Meu aniversário
Luciano Siqueira
Hoje
eu dou mais uma volta na espiral da vida: retornando ao ponto de partida e
projetando mais um ano pela frente. Que desejo sejam muitos ainda!
Muito
por acaso, li outro dia na 'Superinteressante' que de acordo com o livro The Lore of
Birthdays (“A Sabedoria dos Aniversários”, sem tradução em português), dos
antropólogos americanos Ralph e Adelin Linton, aniversários merecem
comemorações desde o Egito Antigo, ou seja, a moda surgiu por volta de 3000
a.C.
E
é um costume impregnado profundamente na sociedade brasileira.
Custa-me
crer que jamais eu tenha me acostumado com a comemoração, por
uma razão muito simples: a timidez.
Quando
completei 4 anos de vida — incrível que o fato jamais tenha saído da minha mente! —
ganhei de presente dos meus pais um par de sapatos pretos, de bico quadrado. Um
luxo, aos meus olhos. Tanto que passei o dia andando para cima e para baixo
dentro de casa admirando os próprios pés...
Meu
aniversário sempre foi comemorado da maneira mais discreta possível. Em
família.
Umas
poucas vezes, em razão da minha militância política e por insistência do
Partido e amigos, fizemos festa em público, com muita gente.
Nessas
situações, me esforcei muito para disfarçar o incômodo por ser o centro das
atenções.
A
minha timidez recomenda a discrição em toda linha.
Tanto que só recentemente admiti comprar camisas de padronagem colorida. Sempre
preferi cores e tonalidades neutras, próprias de quem gostaria de entrar e sair
nos lugares sem ser notado.
Ouvi
muitas vezes da minha mãe Oneide a advertência de que deveria deixar de
ser tão "envergonhado", sob pena de me prejudicar muito na idade
adulta.
O
fato é que sobrevivi e cá estou ativo no cumprimento dos meus deveres
militantes e no bom exercício dos prazeres da vida.
De
modo que hoje comemoro da melhor maneira
possível: café da manhã entre nós em casa, com filhas genros e netos.
Mais:
o prazer de receber por telefone, pelo WhatsApp e pelas redes sociais
cumprimentos afetuosos de muita gente, que tento agradecer em tempo real.
Com redobrada disposição de seguir inspirado em Cecília Meireles, para quem a vida deve ser vivida reinventada.
E com a convicta ousadia de me autoproclamar etariamente envelhecido, porém emocional e politicamente mais renovado do que nunca!
[Ilustração: Bruno Steinbach]
Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2022/05/cronica-do-sabado.html
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