Centrão e até donos do dinheiro
dão sinais de que podem aderir a Lula
A depender da distância em que
estiver de Bolsonaro lá por abril, petista ainda pode ser objeto de campanha de
trituração
Vinicius Torres Freire, olj de S.
Paulo
Partidos do
centrão, quase o Congresso inteiro,
e gente "do mercado" dão sinais de que Lula da Silva (PT) pode ser também para eles a
alternativa incontornável, se por mais não fosse porque a opção, até agora, é Jair Bolsonaro (PL).
Ainda é muito
cedo, em especial para políticos e "o mercado", que precisam de
perspectivas menos incertas antes de fazerem seus arranjos. Faltam oito meses
para o primeiro turno, mas algumas características da política e da economia
destroçadas do Brasil talvez induzam certa precipitação ou conformismo.
No PSD, no
MDB, no Republicanos (Igreja Universal), no PSC há adeptos da debandada
pró-Lula. Tantos que esses partidos podem ser incapazes de "fechar
questão" em favor de tal ou qual candidatura. É esse o caso mesmo do PP,
dos regentes do governo Bolsonaro, Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil, e Arthur Lira,
presidente da Câmara. No PP, a conversa é liberar "acordos regionais"
(aderir a Lula ou ficar "neutro" até saber em qual barco pular).
Adesão a
vitoriosos sempre houve, claro. Com a fragmentação partidária ainda maior, com
partidos ainda menores, qualquer meia dúzia de evasões tende a provocar
"rachas". Apenas dois partidos têm mais de 50 deputados (PSL e PT);
apenas outros dois têm mais de 40 (PL e PP).
Como Lula é
particularmente forte no Nordeste, o regionalismo de conveniência contribui
para os "rachas". O Nordeste tem quase 30% das cadeiras da Câmara.
Dado que Bolsonaro tem por ora apenas um quarto dos votos e aversão maior em
grandes cidades, o racha dos governistas deve ser significativo também no
Sudeste (quase 35% da Câmara).
É fato que
dois partidos maiores de extrema direita ou quase isso estão para se formar. O
PL de Bolsonaro pode ter de 60 a 70 deputados com a migração dos bolsonaristas
do PSL para o nacional-mensalismo. A União Brasil pode
ter bancada semelhante, juntando ao DEM o resto do PSL, entre outros, embora
nesse novo partido direitista existam lulistas de ocasião.
Essa conta é
meio boba, se levada ao pé da letra. Coalizões não garantem votos
presidenciais, claro, vide as eleições de 1989 e 2018 (duas eleições também
particulares, de ruína de políticos dominantes) ou mesmo a de 2006. Com
celulares a propagar ondas de loucura e mentira, o resultado fica menos
previsível.
A depender da
distância em que estiver de Bolsonaro lá por abril, Lula ainda pode ser objeto
de campanha de trituração —a depender também de sua viagem ao centro, da
quantidade de mingau que comerá pelas bordas (até do PSDB ou do PDT de Ciro
Gomes) e da "conciliação nacional" que vai propor.
"Conciliação"
é a palavra em que parte do "mercado", elite da finança, presta
atenção. "Ruim com Lula, pior com Bolsonaro e Terceira Via não existe"
é uma conversa que se ouve. Apenas nomear um vice decorativo, um Geraldo
Alckmin, é pouco, mas sinal de boa vontade. Um acordo maior no Congresso e um
programa econômico convencional, para início dos trabalhos, ao menos, é uma
possibilidade que acalmaria qualquer dono de dinheiro e diminuiria as chances
de um governo Lula 3 naufragar já em 2023 —ninguém aguenta mais ruína econômica
persistente, fora os golpistas. A gente já vê aqui e ali gente do
"mercado" ou seus porta-vozes dizerem tal coisa em público.
Na reabertura
do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD),
presidente do Senado, disse na fuça de Bolsonaro que não vai tolerar
propaganda de mentiras em massa por celular, ameaças à legitimidade da votação
e investidas autoritárias. O clima não está bom para Bolsonaro, embora os
primeiros acordos informais da política sejam fechados apenas lá por volta de
abril. Acerto firme, apenas em setembro, se a eleição estiver com uma cara
definida, dizem cabeças e chefes da política.
.
Veja: A mentira o desgasta e
enfraquece; mas o mantém conectado à sua base https://t.co/Dp8f13AzZ4
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