18 maio 2020

Uma pedra no caminho


Até onde chega a mensagem golpista?
Luciano Siqueira

A despeito das crises sanitária e econômica, entrelaçadas, e da queda sequenciada dos índices de popularidade pessoal e de confiança em seu governo, Jair Bolsonaro insiste em sua pregação golpista. De voz própria ou através de porta-vozes conhecidos ou dissimulados nas chamadas milícias digitais.
A receptividade nos altos escalões militares tem sido objeto de declarações e análises com base em fontes não identificadas. A balança não penderia favorável a um golpe.
E nas bases formadas por soldados, cabos e sargentos?
É uma camada que se supõe tenha votado maciçamente no presidente. Entretanto, a julgar por levantamentos citados pelo Valor Econômico, também nesse extrato o ex-capitão não estaria alcançando o eco desejado à sua cantilena autoritária.
Pelo menos haveria uma divisão acentuada entre os que aprovam o governo e se inclinaria a votar novamente no presidente.
A reportagem ouviu integrantes de associações de soldados, cabos e sargentos das polícias militares, por exemplo, que também se revelam contrários a uma intervenção militar para fechar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.
Como caldo de cultura da rejeição ao presidente, um conjunto de medidas adotadas pelo governo que retiraram direitos dessas camadas militares e seus dependentes, sem contudo reduzir privilégios da oficialidade.
O dado é importante, pois comparece às análises da situação política em ebulição a hipótese de que Bolsonaro contaria com essa base militar, que se associaria a milícias armadas e entrelaçadas com o crime organizado, estimuladas pelas chamadas milícias digitais.
Se também aí se esgarça sua base social, a estratégia do caos pode ser interrompida com a própria interrupção do mandato.

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