19 julho 2024

Minha opinião: vida que segue

Na próxima esquina nos veremos de novo
Luciano Siqueira  
  

Eis que de repente você se percebe desnecessário. 

Não apenas em um ambiente. Em alguns. 

Em uns, nada mais do que natural. Afinal, o tempo avançou e a experiência acumulada, e até mesmo o afeto, até ontem valorizados, parecem prescindíveis.

O tempo da comunicação digital instantânea, superficial e fracionada pulveriza convergências e sentimentos. 

As pessoas se detém diante da própria imagem na tela do smartphone, esse espelho de agora, experimentam a ilusão de que se bastam a si mesmas.

Mas há também muito equívoco quando extemporaneamente amizades são aparentemente desfeitas ou já não contam tanto. 

Pois a vida não ocorre que nem o rio cujas águas se renovam a cada segundo e quem está à margem apenas observa. 

É criar coragem, mergulhar e nadar a braçadas vigorosas para manter o ritmo do tempo e apontar caminhos. 

Desnecessário até quando? 

Até a próxima esquina, ora! 

Laços profundos desfeitos ou relegados a plano secundário teimam, resistem e ressurgem de muitas formas e em situações as mais diversas. 

No fundo, no fundo mesmo, relações humanas necessárias — pelo afeto, pelo trabalho e pela luta — só aparentemente se desfazem. Na prática, se transmutam. 

Então, a paciência e a persistência de quem acumula tempo sobre o chão desse conturbado e desafiante planeta voltam a ser premiadas por novas circunstâncias aparentemente fortuitas. 

São as voltas que o mundo dá, confirmando o que disse o poeta: tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

[Ilustração: Petre Abrudan]

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