21 maio 2020

Ignorância e destempero


O vírus, o verme e a praga
José Luis Simões*

 

Os vírus são seres invisíveis a olho nu, organismos acelulares, microscópicos, mas historicamente sempre foram grandes inimigos da humanidade. A história das pandemias e epidemias mostra a ferocidade dos vírus contra as vidas humanas. E contra os vírus a principal arma criada pela humanidade foi a Ciência.

A maioria dos vermes são visíveis. Alguns tipos de vermes fazem mal aos humanos, mas nem todos. É preciso tomar cuidado com as aparências. Há vermes que são “bonitinhos”, que tem carisma e que até fazem promessas de acabar com a praga da corrupção. Há vermes de todos os tamanhos e que gostam de habitar ambientes diversos, desde esgotos, passeando por galerias, subindo rampas e até morando em palácios. Os vermes costumam enganar, se esconder nas fissuras e fugir das luzes. Há vermes que dependem da ignorância para sobreviver e parasitar. Para vencer os vermes que prejudicam as pessoas é preciso conhecer o comportamento, acompanhar o trajeto por onde passam e usar o antídoto necessário.

As pragas são infestações de espécies nocivas de vírus, vermes, insetos, ratos e outros seres vivos que prejudicam a agricultura e disputam território com os humanos, atacando-nos, pela força numérica, na luta pela sobrevivência. Só para se ter uma ideia da grande ocorrência de pragas, no Brasil foram detectadas 35 novas pragas que prejudicaram a agricultura nos últimos 10 anos.

Há o episódio bíblico das pragas do Egito, lançadas por Deus para castigar o despotismo do faraó. Colin Humpheys, físico inglês, escreveu o livro “Os milagres do êxodo”, e nesta obra ele associa as dez pragas do Egito a fenômenos naturais. Em suma, as pragas fazem parte da natureza.

No Brasil há um verme que defende o vírus e lança uma nova praga: ignorância e destempero. O verme ainda desafia a Ciência e prescreve cloroquina. Para vencer um verme dessa espécie o vermífugo necessário é a liberdade de imprensa, o conhecimento, a boa política, a releitura dos livros de história e o fortalecimento da democracia.


*José Luís Simões, professor do Centro de Educação/UFPE
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