Há vários jovens técnicos
brasileiros que deveriam ser mais utilizados
Bons treinadores de fora são
bem-vindos, mas há brasileiros bem preparados e com chances de evoluir
Tostão, Folha de S.Paulo
Em
Minas Gerais, Atlético e Cruzeiro estão sem técnico. Cuca não quis ficar,
e Luxemburgo foi demitido,
junto com a comissão técnica, por causa dos altos custos para um time da Série
B. Além disso, a média de aproveitamento de Luxemburgo (58%) foi boa, mas não
suficiente para o Cruzeiro voltar à Série A. Não vi também, em nenhum momento,
um ótimo desempenho coletivo da equipe que criasse grandes esperanças.
Será difícil para o Cruzeiro contratar um
técnico bom, barato, estudioso e com chance de evoluir junto com a
equipe, de preferência jovem, embora existam alguns treinadores mais
experientes e com ideias modernas. O que não se deve é trazer treinadores
ultrapassados, apenas repetidores do que um dia deu certo. O futebol e o mundo
mudaram.
O
Cruzeiro precisa olhar com carinho para as categorias de base. Diferentemente
de outros clubes brasileiros, como Fluminense, Santos, Palmeiras e Flamengo, o
Cruzeiro, há muito tempo, não forma jogadores de grande destaque nacional, para
melhorar a equipe e/ou para ser negociado por enormes quantias.
O Atlético continua
negociando com Jorge Jesus. Os valores, dizem, são astronômicos.
Poderemos ter, em fevereiro, pela Supercopa, Atlético e Flamengo, dirigidos por
dois técnicos portugueses, Jorge Jesus e Paulo Sousa. Se o Flamengo
vencer, Jorge Jesus será exorcizado. Se perder, os torcedores rubro-negros,
como diria Nelson Rodrigues, vão chorar lágrimas de esguicho na calçada. Se o
Galo perder, os atleticanos dirão que bom mesmo é Cuca.
Paulo
Sousa pagou a multa rescisória, rompeu o contrato com a federação polonesa e
foi contratado pelo Flamengo. Os poloneses o chamam de traidor, desertor e
irresponsável e ameaçam denunciar o Flamengo à Fifa por assédio a um
profissional contratado.
O
esperto filósofo Luxemburgo disse, várias vezes, que contratos existem para ser
rompidos, desde que se respeitem as regras contratuais. Em todas as atividades,
profissionais mudam de trabalho. É legal, mas, em certos momentos, é antiético,
como deixar uma seleção na hora de decidir uma sonhada vaga na Copa do Mundo.
No
Brasil, um país em que a corrupção é tolerada, atitudes antiéticas são
ignoradas, até elogiadas, pela esperteza profissional.
Poderemos
ter três treinadores portugueses nas três principais equipes brasileiras,
Atlético, Flamengo e Palmeiras. As comparações e estatísticas já começaram,
fora de hora e inadequadas, sem levar em conta inúmeros fatores importantes,
como a qualidade dos elencos, o tempo de trabalho, o desempenho, o fascínio das
equipes e tantos outros motivos programados ou ocasionais. Esses detalhes
ocorrem com frequência em outras comparações.
O
Inter também contratou um técnico estrangeiro, o uruguaio "Cacique"
Medina. É uma moda ou os técnicos estrangeiros chegam para preencher a falta de
qualidade dos técnicos brasileiros? Acho que não é uma coisa nem outra. Os bons
treinadores de fora são bem-vindos, pois ajudam na evolução de nosso futebol,
mas há vários jovens treinadores brasileiros muito bem preparados, com chances
de evoluir e que deveriam ser mais utilizados.
A
ciência é fundamental, base da evolução do futebol e da vida. Porém,
conhecimento não é só isso, vai além das estratégias, das informações e das
estatísticas. Precisamos enxergar o que não está claro. "As coisas não têm
explicação, têm existência" (Fernando Pessoa). Os poetas não deveriam ser
lidos ao pé da letra.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário