa disputa é a Inteligência Artificial (IA). Considerada uma das tecnologias mais transformadoras da atualidade, a IA já movimenta cerca de US$ 250 bilhões por ano e deve atingir US$ 830 bilhões anuais até 2030. Logo após reassumir a presidência, Donald Trump anunciou um pacote de reformas e investimentos de US$ 500 bilhões destinados à infraestrutura do setor, em articulação com líderes das principais empresas de IA. 

Contudo, embora frequentemente associada ao universo digital, a IA depende de uma infraestrutura física massiva. São necessários milhares de data centers — instalações com alto consumo energético que concentram servidores, equipamentos ópticos e sistemas de refrigeração, todos fabricados com metais e minerais altamente especializados, em sua maioria extraídos em diferentes regiões do Sul Global.

Atualmente, os Estados Unidos abrigam cerca de 5,4 mil dos 12 mil data centers em operação no mundo, o que reforça a importância do acesso contínuo a insumos minerais.

O xadrez mineral global

O domínio da China sobre a cadeia de suprimentos de minerais críticos representa uma crescente preocupação para os Estados Unidos. O exemplo mais emblemático é o das terras raras — grupo de 17 elementos utilizados em aplicações de ponta, como superímãs, sensores, sistemas ópticos, componentes eletrônicos e ligas metálicas. Em 2023, 68% da produção global das terras raras estava sob controle chinês, enquanto os EUA respondiam por apenas 12%.

Esse desequilíbrio motivou uma série de iniciativas norte-americanas para diversificar o acesso a esses recursos. Em maio de 2025, Trump propôs à Ucrânia um acordo que previa acesso preferencial a contratos de fornecimento de minerais críticos, em troca de apoio na guerra contra a Rússia. No mês seguinte, firmou um controverso pacto com a China, condicionando a emissão de vistos para estudantes chineses à exportação de terras raras.

Brasil na disputa

Estudos recentes indicam que o Brasil pode abrigar a segunda maior reserva de terras raras do mundo — exatamente um dos principais recursos que tem mobilizado ofensivas diplomáticas e comerciais por parte dos Estados Unidos.

O crescente interesse norte-americano nos minerais estratégicos brasileiros insere o país de forma direta nas disputas geopolíticas. Em um cenário no qual a supremacia econômica e tecnológica está cada vez mais ancorada em infraestruturas físicas — como fontes de energia renovável, veículos elétricos e data centers —, o subsolo brasileiro adquire um valor geoeconômico ainda maior.

Entretanto, abundância não é sinônimo de soberania. A simples presença de recursos naturais estratégicos não assegura desenvolvimento, justiça social ou protagonismo internacional. A possibilidade de utilizar esses minerais como moeda de troca nas relações exteriores impõe ao Brasil uma encruzilhada estratégica: atuar como fornecedor passivo de matéria-prima ou como agente ativo, capaz de agregar valor, proteger seus interesses e condicionar acordos a contrapartidas tecnológicas, ambientais e sociais.

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