03 julho 2024

Palavra de poeta: Cida Pedrosa

absoluto

Cida Pedrosa

 

quando o tempo do branco chegar

não terei gaiolas

gatos siameses

ou cachorro poodle

com coleira de marfim

 

com certeza

direi poemas indecentes

falarei de revoluções inacabadas

de lugares que mapeei com minha alma

 

com certeza
direi poemas indecentes
falarei de revoluções inacabadas
de lugares que mapeei com minha alma


[Ilustração: Tarsila do Amaral]


Leia e veja: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2022/11/cida-pedrosa-e-as-araras-vermelhas.html

02 julho 2024

Minha opinião/todas as mídias

Integração digital 
Luciano Siqueira  


Tempos modernos, se dizia no século passado. 

Tempos digitais, diz-se hoje.


Qualquer iniciativa empresarial ou do ramo da comunicação busca integrar as diversas mídias e mecanismos de venda ou de acesso. 


Comentei com o balconista da farmácia que fizera ultimamente algumas compras pela internet. 


— É a integração digital, que facilita a vida de todo mundo, disse ele.


— Será?, retruquei. 


Ele me olhou num misto de espanto e talvez de comiseração pela minha condição, que certamente supôs, de idoso resistente às muitas formas de comunicação e de venda. 


O fato é que qualquer que seja a mídia que você esteja frequentando no momento, links e QR Code são indicados para a busca de mais informações em outras mídias.


Eu mesmo tento integrar as redes que uso — Instagram, Facebook e X (ex-Twitter) — com o blog aqui www.lucianosiqueira.blogspot.com, além da comunicação direta pelo WhatsApp. 


Não há como fugir. Nem quero. Afinal, não há como escapar de algum uso da tecnologia cibernética.


Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/07/ia-fruto-da-inteligencia-humana.html

No X (ex-Twitter) @lucianoPCdoB

O flagrante desacordo entre manobras do mercado cambial e indicadores da economia real é indicativo muito claro da especulação. Os senhores da usura fazem o que querem — com o beneplácito da grande mídia pró-mercado financeiro que tem o presidente Lula como alvo de ataque.

Leia: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/07/plano-real-30-anos.html

Ação suspeita

Roteiro para o MP de Contas investigar Campos Neto
Manutenção da Selic elevada impõe custo aos tomadores de crédito e ganho aos detentores de capital
Luis Nassif/Jornal GGN   

O Ministério Público das Contas, ligado ao Tribunal de Contas da União (TCU) anunciou a abertura de investigações sobre a possível manipulação das taxas Selic.

Em 2010, ocorreu especulação semelhante no mercado de câmbio global, envolvendo diversas instituições financeiras, incluindo bancos renomados como o Barclays, o Royal Bank of Scotland (RBS) e o UBS.  

As investigações revelaram que traders dessas instituições agiram em conjunto para manipular a taxa de câmbio da libra esterlina (GBP) em relação ao dólar americano (USD) entre 2008 e 2010.

Eles se valiam de uma prática conhecida como “negociação em tandem” (no Brasil, antigamente, era conhecida como zé-com-zé). Consiste nos traders coordenarem ordens de compra e venda entre si. No caso, para influenciar a taxa de câmbio da libra em relação ao dólar, especialmente durante a janela de fixação da taxa Libor (London Interbank Offered Rate), um benchmark global para taxas de juros.

O resultado foram multas bilionárias para as instituições envolvidas e sanções disciplinares para os traders. 

A operação é idêntica ao que ocorreu no Brasil nas últimas semanas.

Havia uma regra de redução da taxa Selic a cada reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). A maneira do BC orientar o mercado é através da chamada “forward guidance”, ou orientação futura. São indicações sobre o comportamento futuro do banco, levando o mercado a antecipar os movimentos.

Ao mercado não interessa saber se o BC está certo ou não nos seus movimentos: o mercado ganha quando consegue emular o BC, errar tanto ou acertar tanto quanto o BC.

O ponto central é que as mudanças de rumo do BC precisam ser discutidas, antes, internamente. O que Roberto Campos Neto fez, em evento financeiro nos Estados Unidos, foi apontar para uma mudança de ventos sem ter discutido internamente com a diretoria do banco.

Foi uma decisão individual, que influenciou diretamente o mercado.

O primeiro passo do MP de Contas seria investigar as circunstâncias desse anúncio antecipado de Campos Neto. Para tanto, deveria ouvir diretoria e equipe técnica do banco.

Depois, analisar o cenário econômico naquele momento e os argumentos invocados por Campos Neto. E comparar com as projeções e análises de outros bancos centrais, especialmente de países emergentes.

O segundo passo será abrir os dados da Pesquisa Focus e identificar quais as instituições apostaram em 8% de inflação nos próximos meses. É uma projeção totalmente descabida, com o claro propósito de influenciar a formação das médias do Focus e a definição da taxa Selic.

Para reforçar as investigações, poderia recorrer a gráficos que mostram que a especulação com o real começou entre operadores brasileiros. Há boas análises de economistas estrangeiros apontando para esta manobra.

Finalmente, investigar as operações de taxa futura e de juros e de câmbio nos últimos dias. Há claramente uma corrida contra o real. O segredo está em identificar quem deu início à corrida e cobrar explicações.

Finalmente, poderia ir atrás de denúncias de que Campos Neto entrou em contato com operadores e grandes empresários reforçando o discurso negativo contra o país. 

Há dois enfoques nessa investigação.

O primeiro, de direito econômico, de formação de cartel interferindo nos preços. E não se trata apenas de um perde-ganha entre comprados e vendidos. A manutenção da Selic em patamares elevados impõe um custo a todos os tomadores de crédito e um ganho a todos os detentores de capital.

