Lances de um confronto que esquenta
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Impressiona como a grande mídia dominante cuida de defender o
Congresso Nacional do que chama “ataques da esquerda com a convivência do presidente
da República”. E também como se incomoda com os termos firmes e claros da
resposta de Lula a Trump.
Impressiona, mas não surpreende. Na prática, a
corrente de opinião mais bem estruturada, poderosa e influente do país é
exatamente a verbalizada pelo complexo midiático através de múltiplos meios de
comunicação e de um discurso essencialmente único.
A mídia age como partido político e pauta o
parlamento e em certa medida o próprio governo e o judiciário.
Critica a maioria parlamentar fisiológica de
centro-direita e direita apenas quando lhe é conveniente e o faz com traços
moralistas bem distantes da essência política do papel nocivo que deputados e
senadores, agarrados a privilégios, exercem.
Óbvio que o absurdo controle de parcela expressiva do
orçamento pelo parlamento mediante emendas discricionárias é tanto um anomalia
constitucional como um absurdo ético, tamanho o leque de irregularidades
frequentemente vindas à tona na destinação e execução orçamentária de tais
emendas.
Tão absurdo quanto, ou até mais, é o dique de
contenção estabelecido para, na prática, impedir que o governo execute a
plataforma de reconstrução nacional com a qual foi eleito o presidente da
República.
Onde e como a mídia defende agora o parlamento?
Acusando de "exageradas" as críticas que surgem sobretudo pelas redes
sociais, tendo como fio condutor a negativa em taxar os super-ricos sob
falacioso argumento de que se trataria de mais uma manifestação da "sanha
tributária" do governo.
A esquerda, com a cumplicidade do presidente, estaria "introduzindo"
no debate político a divisão dos brasileiros entre pobres e super ricos, como se
este não fosse um dado de realidade.
E agora, com a ampla difusão da firme resposta do
presidente Lula a taxação em de
50% a todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos,
justificada pelo próprio Trump como em razão das resoluções da cúpula do BRICS,
recém-realizada no Rio de Janeiro, e ao que falaciosamente chama de
“perseguição” ao ex-presidente Bolsonaro.
O fato concreto é que a campanha popular que cresce a
cada instante e tende também a ganhar as ruas e o próprio tom ofensivo recém
adotado pelo presidente Lula fazem seus efeitos.
Diante da decisão de Trump, Lula convocou uma reunião
de emergência com sua equipe de ministros.
Nas redes sociais, o presidente reagiu com firmeza:
"O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de
competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum
tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições
nacionais".
Lula também disse que "qualquer medida de
elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira
de Reciprocidade Econômica", vigente desde abril, que autoriza o governo a
retaliar países ou blocos que imponham barreiras comerciais a produtos
brasileiros.
Pesquisa Quaest anota que em torno da polêmica do IOF
61% das críticas nas redes foram direcionadas ao parlamento — com impacto tão
significativo, acrescente-se, que os presidentes das duas Casas legislativas
mostraram em público que sentiram o golpe.
Por enquanto ainda um confronto intermitente, que
tende a crescer na medida em que não apenas segmentos da sociedade espontaneamente
se pronunciem, mas igualmente partidos políticos de feição popular integrantes
da coalizão governista.
*Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho
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Lula reage a tarifaço de Trump https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/lula-reage-tarifaco-de-trump.html
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