Amazônia
tem recorde de desmate em abril, com mais de 1.000 km2 derrubados
Mês faz parte do período de chuvas
da floresta, no qual é incomum ver taxas de desmate tão altas
Phillippe Watanabe, Folha de S. Paulo
As
áreas com alertas de desmatamento na Amazônia alcançaram um recorde absoluto no
histórico recente do Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais), para o mês de abril. Foram derrubados 1.012,5 km² de floresta.
É
a primeira vez que um dos primeiros quatro meses do ano apresenta desmatamento
que ultrapassa a casa de mil quilômetros quadrados. Pode ainda haver um aumento
no dado, considerando que o Inpe divulgou a taxa registrada até o dia 29 do mês
passado.
O
valor, mais um recorde de destruição da floresta sob o governo Jair Bolsonaro (PL), representa um salto
expressivo de 74% em relação aos alertas de desmate registrados em abril do ano
passado, cerca de 580,5 km², um número que também era o recorde para o mês.
Os
mais de 1.000 km² destruídos chamam a atenção pelo momento em que ocorrem.
Abril ainda está dentro do período de chuvas da Amazônia, no qual, normalmente, as
derrubadas são menores, exatamente pelas dificuldades impostas pelo tempo para
a prática de desmate —que, no bioma, em sua maioria são ilegais.
Tamanha
área derrubada não é costumeira em qualquer mês do ano, mas, historicamente,
quando ocorre, é a partir de junho, período em que já teve início a estação
seca.
Em
maio do ano passado, o desmate ficou acima de 1.000 km², algo também
historicamente incomum para o mês.
Os
dados são provenientes do programa Deter, programa do Inpe que dispara alertas
de desmatamento praticamente em tempo e que, dessa forma, tem a função de
auxiliar ações de fiscalização ambiental. O histórico da medição tem início no
segundo semestre de 2015 (o monitoramento começou antes, mas mudanças
tecnológicas impedem comparações diretas com os dados mais antigos da
plataforma). Mesmo não sendo sua função primária a mensuração de desmate, a
partir do Deter é possível ver tendências de derruba com o passar dos meses.
E
a situação que se pinta para o desmatamento no ano já preocupa. Até o momento,
três dos quatro meses de 2022 tiveram recordes de alertas de desmatamento.
Somente março ficou um pouco abaixo do valor máximo de derrubada anterior (que
foi março de 2021).
Alerta de
desmate na Amazônia bate recorde em abril
Comparação
entre os primeiros meses do ano passado (recorde de desmate) e do atual
ANO ELEITORAL
Historicamente,
anos eleitorais, como é o caso de 2022, possuem taxas de desmatamento maiores.
O que amplia a preocupação sobre o assunto é o fato de a Amazônia estar vindo
de três anos consecutivos de aumento de destruição, com valores já superando a
casa de 13 mil km² de mata devastada.
Bolsonaro,
desde antes de assumir a presidência, coloca-se contrário a ações de
fiscalização ambiental e falava em uma suposta e nunca comprovada indústria da
multa ambiental. Ao assumir o Palácio do Planalto, o presidente começou a
questionar e desautorizar operações em andamento.
O
presidente e seus apoiadores, por diversas vezes, também criticaram o Inpe,
instituto do próprio governo nacional que disponibiliza, com transparência
ativa, taxas de desmatamento e queimadas. As falas do presidente levaram à
demissão do antigo diretor do Inpe Ricardo Galvão.
A
fiscalização ambiental, muito criticada por Bolsonaro, também sofreu perdas
durante o mandato do atual presidente. As multas por crimes ambientais chegaram
aos menores números dos últimos 20 anos, apesar de o desmatamento ser
crescente. Além disso, dados recentes mostram que o governo Bolsonaro fiscalizou menos de 3% dos alertas de desmatamento no país desde
2019.
Enquanto
Bolsonaro minimizava o desmatamento e as queimadas —ações normalmente
associadas— na Amazônia, pesquisadores alertavam que esse tipo de discurso
poderia incentivar a prática de crimes ambientais e fazer crescer a derrubada
da floresta, tal qual vemos atualmente.
"As
causas desse recorde têm nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro",
afirma, em nota, Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima,
rede que reúne dezenas de instituições ambientais do país. "O
ecocida-em-chefe do Brasil triunfou em transformar a Amazônia num território
sem lei, e o desmatamento será o que os grileiros quiserem que seja."
"É
um alerta da imensa pressão que a floresta está sofrendo nesse ano",
afirma, em nota, sobre a taxa registrada, Mariana Napolitano, gerente do
WWF-Brasil para ciências.
Também
do WWF-Brasil, em nota, Raul Valle, diretor de justiça socioambiental, afirma que
"os desmatadores dobraram a aposta em 2022, após três anos de impunidade e
em clima eleitoreiro". Valle diz ainda que, no Congresso, há um pacote de
projetos de lei que promovem a destruição. "A floresta fica cada vez mais
perto de um ponto em que ela não vai conseguir se recuperar", afirma.
O
Observatório do Clima, porém, faz uma ressalva em relação ao dado e ao
potencial do Deter para registrar desmates. As detecções do sistema costumam
ser muito atrapalhadas por nuvens, especialmente nos meses chuvoso. Por isso,
nos mais de 1.000 km² podem estar presentes derrubadas feitas em meses
anteriores e não avistadas antes pelos satélites do Deter.
De
toda forma, afirma o Observatório do Clima, a magnitude do dado surpreende e
aponta que o desmate em 2022 deve, novamente, ultrapassar os 10 mil km².
.
Veja: Riscos da Frente Popular de Pernambuco na montagem da chapa https://bit.ly/3vxeWLZ
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