Não apenas em um ambiente. Em alguns.
Em uns, nada mais do que natural. Afinal, o tempo avançou e a experiência acumulada, e até mesmo o afeto, até ontem valorizados, parecem prescindíveis.
O tempo da comunicação digital instantânea, superficial e fracionada pulveriza convergências e sentimentos.
As pessoas se detém diante da própria imagem na tela do smartphone, esse espelho de agora, experimentam a ilusão de que se bastam a si mesmas.
Mas há também muito equívoco quando extemporaneamente amizades são aparentemente desfeitas ou já não contam tanto.
Pois a vida não ocorre que nem o rio cujas águas se renovam a cada segundo e quem está à margem apenas observa.
É criar coragem, mergulhar e nadar a braçadas vigorosas para manter o ritmo do tempo e apontar caminhos.
Desnecessário até quando?
Até a próxima esquina, ora!
Laços profundos desfeitos ou relegados a plano secundário teimam, resistem e ressurgem de muitas formas e em situações as mais diversas.
No fundo, no fundo mesmo, relações humanas necessárias — pelo afeto, pelo trabalho e pela luta — só aparentemente se desfazem. Na prática, se transmutam.
Então, a paciência e a persistência de quem acumula tempo sobre o chão desse conturbado e desafiante planeta voltam a ser premiadas por novas circunstâncias aparentemente fortuitas.
São as voltas que o mundo dá, confirmando o que disse o poeta: tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
[Ilustração: Petre Abrudan]
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