O segundo, de direito penal, abrindo as contas da offshore de Campos Neto e de Paulo Guedes. No seu tempo de Ministro da Fazenda, Guedes foi flagrado com um terminal da Bloomberg ao fundo, próprio não apenas para consultas, mas para operações.

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/06/o-jogo-dos-juros-altos.html

Arte é vida: William Balthazar Rose

 

William Balthazar Rose

Leia: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/03/raul-cordula-opina_20.html

Empresas chinesas & Eurocopa

Mídia ocidental é absurda por interpretação política do "domínio" das empresas chinesas na Eurocopa da UEFA
Global Times  

Desde meados de junho, a UEFA Euro 2024 é realizada na Alemanha, atraindo espectadores não apenas com partidas emocionantes, mas também com os anúncios de marcas chinesas frequentemente exibidos nas laterais. Entre os 13 principais patrocinadores oficiais do evento deste ano, um recorde de cinco são empresas chinesas: Hisense, Alipay, Vivo, AliExpress e BYD. Isso re flete a expansão e influência no exterior das empresas chinesas. No entanto, alguns meios de comunicação alemães questionaram isso como parte da "estratégia geopolítica de Pequim", criticando a UEFA por "colocar interesses econômicos acima de seus objetivos políticos e sociais". Por essa lógica, transmitir a UEFA Euro na China significa ajudar a Europa a expandir sua influência política? Essas interpretações políticas são totalmente absurdas.

Ver empresas chinesas patrocinando a UEFA Euro de uma perspectiva ideológica não é apenas arrogante, mas também revela falta de confiança. O futebol moderno nasceu na Europa, que tem uma profunda cultura futebolística e um amplo público. A UEFA Euro é um evento globalmente influente. As estatísticas mostram que o número de fã ;s chineses acompanhando a UEFA Euro deste ano excede o do país anfitrião, a Alemanha. As empresas chinesas que fazem parcerias profundas com a UEFA Euro veem isso como uma plataforma valiosa e uma entrada no mercado europeu, esperando aumentar a exposição publicitária e o reconhecimento da marca. Essas empresas chinesas são corporações multinacionais maduras com tecnologia avançada e alto reconhecimento de mercado. Essas mídias ocidentais ficariam mais felizes se ignorassem a UEFA Euro?

A UEFA, organizadora da UEFA Euro, não vê a questão da mesma forma que alguns veículos de comunicação. Ela destaca que a UEFA Euro atrai "algumas das maiores marcas e organizações do mundo", aumentando significativamente a receita da UEFA para reinvestimento no futebol e proporcionando aos fãs oportunidades únicas e a melh or experiência da UEFA Euro. Esta é uma atitude factual. Ao contrário do patrocínio tradicional, as empresas chinesas têm uma cooperação profunda com a UEFA Euro desta vez. Por exemplo, a BYD é responsável pelos veículos oficiais da UEFA Euro, e a série Vivo X100 é o telefone oficial; a Hisense fornece suporte técnico para análises VAR (Video Assistant Referee), e sua nova plataforma de qualidade de imagem de IA de cena completa e tecnologia de compensação de movimento MEMC oferecem aos espectadores imagens de partidas melhores e mais suaves; A Alipay introduziu a tendência "scan-to-pay", beneficiando vários comerciantes, de pequenas barracas de sorvete a redes de restaurantes. Essas colaborações são benéficas e criam ciclos positivos de longo prazo.

Não temos intenção de nos envolver em um duelo ou debate com a mídia ocidental, mas é necessário furar o "casulo de informações" que eles construíram cuidadosamente. Por exemplo, eles alegam que há cinco empresas chinesas como principais patrocinadores oficiais, em comparação com apenas três da Alemanh a, o país anfitrião. Se os leitores alemães que não estão cientes da situação real virem isso, eles podem sentir uma sensação de crise de que suas empresas nacionais estão sendo espremidas por empresas chinesas. Na realidade, a UEFA Euro estava aberta a patrocinadores globais desde o início, evoluindo de ser dominada por empresas americanas e europeias para, mais tarde, ver alta exposição de empresas japonesas e sul-coreanas. Isso reflete a globalização econômica. Além disso, publicidade e patrocínio são parte das estratégias de negócios corporativos, e a necessidade de novas empresas estrangeiras de aumentar seu perfil na Europa é naturalmente maior do que a de empresas europeias estabelecidas. Sem mencionar que as empresas chinesas sempre se destacaram em operações localizadas. A BYD anunciou uma fábrica na Hu ngria. A Hisense tem quase 10.000 funcionários na Europa, cinco bases de produção e seis centros de P&D. Assim como a UEFA Euro, a Europa em si é uma plataforma, e o investimento externo é um reconhecimento da Europa, não o contrário.

O intercâmbio esportivo, como uma atividade sem fronteiras, não deve ser restringido pela geopolítica e ideologia. De acordo com o China Media Group, a emissora oficial desta UEFA Euro, várias partidas nos dois primeiros dias de transmissão excederam uma taxa de audiência de 1%, e várias partidas tiveram uma participação de audiência de mais de 15%. A UEFA Euro é especialmente amada por públicos jovens e de elite na China. Outra emissora, a China Mobile Migu, colaborou com várias cidades chinesas para sediar eventos de transmissão ao vivo offline. Nunca houve uma voz na sociedade chinesa alegando que a popularidade da UEFA Euro na China é parte de um "jogo de xadrez de estratégia geopolítica" da Europa.

