O partido
midiático e suas escolhas
Luciano Siqueira, no Blog da
Folha
Partidos são instituições bem
definidas, política e juridicamente. Estejam ou não bem estruturados ideológica
e organicamente, quando falham em sua missão de representar interesses de
classe para os quais existem, eventualmente são substituídos por outras
entidades.
Isto ocorre particularmente quanto
aos interesses da elite dominante, como a história recente do nosso país o
demonstra.
No período do regime militar, com
os partidos extintos ou reduzidos a Arena e ao MDB (antes da permissão para que
se estruturassem o PTB, o PDT e o PT), a Escola Superior de Guerra, agindo como
braço ideológico e formulador da doutrina que respaldava as políticas de
governo, cumpriu a seu modo o papel de partido político.
Com a redemocratização, diversos
foram os partidos que se organizaram com a missão de representar as elites, sobretudo
os senhores do capital financeiro crescentemente influentes.
PDS, PP, o próprio PTB sem
Brizola, e adiante o PFL (hoje Democratas), PSDB e outros se colocam nessa
trincheira.
Entretanto, frágeis e internamente
pulverizados por grupos assentados em motivações locais e particulares, têm
como referência o complexo midiático, que a semelhança da antiga ESG, ocupa o lugar
de centro orientador dos partidos formais e principal difusor da ideologia
dominante.
Em todos os episódios das eleições
presidenciais recentes — desde o pleito de 1989 —, o sistema midiático teve
peso relevante, decisivo na vitória de Collor sobre Lula e insuficiente nos
últimos quatro pleitos, em que o povaréu contrariou a mídia e votou
majoritariamente em Lula e em Dilma.
Agora, armado o jogo sucessório, o
“partido midiático” não esconde sua preferência por Geraldo Alckmin — candidato
da confiança do mercado —, demonstra não fazer muita fé em Meirelles (também da
confiança do mercado) e ensaia duplo ataque a Bolsonaro, à extrema direita, e a
Lula-Haddad Manuela, à esquerda, com vistas a um provável desenlace no segundo
turno.
Ou seja, uma tática claramente
posta a serviço de um objetivo estratégico, seguida à risca diuturnamente por
comentaristas, “âncoras” e repórteres da TV, rádio, sites na internet e
publicações impressas.
A pauta é a mesma, no País
inteiro. E o alvo principal é Lula e a hipotética chapa substituta
Haddad-Manuela.
No campo estrito da direita, no
intuito de alavancar a anódina candidatura de Alckmin, dá-se um cerco a
Bolsonaro que, por descuido e pela dificuldade de se encontrar em tempo hábil um
nome de unidade, correu por fora e se coloca bem adiante do ex-governador de São
Paulo em todas as pesquisas.
Resta verificar se o complexo
midiático repetirá a proeza de 1989 ou se perderá pela quinta vez consecutiva.
Leia mais sobre temas da atualidade: https://bit.ly/2Jl5xwF e acesse o canal ‘Luciano Siqueira opina’, no YouTube https://bit.ly/2ssRlvd
Nenhum comentário:
Postar um comentário