Atalho
Jacqueline Torres
Gosto dos caminhos
das poças, dos poços, dos ímpares
dos néctares das palavras
amálgama, crepúsculo, chuva
Gosto das estradas
cascalhos, beirais, pardais
subidas
Gosto dos atalhos
dos rastros, dos estranhamentos
do incorreto.
As palavras inventam minha manhã
desinventam meu gosto
e lhe dão gesto de asas de passarinho
E eu apelido as estradas
de palavras inventadas
E gosto das coisas insignificantes
mais cada vez
É sempre o vento fiando linha
de uivos sibilantes e dedos finos
no meu telhado
Lá fora os sinos perfuram alfinetes
na pele da manhã
E eu continuo gostando das poças,
das estradas e dos atalhos
E nas folhas verdes que me confidenciam
segredos antigos
‘alcanço a gramática das coisas simples’
Tenho jeito não
para a sofisticação
para pomposos sapatos
para solenidades sem pássaros,
sem batente de quintal
sem lodo comendo a pedra
sem sol laranja à janela.
Gosto dos atalhos
que a natureza coisificou aqui dentro
das pedras sorrindo diurnas em mim
Do pensamento peninsular
dentro do ventre do vento e da terra
Donde brotam verdinhas
as palavras que me deixam nobremente
ser insignificante e risonha
feita de chão
e aragem de sol.
das poças, dos poços, dos ímpares
dos néctares das palavras
amálgama, crepúsculo, chuva
Gosto das estradas
cascalhos, beirais, pardais
subidas
Gosto dos atalhos
dos rastros, dos estranhamentos
do incorreto.
As palavras inventam minha manhã
desinventam meu gosto
e lhe dão gesto de asas de passarinho
E eu apelido as estradas
de palavras inventadas
E gosto das coisas insignificantes
mais cada vez
É sempre o vento fiando linha
de uivos sibilantes e dedos finos
no meu telhado
Lá fora os sinos perfuram alfinetes
na pele da manhã
E eu continuo gostando das poças,
das estradas e dos atalhos
E nas folhas verdes que me confidenciam
segredos antigos
‘alcanço a gramática das coisas simples’
Tenho jeito não
para a sofisticação
para pomposos sapatos
para solenidades sem pássaros,
sem batente de quintal
sem lodo comendo a pedra
sem sol laranja à janela.
Gosto dos atalhos
que a natureza coisificou aqui dentro
das pedras sorrindo diurnas em mim
Do pensamento peninsular
dentro do ventre do vento e da terra
Donde brotam verdinhas
as palavras que me deixam nobremente
ser insignificante e risonha
feita de chão
e aragem de sol.
Jacqueline Torres é educadora, militante comunista,
ativista do movimento feminista, membro da Academia Pesqueirense de Letras e
Artes - APLA; da Sociedade dos Poetas e Escritores de Pesqueira - Sopoespes; e
do movimento de mulheres Sertão Poética
[Ilustração: Robertto Botelho]
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Ler faz bem
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2 comentários:
Que coisa mais linda Jack, belíssima Poesia!👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👍 Parabéns!!😍😍😍😘😘😘😘
Parabenizo a autora Jacqueline Torres, pela grandiosa sensibilidade descrita no poema Atalhos! Interpretei fazendo uma analogia com o momento no qual estamos passando neste 2020, no tocante os verdadeiros valores das coisas, os mais puros sentimentos, às amizades, à família , o ar que respiramos, o sol que nos dá energia é vida é que por meio dos " atalhos " da vida e na observância dos seus detalhes, podemos descobrir e corrigir coisas que realmente dão sentido à nossas vidas. José Pinheiro, São Paulo, Capital.
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