Na UEFA Euro, os times que dão tudo de si recebem mais aplausos. Nos negócios, o mesmo espírito de ousadia para lutar e se esforçar também ganhará mais apoiadores. Espero que aqueles que criticam as empresas chinesas, ao mesmo tempo em que torcem pelos times europeus, também valorizem o precioso espírito de luta, esforço e justiça em campo, e vejam a competição normal entre empresas com uma mentalidade positiva, em vez de acusar os oponentes de "trapacear" à menor "perda". Além disso, nesta corrida, o resultado da competição não é necessariamente um jogo de soma zero; é mais provável que seja mutuamente benéfico.

George Câmara opina

Cidades, metrópoles e mudanças climáticas
Aprofundam-se os questionamentos, as incertezas e os temores acerca do futuro, não apenas para as próximas gerações, mas para as atuais, já submetidas aos efeitos nocivos à natureza
George Câmara*   

Os recentes desastres ambientais, cada vez mais intensos e frequentes, que ocorrem em diferentes continentes, países e regiões, comprovam que estamos diante de uma grave crise ambiental, instalada em todo o planeta, trazendo variados eventos catastróficos incontroláveis, como o ocorrido em maio último em nosso país, no Rio Grande do Sul.

Como vem sendo amplamente pesquisado e divulgado, tais fenômenos decorrem do aquecimento global, provocado, principalmente, pela emissão de gases com efeito de estufa – GEE – na atmosfera (dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e clorofluorcarbonetos).

São efeitos do padrão de produção e reprodução das riquezas aplicado ainda hoje, notadamente pelo bloco de países considerados desenvolvidos, responsáveis pelo uso em grande escala dos combustíveis fósseis – como carvão mineral e petróleo – com seus efeitos poluidores.

Outra causa é o desmatamento que tem, ao longo dos anos, eliminado muitas florestas e reduzido consideravelmente o tamanho de outras, pelo planeta afora, inclusive no Brasil. O agronegócio que o diga.

Aprofundam-se os questionamentos, as incertezas e os temores acerca do futuro, não apenas para as próximas gerações, mas para as atuais, já submetidas a tais efeitos nocivos à natureza – aí incluídas as populações e demais seres vivos.

As medidas corretivas – e não mais preventivas – aprovadas nos fóruns, conferências e encontros, pelo conjunto dos países, por meio de organismos internacionais, nos últimos anos e décadas, no sentido de conter e até mesmo reverter a tendência do aumento crescente do aquecimento global, estão se mostrando insuficientes e pouco efetivas.

O Brasil já dispõe de uma matriz energética considerada limpa, quando comparada aos parâmetros globais. A matriz brasileira é composta, em média, por 52% de energia fóssil e por 48% de energia renovável, enquanto na matriz global as energias de origem fóssil representam mais de 80%.

Grande parte da energia brasileira é gerada por meio de hidroelétricas. Ainda assim, o país vem buscando fortemente o caminho do desenvolvimento da energia eólica e da energia fotovoltaica (solar), contribuindo ainda mais para a preservação ambiental em âmbito global.

Entretanto, devido ao alto grau de vulnerabilidade socioambiental presente nas cidades brasileiras de maior porte, onde a maioria da população mora em condições de risco de alagamentos e desmoronamentos, entre outros, é preciso, com urgência, incorporar a variável climática no contexto da Política Urbana.

Para isso, é necessário promover as devidas adequações legais ao Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), para dotar as respectivas gestões municipais – em ações integradas com outros entes da federação – de capacidade para intervenção nesse novo cenário.

O Ministério das Cidades já vem realizando estudos nesse sentido, considerando, inclusive, a existência da Secretaria Nacional de Periferias, acrescida, em sua nova estrutura, para interagir junto às demais Secretarias Nacionais de: Desenvolvimento Urbano e Metropolitano, Habitação, Mobilidade Urbana e Saneamento Ambiental.

Cabe lembrar que as adequações não podem se limitar ao Estatuto da Cidade. Considerando a realidade das maiores cidades brasileiras e suas regiões metropolitanas, onde se expressam graves problemas econômicos, sociais e ambientais, entre outros, é preciso adequar também o Estatuto da Metrópole (Lei 13.089/2015) às mudanças climáticas.

Como no caso recente de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a problemática se estende não apenas ao universo urbano, mas a toda a sua região metropolitana, indo muito além de seus próprios limites geográficos e alcançando parte considerável de todo o Estado.

Afinal de contas, num universo marcado pela interdependência das relações, os fenômenos climáticos não obedecem a limites geopolíticos municipais.

*Ex-vereador pelo PCdoB em Natal-RN

Sylvio: privilégios

A extrema direita critica o valor do salário mínimo estipulado pelo governo Lula alegando que em quatro anos a Previdência vai custar muito. Agora, não se importa com a elevada taxa de juros, uma das mais altas do mundo que, em doze meses, custou 750 bilhões com juros da dívida pública, nem com as desonerações para os ricos, que custam 540 bilhões por ano. Só pensa e deseja tirar dos mais pobres, ao mesmo tempo que defende os privilégios dos mais ricos, do mercado e do sistema financeiro.

Sylvio Belém 

Enfrentando o rentismo

Para encarar a blitz da Faria Lima
Setores que tutelam Lula 3 desde o início apertaram o cerco. Ataque contra o gasto público é ladainha diária nos jornais – com apoio da Fazenda e Planejamento. Resposta pode estar em movimentos pela Saúde e Educação. Mas é preciso rapidez
/Outras Palavras   

Na atual conjuntura política, o terceiro governo Lula passa por um momento crítico, de pressões e ataques sistemáticos por parte do capital financeiro (vulgo a “Faria Lima”) e de seus prepostos e representantes no Parlamento e na mídia corporativa. A ladainha é a mesma de sempre: para eles o ajuste fiscal permanente resolverá todos os problemas do país; particularmente é “a” precondição incontornável para que se possa ter maiores taxas de crescimento de forma sustentável.

