05 maio 2022

Comunicar não é fácil

O que explica o maior orador do país errando tanto em seus discursos?
Pedro Caldas*

 

Essa semana uma fala infeliz do ex-presidente Lula ofendeu PMs de todo o Brasil e não foi a primeira vez que ele cometeu uma gafe como essa. Mas pra entender, vamos voltar vinte anos no tempo.

Quando penso na campanha de Lula em 2002 vem na mente a tese dos 3 terços, pensada pelo genial marqueteiro Duda Mendonça. Naquele pleito, os eleitores se dividiriam em um terço do PSDB, um do PT e o outro em disputa. Lula ganharia (e ganhou) ao atingir com qualidade o último público.

O que fica de fora dessa história é que Lula sempre fez o dever de casa. Sempre cuidou com carinho “seu” terço (tanto que o mantém até hoje). E fazia isso, não na rádio ou na televisão, mas nos comícios de rua, na mobilização da militância e na propaganda impressa.

Lula sempre foi um gênio do discurso, capaz de empolgar as mais variadas plateias. Falando e convencendo nichos variados ele foi acumulando forças até ser eleito.

A bronca é que 20 anos depois o jeito de se comunicar e, consequentemente, de fazer campanha capotou (e gosto desse termo porque ele ilustra a violência com que as coisas mudaram). 

O que ele conversa no sindicato dos metalúrgicos ou em um evento com lideranças do centrão rapidamente é transmitido e compartilhado pelas redes sociais. Aquela oratória magnifica, pensada para impressionar operários ou raposas da política, ao vivo vai ser transmitida para outras bolhas rendendo comentários, discussões e novos compartilhamentos. 

Foi assim que, falando para uma plateia de esquerda, conseguiu ofender toda a gigantesca categoria dos policiais militares. Uma gafe gigantesca, munição para Bolsonaro que dificilmente poderia ser usada por Serra em 2002.

O caminho não é fácil, mas é necessário que a campanha se aprume nas e para as redes sociais. Montar uma estratégia para discursos, imagem e redes de Lula, entendendo que tudo o que ele fala pode ser usado contra ele é o primeiro passo (e nisso o PT já tem trabalhado), o seguinte é organizar, municiar e dar tarefa ao exército de apoiadores do presidente, mas isso é tema pra outro texto.

*Pedro Caldas é videomaker e fotógrafo.

Veja: Riscos da Frente Popular de Pernambuco https://bit.ly/3vxeWLZ

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