Quantas vezes posso pegar Covid?
Resposta depende muito mais
de comportamento do que de imunidade
Atila Iamarino, Folha de S. Paulo
Infelizmente
essa resposta vai depender muito mais do seu comportamento do que da sua
imunidade.
Como escrevi no começo de maio: "na falta de medidas
como máscaras, redução de aglomerações e mudanças na ventilação de ambientes
fechados, a barreira contra o vírus que mantém essa estabilidade é só a nossa
imunidade. E [...] a situação pode estar prestes a mudar".
O
motivo dessa afirmação em maio foi a detecção na África do Sul de novas versões
da variante ômicron capazes de infectar novamente
quem teve ômicron em janeiro. Por lá, são comuns os casos de pessoas que já
estão na segunda, terceira ou quarta infecção recente pelo vírus.
E
aqui estamos, no meio de outra onda de Covid causada
por essas linhagens no Brasil, com muita gente pegando Covid de novo. Você
provavelmente conhece várias pessoas que têm ou tiveram Covid recentemente, se
também não tiver.
Tudo
indica que essa reinfecção deve continuar acontecendo. Temos um gradiente entre
infecções que só contraímos uma vez na vida e outras que podemos ter várias
vezes.
Em
uma ponta estão vírus como o sarampo ou o vírus da varíola humana, contra os
quais nossos anticorpos e nossa imunidade celular são suficientes para
neutralizar o patógeno durante décadas ou até pela vida toda.
No outro extremo estão vírus como o HIV, que pode mudar tão
rápido que, na falta de tratamento, nosso sistema imune está sempre atrasado e
perseguindo a linhagem errada.
Entre
os coronavírus que infectam humanos, o Sars-CoV-1, causador do surto de Sars,
parece despertar uma imunidade intermediária. Quem teve Sars entre 2002 e 2003
ainda tinha anticorpos capazes de neutralizar o vírus por pelo menos um ou dois
anos depois. Já entre os coronavírus humanos que causam resfriados, como o NL63
e o OC43, a imunidade protetora parece durar menos.
O
Sars-CoV-2, causador da Covid, transitou da primeira para a segunda situação. A
imunidade contra a linhagem original de Wuhan parecia durar pelo menos seis
meses, e os casos de reinfecção eram raros. Mas, conforme ele continuou circulando e evoluindo, adquiriu mutações
que o ajudam a escapar da nossa imunidade. Agora, os casos de reinfecção são
tão recorrentes e tão próximos no tempo, que fica difícil saber se a pessoa
pegou Covid de novo ou se ainda está com o mesmo vírus.
A
ômicron, primeira variante que continua predominando em mais de uma onda,
desperta uma resposta imune menor do que as anteriores e ainda consegue fugir
da resposta imune que já temos. E essa tendência parece ser mais acentuada entre
quem pegou Covid antes de se vacinar. Nem as vacinas, nem infecções prévias,
nem a própria infecção por ela são suficientes para barrar o vírus.
Respondendo
à pergunta que fiz aqui há dois anos, a imunidade
contra a Covid não é protetora. Não temos a menor perspectiva de imunidade
coletiva. Não sabemos quantas vezes seguidas alguém pode ter a doença e os
efeitos de infecções repetidas em alguém –bons certamente não são, mas não
sabemos quão ruins podem ser.
O
que nos traz a uma reversão do que escrevi em maio. Na falta da barreira imune,
serão medidas como máscaras, redução de aglomerações e mudanças na ventilação
que vão prevenir que você tenha Covid novamente. E a dose de reforço é uma
excelente forma de evitar que a Covid que você pegar seja grave.
A estimativa mais recente é que mais de 1 milhão
de vidas foram salvas no Brasil graças à vacinação contra a Covid, só em 2021.
É urgente que possamos estender essa proteção às crianças de menos de cinco
anos.
.
Veja: Será aceitável que 9
crimes tão graves fiquem impunes? https://youtu.be/sJ2lSvc193E
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