No entanto, agora, a campanha agressiva da direita neoliberal para que o governo corte gastos escalou, de forma ousada, alguns degraus, algo que já foi tentado, sem sucesso, em vários momentos e governos anteriores. Exige-se que os benefícios da Previdência (aposentadorias) e Assistência Social (Benefício de Prestação Continuada – BPC) sejam idesvinculados do salário-mínimo. Cobra-se o fim dos pisos mínimos criados pela Constituição de 1988 para proteger os gastos públicos em Saúde (15% da receita líquda da União) e Educação (18% da receita de impostos). Ameaça-se, assim, o financiamento de ambas.

Está-se diante de uma verdadeira blitz do capital financeiro e de seus representantes e prepostos contra os interesses da maioria da população. Embora não seja surpresa, esse comportamento das frações hegemônicas do grande capital e da burguesia brasileira, desconectado do mundo real das classes trabalhadoras e populares, impressiona pela rudeza e estupidez no trato da questão social.

A pandemia da Covid, que colocou de joelhos todos os países do mundo, teve o seu auge há pouco, em 2020. No Brasil, apesar do comportamento genocida de Bolsonaro e de seu governo (que implicou em mais de 700 mil mortes), o SUS (Sistema Único de Saúde) teve um papel fundamental no combate ao vírus, elogiado por todos (exceto os bolsonaristas-neofascistas), inclusive pelos que agora querem cortar os recursos destinados à Saúde. Um sistema que, apesar de ser subfinanciado, é reconhecido internacionalmente como uma política pública universal de excelência. O mesmo valeu para o papel das Universidades Públicas Federais no enfrentamento ao vírus, em especial através de sua capacidade de pesquisa, ainda que também subfinanciada, e de produção de equipamentos.

Não é segredo para ninguém de que o terceiro governo Lula, mais do que os anteriores, está sendo, desde o início, tutelado pelas forças políticas do capital financeiro. Elas impedem que o programa econômico-social aprovado nas urnas em 2022 seja posto em prática. E os dois instrumentos que possibilitam que isso aconteça são o Banco Central independente (não em relação ao capital financeiro) e o denominado Novo Arcabouço Fiscal (NAF).

E aqui chegamos ao centro do problema: o NAF é incompatível com a manutenção dos pisos constitucionais da Saúde e da Educação. Com a regra, nele estabelecida, de que o gasto público, a cada ano, só pode crescer 2,5%, mesmo que o crescimento das receitas ultrapasse esse percentual, a tendência é de que, dinamicamente, os gastos com a Saúde e Educação passem a absorver uma parcela cada vez maior do total dos gastos — porque eles sobem tanto quanto as receitas. Em resumo: ao longo do tempo, as outras despesas correntes (Habitação, Transporte, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente etc.) tenderão a ter um espaço cada vez menor no orçamento geral do governo; podendo, no limite, os gastos com saúde e educação se igualarem ao total das despesas, excluindo todas as demais. Para o capital financeiro e a direita neoliberal, a solução é acabar com os pisos. Para a Saúde e a Educação a solução é acabar com o NAF ou, alternativamente, retirá-las dessa camisa de força. Entre essas duas soluções, não pode haver qualquer compromisso, ou eufemisticamente “flexibilizações”, por um motivo muito simples: em qualquer tipo de acordo que encontre um meio termo, a Saúde e a Educação do povo brasileiro sairão perdendo.

O mais grave nesse processo é que osm inistérios da Fazenda e do Planejamento do Governo Lula estão conspirando, sem disfarces, contra os pisos. E isso em uma situação em que o argumento da existência de uma correlação de forças desfavorável é reiteradamente ressaltado pelo governo Lula e o seu entorno, para justificar um comportamento passivo e acovardado frente às forças políticas do capital. Não há qualquer iniciativa por parte desse governo de mobilizar as suas bases sociais organizadas, que foram decisivas no enfrentamento à extrema direita neofascista, na defesa da democracia nos quatro anos do governo Bolsonaro e na vitória eleitoral de Lula. Nada se faz para pressionar e confrontar, nas ruas e nas redes sociais, a maioria reacionária do atual Congresso Nacional, simbolizada e representada na figura do presidente da Câmara de Deputados, Arthur Lira.

No recente episódio, patrocinado por esse oportunista, da aprovação a “toque de caixa” do criminoso e inacreditável “Projeto de Lei do Estupro” (PL-1904), ficou evidente, de forma didática: a única forma de confrontar o chamado “Centrão”, a extrema direita e a direita neoliberal é por meio da mobilização e ação política nas ruas, denunciando-o e afirmando que barbaridades desse tipo, maiores ou menores, não serão aceitas. A rápida e contundente mobilização social, sobretudo das mulheres, contra esse PL, denunciando que “criança não é mãe e estuprador não é pai”, obrigou o presidente da Câmara a recuar. Colocou na defensiva os deputados que formularam e apoiaram a proposta. E o mais sintomático, é que só após essa mobilização, Lula e o seu governo saíram de seu silêncio constrangedor para condenar a iniciativa grotesca de obrigar as mulheres e crianças estupradas a carregarem e assumirem os filhos dos criminosos que as violentaram, sob pena de serem condenadas a 20 anos de cadeia. A mensagem deixada foi clara: correlação de forças desfavorável não é destino, para ser aceita passivamente; muito pelo contrário, há de se agir politicamente para modificá-la.

