02 janeiro 2022

Futebol: qual técnico contratar?

Há vários jovens técnicos brasileiros que deveriam ser mais utilizados

Bons treinadores de fora são bem-vindos, mas há brasileiros bem preparados e com chances de evoluir
Tostão, Folha de S.Paulo

 

Em Minas Gerais, Atlético e Cruzeiro estão sem técnico. Cuca não quis ficar, e Luxemburgo foi demitido, junto com a comissão técnica, por causa dos altos custos para um time da Série B. Além disso, a média de aproveitamento de Luxemburgo (58%) foi boa, mas não suficiente para o Cruzeiro voltar à Série A. Não vi também, em nenhum momento, um ótimo desempenho coletivo da equipe que criasse grandes esperanças.

Será difícil para o Cruzeiro contratar um técnico bom, barato, estudioso e com chance de evoluir junto com a equipe, de preferência jovem, embora existam alguns treinadores mais experientes e com ideias modernas. O que não se deve é trazer treinadores ultrapassados, apenas repetidores do que um dia deu certo. O futebol e o mundo mudaram.

O Cruzeiro precisa olhar com carinho para as categorias de base. Diferentemente de outros clubes brasileiros, como Fluminense, Santos, Palmeiras e Flamengo, o Cruzeiro, há muito tempo, não forma jogadores de grande destaque nacional, para melhorar a equipe e/ou para ser negociado por enormes quantias.

Atlético continua negociando com Jorge Jesus. Os valores, dizem, são astronômicos. Poderemos ter, em fevereiro, pela Supercopa, Atlético e Flamengo, dirigidos por dois técnicos portugueses, Jorge Jesus e Paulo Sousa. Se o Flamengo vencer, Jorge Jesus será exorcizado. Se perder, os torcedores rubro-negros, como diria Nelson Rodrigues, vão chorar lágrimas de esguicho na calçada. Se o Galo perder, os atleticanos dirão que bom mesmo é Cuca.

Paulo Sousa pagou a multa rescisória, rompeu o contrato com a federação polonesa e foi contratado pelo Flamengo. Os poloneses o chamam de traidor, desertor e irresponsável e ameaçam denunciar o Flamengo à Fifa por assédio a um profissional contratado.

O esperto filósofo Luxemburgo disse, várias vezes, que contratos existem para ser rompidos, desde que se respeitem as regras contratuais. Em todas as atividades, profissionais mudam de trabalho. É legal, mas, em certos momentos, é antiético, como deixar uma seleção na hora de decidir uma sonhada vaga na Copa do Mundo.

No Brasil, um país em que a corrupção é tolerada, atitudes antiéticas são ignoradas, até elogiadas, pela esperteza profissional.

Poderemos ter três treinadores portugueses nas três principais equipes brasileiras, Atlético, Flamengo e Palmeiras. As comparações e estatísticas já começaram, fora de hora e inadequadas, sem levar em conta inúmeros fatores importantes, como a qualidade dos elencos, o tempo de trabalho, o desempenho, o fascínio das equipes e tantos outros motivos programados ou ocasionais. Esses detalhes ocorrem com frequência em outras comparações.

O Inter também contratou um técnico estrangeiro, o uruguaio "Cacique" Medina. É uma moda ou os técnicos estrangeiros chegam para preencher a falta de qualidade dos técnicos brasileiros? Acho que não é uma coisa nem outra. Os bons treinadores de fora são bem-vindos, pois ajudam na evolução de nosso futebol, mas há vários jovens treinadores brasileiros muito bem preparados, com chances de evoluir e que deveriam ser mais utilizados.

A ciência é fundamental, base da evolução do futebol e da vida. Porém, conhecimento não é só isso, vai além das estratégias, das informações e das estatísticas. Precisamos enxergar o que não está claro. "As coisas não têm explicação, têm existência" (Fernando Pessoa). Os poetas não deveriam ser lidos ao pé da letra.

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