07 setembro 2009

A saudade no dizer de cada um

Comentários acerca do meu artigo “A saudade que o dicionário não registra” (ver em uma das postagens anteriores):

“Curiosa essa manifestação da pós-modernidade. A historiografia atual está, cada vez mais, dando voz aos silenciados da história e percebendo que a memória é tão importante para a história quanto os fatos e os registros. Provavelmente o aspecto negativo encontrado no dicionário seja resquício do "positivismo" que estrutura nossa sociedade desde Comte. Chegará o tempo (será que já não chegou?) de ser revisto esse conceito também. Não dizem que a palavra "saudade" é privilégio do Português? Quem sabe, agora, a gente não consiga exportar esse "neologismo" para os outros idiomas e já com o conceito positivo (não negativo) que encontramos hoje?” (Carlos Dantas).
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“Os Nossos falhos dicionários e as palavras que eles não registram... Falar de saudade é coisa muito difícil, saudade é coisa muito séria... Saudade tem um mundo particular e um tempo que é somente seu.

O tempo da saudade é diferente do tempo que mede a sucessão dos dias e das horas, é o tempo que existe entre duas eternidades: uma antes e outra depois...O poeta escreveu um dia algo coisa mais ou menos assim:'Se quiser plantar saudade, primeiro escolha a semente.Plante num chão bem seco e quente, porque se plantar no molhadoela cresce e mata a gente!'
De fato, nada passa mais depressa do que os anos. O nosso tempo é curto - é muito curto e, por essa razão muito preciosa é a vida para não ser vivida ou mal vivida, o que é de todo pior. Nascemos, envelhecemos e partimos... Nada se leva do que tão bobamente se junta e, essa é certamente a grande tolice de quem passa pela vida hipnotizado pela ilusão do ter e do possuir. Tolo, porque o faz para os outros!!!
O Dr. James Huston em seu livro 'Em busca da Felicidade' escreve de forma lapidar: "Achar que o sentido da vida está na gratificação de nossas necessidades pessoais é infantilidade. A dependência para com a satisfação material é um sinal de imaturidade, tanto na criança como no adulto.” Um dia ainda entenderemos o tamanho da estupidez do nosso egoísmo... Aí sentiremos a dor de uma saudade esquisita, porque ocupando e esmagando o vazio de nossa alma, ela mesma gritará: aí que saudade de mim! Essa será (é) saudade de uma dor sem fim, na perspectiva de um profundo lamento do melhor que poderíamos ter sido, feito, apreciado e vivido.

Amigo Luciano, ao contarmos os anos, descobrimos que temos bem menos para viver daqui para frente do que já vivemos até agora. Isso nos faz sentir como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras ele chupou displicente, mas percebendo que faltavam poucas - passou a roer o caroço !!! Já não temos tempo para lidar com mediocridades, perdendo tempo em reuniões para desfiles de egos inflados... Nos inquietaremos sempre com os invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando os seus lugares, talento e sorte.
Assim amigo querido, para diminuir a minha saudade de mim, valho-me da prática do bom revide... A cada pedra lançada, revido lançando a primeira flor!
Porque definitivamente o mundo será sempre da cor de nossa essência, do tamanho dos nossos sonhos e tão bom quanto o sentir do nosso coração. Como nada levaremos, deixaremos pelo menos uma saudade gostosa quando chegar o momento de nossa partida e outros falarão de nossa sombra... Entendendo que a saudade é tão somente a sombra de uma ausência teimosa, sombra esta que os nossos falhos dicionários não registram... Com carinho e com saudade.” (George Arribas).

Um comentário:

Unknown disse...

Amigo Luciano, vi a sua crônica sobre o relevante tema da saudade. Parabéns por escrever sempre sobre o dia a dia, essas pequenas grandes coisas da vida. Pois é, e se os nossos dicionários são ridicos com o termo, dizem que em outras línguas a palavra saudade nem mesmo existe...

Então, que fique mesmo como coisa nossa, mais uma dessa imensa construção coletiva que é a cultura brasileira.

Saudade é quando se sente a falta;é o registro da ausência; da distância da coisa ou pessoa querida. A meu pensar, a saudade é um sentimento intrinsecamente positivo, que aviva as boas lembranças, faz parte do lado bom da vida...Saudade é lembrar hoje o bom momento do passado, afinal ninguém fica curtindo saudade por coisa ruim.

Saudade não faz ninguém triste; triste é quem não sente uma saudadezinha vez em quando.

Ontem, na roda de violão em família, o brinde foi também em homenagem a nossa luta pela Independência, ao Brasil do futuro, do pré sal, do novo fundo social. Dela, extraio uma que tocamos, do grande menestrel do Triângulo Mineiro, Mário Palmério, com o tema que você colocou em debate.

Grande abraço

Luiz Orro, dessa maravilhosa Goiânia.



Saudade

Mário Palmério


Se queres compreender
o que é saudade
Terás que antes de tudo
compreender

Sentir o que é querer
e o que é ternura
E por um bem
um grande amor
viver.

Então compreenderás
o que é saudade
Depois de ter vivido
um grande amor

Saudade é solidão
melancolia
é nostalgia
é recordar
viver

Saudade é solidão
melancolia
é nostalgia
é recordar
viver.