Estamos em um momento decisivo para o presente e o futuro da Saúde e da Educação dos brasileiros, em particular de sua esmagadora maioria que necessita de serviços públicos de qualidade e em quantidade suficiente, que possam atender a todos. A luta em defesa dos pisos constitucionais é a luta maior a ser travada na conjuntura presente e imediata, enquanto parte do esforço mais geral de redução das desigualdades estruturais que caracterizam, secularmente, a sociedade brasileira. 

Está-se diante de uma verdadeira blitz do capital financeiro e de seus representantes e prepostos contra os interesses da maioria da população. Embora não seja surpresa, esse comportamento das frações hegemônicas do grande capital e da burguesia brasileira, desconectado do mundo real das classes trabalhadoras e populares, impressiona pela rudeza e estupidez no trato da questão social.

A pandemia da Covid, que colocou de joelhos todos os países do mundo, teve o seu auge há pouco, em 2020. No Brasil, apesar do comportamento genocida de Bolsonaro e de seu governo (que implicou em mais de 700 mil mortes), o SUS (Sistema Único de Saúde) teve um papel fundamental no combate ao vírus, elogiado por todos (exceto os bolsonaristas-neofascistas), inclusive pelos que agora querem cortar os recursos destinados à Saúde. Um sistema que, apesar de ser subfinanciado, é reconhecido internacionalmente como uma política pública universal de excelência. O mesmo valeu para o papel das Universidades Públicas Federais no enfrentamento ao vírus, em especial através de sua capacidade de pesquisa, ainda que também subfinanciada, e de produção de equipamentos.

Não é segredo para ninguém de que o terceiro governo Lula, mais do que os anteriores, está sendo, desde o início, tutelado pelas forças políticas do capital financeiro. Elas impedem que o programa econômico-social aprovado nas urnas em 2022 seja posto em prática. E os dois instrumentos que possibilitam que isso aconteça são o Banco Central independente (não em relação ao capital financeiro) e o denominado Novo Arcabouço Fiscal (NAF).

E aqui chegamos ao centro do problema: o NAF é incompatível com a manutenção dos pisos constitucionais da Saúde e da Educação. Com a regra, nele estabelecida, de que o gasto público, a cada ano, só pode crescer 2,5%, mesmo que o crescimento das receitas ultrapasse esse percentual, a tendência é de que, dinamicamente, os gastos com a Saúde e Educação passem a absorver uma parcela cada vez maior do total dos gastos — porque eles sobem tanto quanto as receitas. Em resumo: ao longo do tempo, as outras despesas correntes (Habitação, Transporte, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente etc.) tenderão a ter um espaço cada vez menor no orçamento geral do governo; podendo, no limite, os gastos com saúde e educação se igualarem ao total das despesas, excluindo todas as demais. Para o capital financeiro e a direita neoliberal, a solução é acabar com os pisos. Para a Saúde e a Educação a solução é acabar com o NAF ou, alternativamente, retirá-las dessa camisa de força. Entre essas duas soluções, não pode haver qualquer compromisso, ou eufemisticamente “flexibilizações”, por um motivo muito simples: em qualquer tipo de acordo que encontre um meio termo, a Saúde e a Educação do povo brasileiro sairão perdendo.

O mais grave nesse processo é que osm inistérios da Fazenda e do Planejamento do Governo Lula estão conspirando, sem disfarces, contra os pisos. E isso em uma situação em que o argumento da existência de uma correlação de forças desfavorável é reiteradamente ressaltado pelo governo Lula e o seu entorno, para justificar um comportamento passivo e acovardado frente às forças políticas do capital. Não há qualquer iniciativa por parte desse governo de mobilizar as suas bases sociais organizadas, que foram decisivas no enfrentamento à extrema direita neofascista, na defesa da democracia nos quatro anos do governo Bolsonaro e na vitória eleitoral de Lula. Nada se faz para pressionar e confrontar, nas ruas e nas redes sociais, a maioria reacionária do atual Congresso Nacional, simbolizada e representada na figura do presidente da Câmara de Deputados, Arthur Lira.

No recente episódio, patrocinado por esse oportunista, da aprovação a “toque de caixa” do criminoso e inacreditável “Projeto de Lei do Estupro” (PL-1904), ficou evidente, de forma didática: a única forma de confrontar o chamado “Centrão”, a extrema direita e a direita neoliberal é por meio da mobilização e ação política nas ruas, denunciando-o e afirmando que barbaridades desse tipo, maiores ou menores, não serão aceitas. A rápida e contundente mobilização social, sobretudo das mulheres, contra esse PL, denunciando que “criança não é mãe e estuprador não é pai”, obrigou o presidente da Câmara a recuar. Colocou na defensiva os deputados que formularam e apoiaram a proposta. E o mais sintomático, é que só após essa mobilização, Lula e o seu governo saíram de seu silêncio constrangedor para condenar a iniciativa grotesca de obrigar as mulheres e crianças estupradas a carregarem e assumirem os filhos dos criminosos que as violentaram, sob pena de serem condenadas a 20 anos de cadeia. A mensagem deixada foi clara: correlação de forças desfavorável não é destino, para ser aceita passivamente; muito pelo contrário, há de se agir politicamente para modificá-la.

Estamos em um momento decisivo para o presente e o futuro da Saúde e da Educação dos brasileiros, em particular de sua esmagadora maioria que necessita de serviços públicos de qualidade e em quantidade suficiente, que possam atender a todos. A luta em defesa dos pisos constitucionais é a luta maior a ser travada na conjuntura presente e imediata, enquanto parte do esforço mais geral de redução das desigualdades estruturais que caracterizam, secularmente, a sociedade brasileira.

