30 outubro 2020

Anglicismo vicioso

A palavra da moda

Luciano Siqueira

 

Sim, já reconheci inúmeras vezes que não estou entre os paladinos da língua portuguesa brasileira. Não por falta de vontade, mas por incompetência mesmo.

Defender algo com mestria e autoridade é atributo de quem domina o assunto. No caso, o idioma.

Minha relação com o português falado e escrito no Brasil é antes de tudo de prazer e paixão. Nossa língua é sonora, musical – seja na sua forma escorreita, seja no dizer popular. Mas não domino suas regras.

O modo do povo se apropriar do idioma, sobretudo num jovem país como o nosso, define a intensidade com que neologismos e novas expressões o vão enriquecendo.

Nada a ver com a palavra da moda. Ou a expressão do momento.

Ao invés de dizer concordo, apoio, gostei... diz-se “é show!”

Coisa sem graça.

Se Ariano ainda estivesse entre nós corrigiria: show, não, espetáculo!

Aqui e acolá recebo uma mensagem no WhatsApp que se inicia ou se conclui assim: “show”.

Acho uma chatice, mas fico na minha. Afinal, minha mãe Oneide ensinou os filhos a respeitarem sempre o jeito de falar dos outros. Para ela, repelir seria falta de educação e de caridade.

Ora, se alguém pediu minha ajuda para resolver determinado problema através da Prefeitura, desentupir uma canaleta, por exemplo, e me agradece assim: “show!”, me dá vontade de perguntar aonde, qual a banda, quem são os cantores e que tais.

Parece aquela preguiça terrível que leva internautas a responderem uma mensagem com o desenho do polegar pra cima ou duas mãos batendo palmas. Sinto-me tratado como criança e suponho que meu interlocutor ou interlocutora sofre de uma detestável preguiça. Por que não escrever “ótimo!”, “tudo bem” ou algo assim?

A gíria, não. Geralmente é espirituosa, inventiva e bem-humorada.

Se gostou, pode escrever “foi do carai”. Eu gosto.

Veja: A vida não se resume num samba curto https://bit.ly/3hN3UrP  

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