As
inconsistências do imposto global
A melhor crítica foi feita pela
Oxfam. Susana Ruiz, da Oxfam, mostrou que o acordo não acaba com os paraísos
fiscais, montados em cima de uma complexa rede de isenções.
Luís Nassif, Jornal GGN
No mesmo momento em que as duas principais autoridades
econômicas brasileiras aparecem envolvidas em paraísos fiscais, o mundo
civilizado se junta para cercar a sonegação global.
Na 6a feira um grupo de 136 países definiu uma alíquota
mínima de imposto global de 15% para grandes empresas, tornando mais difícil os
seus movimentos para evitar a tributação que vem a galope do governo Joe Biden.
O imposto visa acabar com a guerra tributária, de
países que baixam os impostos para atrair empresas. Nos países
industrializados, a tributação média é de 23,5%. Chamou atenção o fato da
decisão ter provocado crítica dos países emergentes, que lutam por atrair
capitais; e aplausos das big tecs.
O acordo foi negociado por 4 anos. Só fechou quando
Irlanda, Estónia e Hungria aderiram. As três eram beneficiárias de uma manobra
fiscal que fazia com que multinacionais registrassem lucros por lá, para se
beneficiar da menor tributação. Especialmente depois que a expansão das big
techs praticamente acabou com as fronteiras nacionais como mercados.
As lacunas começaram a aparecer tão logo o acordo
foi anunciado. O Ministério das Finanças da Suíça, por exemplo, defendeu a
atenção aos interesses das pequenas nações e mostrou ser impossível começar a
implementação já em 2023.
Os dois pontos centrais do acordo são a alíquota
mínima de 15% e a permissão para que governos nacionais tributem uma parcela
maior dos lucros das multinacionais estrangeiras.
A OCDE estimou uma arrecadação inicial de US $150
bilhões em novas receitas e a transferência de mais de US $125 bilhões para
países onde as multinacionais geram de fato sua renda.
Não houve manifestação de autoridades brasileiras,
com o governo Bolsonaro expulso dos fóruns internacionais e seu Ministro da
Economia enredado com seus próprios problemas fiscais. Mas o Ministro da
Economia da Argentina, Martin Guzman, admitiu que os países em desenvolvimento
tiveram que escolher entre o ruim e o pior.
A melhor crítica foi feita pela Oxfam. Susana Ruiz,
da Oxfam, mostrou que o acordo não acaba com os paraísos fiscais, montados em
cima de uma complexa rede de isenções.
No último minuto, foi incluído no acordo um período
de carência de 10 anos para o imposto corporativo global e lacunas adicionais
“que deixaram o tratado praticamente sem dentes”, anotou ela
O nível de isenção será diminuído ao longo de 10
anos.
Não apenas isso. No próprio Estados Unidos, o
principal beneficiário do acordo, a Lei de Redução de Impostos e Empregos de
2017 levou à criação de mais de 8 mil paraísos fiscais no país, chamados de
Zonas de Oportunidades.
A lei oferecia uma redução da tributação sobre
ganhos de capital para estimular, supostamente, investimentos em comunidades
pobres. Beneficiou mais os capitais que as comunidades.
Veja: Resistência
democrática implica diálogo sem preconceitos https://bit.ly/3kbDHqq
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