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2022/07/bomba-de-efeito-retardado.html

Humor de resistência: Miguel Paiva

 

Miguel Paiva

Leia: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/07/o-golpe-das-lojas-americanas.html

Minha opinião/resistência na França

Onde a barricada é o voto 
Luciano Siqueira    

Tão logo se anunciou a vitória da extrema direita no primeiro turno das eleições primárias na França, manifestações de rua eclodiram sobre a iniciativa das forças situadas à esquerda. 


Mais do que legítimo. Uma prática democrática. 


Entretanto, é preciso ser realista. Não bastam manifestações de rua. É preciso chegar junto ao povo francês e conquistar o voto. 


Tal como no Brasil e pelo mundo afora, a expansão das forças situadas à direita para ser contida é preciso atividade política intensa na base da sociedade. 


Um trabalho artesanal, como dizia Lenin. 


Preparando a segunda rodada das eleições francesas, especula-se uma aliança entre a esquerda e o centro conservador representado pelo presidente Macron.


Pode ser. 


Todo esforço há de ser feito para conter a ascensão da de extrema-direita. E no atual estágio da luta política, as barricadas são feitas de voto.


Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/minha-opiniao_18.html

No X (ex-Twitter) @lucianoPCdoB

O iFood domina 80% do mercado de delivery do país, envolvendo cerca de 350 mil restaurantes. A precarização do trabalho está na base desse do monopólio.

Leia: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2021/04/questao-de-classe.html

Recorte de gênero nas olimpíadas

As olimpíadas de Paris 2024 serão as primeiras com paridade total de gênero
Comitê Olímpico Internacional reservou metade do limite das vagas para atletas femininas; alto comissário de Direitos Humanos diz haver um longo caminho a percorrer para garantir respeito total pelos direitos humanos e inclusão no esporte.
ONU News   

Nesta segunda-feira, o Conselho de Direitos Humanos debateu a promoção dos direitos humanos por meio do esporte e do ideal olímpico em sessão que acontece em Genebra.

O presidente do Comitê Olímpico Internacional, COI, Thomas Bach, anunciou que os Jogos Olímpicos de Paris 2024 serão os primeiros com paridade total de gênero porque a instituição “alocou exatamente 50% das vagas nas cotas para atletas femininas”.

Parceria com o Comitê Paralímpico Internacional

Para o chefe do COI, a decisão promove a igualdade de gênero e apoia o esporte paralímpico em todo o mundo por meio da parceria com o Comitê Paralímpico Internacional.

Na mesa redonda com o título “Promovendo a inclusão no e por meio do esporte”, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, disse que o ambiente esportivo não é imune ao racismo, à violência contra as mulheres, à corrupção e à discriminação.

Turk explicou ainda que quando os atletas usam suas vozes para promover a igualdade no esporte, eles são defensores dos direitos humanos.

Para o alto comissário “há ainda um longo caminho a percorrer para garantir o respeito total pelos direitos humanos e a inclusão no esporte”.

Garantir acesso a recursos e evitar violações

Turk relembrou que os “Estados têm a responsabilidade primária de abordar essas questões de forma abrangente e proativa, além de garantir o acesso a recursos e evitar novas violações”.

Ele acrescentou que cabe às autoridades dos países estabelecer uma política de tolerância zero ao racismo e a todas as formas de discriminação no esporte, incluindo o antissemitismo e a islamofobia. 

Turk pediu que se mantenha o compromisso com políticas e programas inclusivos de gênero que apoiem o empoderamento das mulheres.

Indenização e responsabilização

O chefe de direitos humanos apontou ainda a discriminação com base em religião ou traje religioso, deficiência, nacionalidade ou orientação sexual e identidade de gênero.

Quanto às mulheres transgênero e intersexo, ele disse que frequentemente enfrentam discriminação contínua, com pouco lugar para buscar indenização e responsabilização adequadas.

O COI destacou que provavelmente o símbolo mais emblemático do compromisso com a inclusão nos jogos da capital francesa “é a Equipe Olímpica de Refugiados do COI, que participará com um número recorde de atletas em Paris.”

O debate contou ainda com a presença do atleta sul-sudanês Pur Biel. Ele fez parte da primeira Equipe Olímpica de Refugiados do COI nos Jogos Olímpicos Rio 2016 e vive nos Estados Unidos.

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/03/pacote-de-propostas-e-medidas.html

Sylvio: anomalia

A enorme proliferação de igrejas evangélicas com várias denominações, além de superar o número de escolas e hospitais no País, tem sido marcada por um crescente número de abusos sexuais cometidos contra fiéis por pastores. A que se deve, desde que tais pastores não são submetidos ao celibato?  Má formação, não comprometimento com princípios morais ou religiosos ou o fato de que criminosos têm sido alçados a condição de líderes nas referidas igrejas?

Sylvio Belém 

Plano Real: e agora?

Plano Real, 30 anos: "Ainda não conquistamos estabilidade com prosperidade"
Economista Diogo Santos avalia que Plano Real teve mérito de controlar a hiperinflação que desafiava a economia, mas prejudicou a indústria e o emprego
O Estado de Minas

Economista Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Fundação Ipead), vinculada à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diogo Santos diz que o Plano Real, que completa 30 anos nesta segunda-feira (1/7), deixou um legado positivo e um negativo para o Brasil. Em entrevista ao Estado de Minas, ele falou sobre a desvalorização da moeda ao longo dos anos, regime de metas de inflação e a estabilidade de preços aos consumidores. 

Passados 30 anos da entrada em vigor do Plano Real, qual a avaliação que o senhor faz dessa iniciativa?
O Plano Real gerou um legado positivo e outro negativo. A herança positiva foi encerrar um período de alta inflação que o país enfrentava desde meados dos anos 1980. Isso foi possível graças ao aprendizado com os fracassos dos planos anteriores de combate à inflação e ao retorno da entrada de recursos financeiros externos (dólares) para os países em desenvolvimento, que havia se interrompido na década anterior.

E o negativo?

O legado negativo foi ter criado uma armadilha de baixo crescimento econômico. Para sustentar a estabilidade de preços, a taxa de câmbio e a taxa de juros foram mantidas em um patamar que prejudicava a produção nacional, principalmente a indústria e, portanto, a geração de empregos com remuneração maior. Ainda hoje o país sofre as consequências dos efeitos negativos desses fatores. Estamos vivendo uma desindustrialização, isto é, estamos mais dependentes da exportação de produtos como minério de ferro, soja, petróleo e café. Isso deixa o país mais pobre e mais vulnerável aos problemas econômicos mundiais. 

Como podemos definir o Plano Real, que envolveu mais do que a busca de estabilização da moeda?

O Plano Real, em si, adotado no primeiro semestre de 1994, tinha nada mais que o objetivo de controlar a inflação. Mas, se entendermos o Plano Real como o conjunto de mudanças macroeconômicas realizadas pelo governo federal nos anos seguintes, podemos dizer que ele significou uma adaptação do Estado e da economia brasileira para dar mais liberdade e garantias aos setores financeiros nacional e internacional. A adoção do regime de metas de inflação, a busca permanente por superávit primário – isto é, o governo devolvendo menos para a sociedade na forma de serviços públicos do que o valor arrecadado com tributos – e a livre entrada e saída de capitais, conjugada com juros elevados, são fatores que moldam o funcionamento da economia brasileira até hoje e tornam o ambiente econômico menos propício ao desenvolvimento econômico sustentável. 

O frango se tornou um símbolo do real, sendo vendido a R$ 1 o quilo, em 1994. Hoje, a situação é bem diferente. O que mudou e por quê?
Em primeiro lugar, a desvalorização da moeda ao longo do tempo é um processo normal. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, esse processo é mais intenso. Desde 1995, o real teve uma desvalorização de cerca de 708%. O dólar, por exemplo, que é a moeda mais poderosa e desejada no mundo, e por isso também uma das mais estáveis, se desvalorizou cerca de 100% desde 1995. Em segundo lugar, no Plano Real, a moeda brasileira foi fixada com o dólar, ou seja, um real valia um dólar. Com isso, o poder de compra do real era alto. Mas isso tem consequências negativas também. Com o real valorizado, ficava mais barato importar do que produzir no país, criando assim uma competição desleal entre os produtos nacionais e os importados, gerando menos empregos no país.

Com o Plano Real, produtos como o iogurte, antes restrito a camadas mais abastadas da sociedade, se tornaram acessíveis a outros brasileiros. De que forma isso ocorreu?
Isso ocorreu pela manutenção do real em patamar muito valorizado em relação ao dólar. A chamada “âncora cambial” foi o fator decisivo para garantir a estabilidade da moeda; e somente foi possível porque, na época, os países ricos e o setor financeiro internacional voltaram a emprestar para o Brasil, ou seja, forneceram os dólares necessários para manter o real valorizado. Essa opção não existiu, por exemplo, no Plano Cruzado, em 1986. Além disso, toda vez que um plano de estabilização entra em vigor, ocorre uma interrupção inicial da inflação, e isso aumenta o poder de compra do salário, permitindo um consumo menos restritivo por parte das famílias de menor renda.
 

A estabilidade da moeda permitiu que muitos brasileiros comprassem apartamento (financiado), carro novo e outros bens de consumo, o que seria impossível com a inflação nas alturas. Podemos dizer que a inflação é sempre a maior ameaça à força do real?
A estabilidade dos preços é um dos fatores relevantes para o desenvolvimento econômico. Mas não é o único. Tão importante quanto a estabilidade de preços, é a capacidade de o país realizar uma trajetória de crescimento econômico sustentável, com elevação da produtividade do trabalho, aumento da produção com maior conteúdo tecnológico e modernização da estrutura produtiva. Esses são os fatores cruciais para elevar o padrão de vida da população de modo sólido e duradouro. A conquista da estabilidade da moeda, trazida pelo plano real, foi importante, mas ainda não conquistamos estabilidade com prosperidade econômica e social.

Com o Plano Real, produtos como o iogurte, antes restrito a camadas mais abastadas da sociedade, se tornaram acessíveis a outros brasileiros. De que forma isso ocorreu?
Isso ocorreu pela manutenção do real em patamar muito valorizado em relação ao dólar. A chamada “âncora cambial” foi o fator decisivo para garantir a estabilidade da moeda; e somente foi possível porque, na época, os países ricos e o setor financeiro internacional voltaram a emprestar para o Brasil, ou seja, forneceram os dólares necessários para manter o real valorizado. Essa opção não existiu, por exemplo, no Plano Cruzado, em 1986. Além disso, toda vez que um plano de estabilização entra em vigor, ocorre uma interrupção inicial da inflação, e isso aumenta o poder de compra do salário, permitindo um consumo menos restritivo por parte das famílias de menor renda.

A estabilidade da moeda permitiu que muitos brasileiros comprassem apartamento (financiado), carro novo e outros bens de consumo, o que seria impossível com a inflação nas alturas. Podemos dizer que a inflação é sempre a maior ameaça à força do real?
A estabilidade dos preços é um dos fatores relevantes para o desenvolvimento econômico. Mas não é o único. Tão importante quanto a estabilidade de preços, é a capacidade de o país realizar uma trajetória de crescimento econômico sustentável, com elevação da produtividade do trabalho, aumento da produção com maior conteúdo tecnológico e modernização da estrutura produtiva. Esses são os fatores cruciais para elevar o padrão de vida da população de modo sólido e duradouro. A conquista da estabilidade da moeda, trazida pelo plano real, foi importante, mas ainda não conquistamos estabilidade com prosperidade econômica e social.

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/07/plano-real-30-anos.html

Humor de resistência: Aroeira

 

Aroeira

Minha opinião/a palavra do presidente

Lula fala para o povo entender 
Luciano Siqueira   

Foi mais um desabafo — e é bom que seja uma atitude persistente: o presidente Lula disse ontem na Bahia, em ato público, que não tem que prestar contas a banqueiros, mas ao povo pobre. 

E soltou a lenha nos agentes do mercado financeiro, que o criticam diariamente.

A palavra do presidente da República é importante em qualquer circunstância. Parcelas expressivas da população a levam em conta. E Lula fala de modo que todos compreendam — do engravatado da Faria Lima ao trabalhador rural subletrado. 

Hoje ele estará no Recife. 

Que siga no mesmo diapasão. 

Quanto mais o presidente for claro e afirmativo, mais contribui para despertar militantes e ativistas para a ingente necessidade de se debater na base da sociedade o que se passa no país e em cada lugar.

Para que possamos ter na cena política nacional um dado fundamental e ainda ausente: povo mobilizado.

Arte é vida: desenho de Alice

 

Alice, 10 anos

Produção e preservação ambiental

Estratégia Nacional de Economia Circular é lançada pelo governo federal
Presidente Lula assinou o decreto que estabelece diretrizes para o modelo que visa o uso eficiente dos recursos naturais no setor produtivo com foco na preservação ambiental
Murilo da Silva/Vermelho  

Na quinta-feira (27), o presidente Lula assinou o decreto que institui a Estratégia Nacional de Economia Circular (ENEC), durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o Conselhão. Coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a iniciativa visa fomentar o uso eficiente dos recursos naturais no país pelo setor produtivo.

O modelo que prega práticas sustentáveis ao longo da cadeia produtiva, estabelece a produção linear: da extração, passando pela produção até o descarte adequado.

De acordo com o governo federal, a ENEC integra a Nova Indústria Brasil (NIB) e se baseia no aumento do ciclo de vida dos produtos, assim como na eliminação da poluição e na redução da geração de rejeitos e resíduos – sempre com foco no meio-ambiente.
 

Para o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, este é mais um passo “em direção à neoindustrialização, reforçando o papel do governo no fomento a uma indústria sob novos pilares, gerando inovação, novos negócios alinhados ao crescimento sustentável e responsável, criando empregos e reduzindo significativamente o impacto ambiental das atividades produtivas e de consumo.”

Portanto, a iniciativa irá criar um ambiente normativo para a economia circular com a interrupção do ciclo de descarte para a transição para um modelo que ressalta a importância de produtos mais resistentes, reutilizáveis, passíveis de reparação, reciclagem, entre outros tipos de destinação sustentável.

O redesenho de processos produtivos trazido com a Estratégia ainda permitirá que o país siga no cumprimento de suas metas de redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs) e gera novos empregos com a implementação de negócios circulares.

Fórum Nacional de Economia Circular

O decreto ainda institui o Fórum Nacional de Economia Circular, responsável pela do Plano Nacional de Economia Circular, com metas, padrões e indicadores.

O Fórum será presidido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), por meio da Secretaria de Economia Verde (SEV), e contará com o MMA na Secretaria Executiva; e com os ministérios da Fazenda (MF), Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); Educação (MEC); Desenvolvimento Agrário e Agricultura e Familiar (MDA); Agricultura e Pecuária (Mapa); Trabalho e Emprego (MTE); Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS); Minas e Energia (MME) e Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (MEMP), além de representantes da Casa Civil, da Secretaria-Geral da Presidência da República e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anivsa).

*Com informações Planalto

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Palavra de poeta: Carlos Pena Filho

Retrato breve do adolescente

Carlos Pena Filho 

A Murilo Costa Rego 

Aos dez anos, tinha apenas
um catecismo discreto
e os olhos presos nas alvas
e nudas formas do teto.
Às vezes, em dias claros,
em tardes de sol concreto
retirava os olhos mudos
das alvas formas do teto,
sonhava tempo e navios,
mas seu sonho predileto
estava nos negros olhos
que habitavam seu afeto
e que ele há tanto buscava
longe das formas do teto.
 

Um dia, a chuva imprevista
que às vezes cai no verão
dormiu sobre o seu telhado
molhou-lhe a imaginação,
tempo em que foi visitado
seu humilde coração
por Isa, Rosa e uma vaga
Maria da Conceição
e aquele mais do que nunca
herói do sonhar em vão
foi dormir com todas elas
nas curvas da própria mão.
 

Num dia de aniversário
usou (a primeira vez)
solenes calças compridas,
gravata alegre. Era o mês
em que nos campos mais frios
e em outros campos, talvez,
inauguravam-se as rosas
imitando a quem as fez,
e aquele mais do que nunca
latino por sua têz,
apascentou em silêncio
as coisas que nunca fez.
 

Depois, a moça morena
que em sua rua morava,
embora sendo tão pouco
para quem tanto aguardava,
mostrou-lhe: o esperar é vão,
E veio o beijo roubado
na penumbra do portão.
Enfim, na noite mais forte
que houvera em todo o verão
ambos foram dormir juntos
aquém das curvas da mão.
 

Aos dezoito olhou p’ra trás:
perdera-se todo o afeto.
Olhou para a frente e viu
o nada por objeto.
Olhou p’ra cima e sorriu
das alvas formas do teto.

[Ilustração: Pablo Picasso]

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