30 novembro 2024

Minha opinião

Janelas de oportunidade 
Luciano Siqueira 

No jogo pesado das relações internacionais, a política externa do Brasil há de ser sempre soberana, proativa e propositiva. 

E muito sagaz para explorar contradições entre os diversos atores e conquistar espaço. 

Na guerra comercial por exemplo.

Nesse sentido, correta é a opinião do presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, manifestada no seminário Política Industrial para o Brasil.

Ele considera que provável retomada da guerra comercial empreendida por Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, pode ensejar novas oportunidades para o Brasil em exportações, atração de investimentos e fortalecimento de setores estratégicos como o de biocombustíveis.

Em várias outras conjunturas o Brasil se beneficiou de contradições entre potências. Como no período da segunda guerra mundial, no governo Getúlio Vargas, implantando indústrias estratégicas com o objetivo de reduzir a dependência de importações, especialmente de países envolvidos no conflito, e fortalecer a economia nacional.

Assim, foram implantadas a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN);  as indústrias química, aeronáutica, de cimento, de armamentos, de máquinas e equipamentos.

Demais, apesar da prolongada a crise do sistema capitalista desde 2006, existe considerável liquidez internacional e, por conseguinte, a possibilidade de novos importantes investimentos estrangeiros. 

Os acordos celebrados recentemente com a República Popular da China sinalizam nessa direção.

Leia: Brasil+China, cooperação mútua https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/brasilchina-cooperacao-mutua.html 

Postei no Threads

A alta do dólar cotado a r$ 6, ontem, a título de "frustração" face as medidas econômicas anunciadas pelo governo é manifestação explícita da intenção do capital financeiro tolher e até impedir que o presidente Lula governe conforme o projeto de reconstrução nacional com qual foi eleito. 

Leia a opinião do PCdoB sobre o pacote de medidas econômicas do governo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/palavra-do-pcdob_29.html

Minha opinião

A casa caiu e eles não se entendem
Luciano Siqueira 

Quanto mais Bolsonaro age e fala em sua própria defesa, mais se complica.

Seus defensores, idem. 

Paulo Cunha Bueno, advogado do ex-presidente, bem ao estilo dos que alimentam o universo paralelo ao arrepio da realidade concreta, em entrevista à Globo News, tentou passar a falsa versão de que o capitão ao invés de mentor da trama golpista na verdade seria vítima de equivocada conspiração de seus auxiliares militares e civis indiciados pela Polícia Federal.

Ou seja: em casa de golpista todos brigam e ninguém tem razão.

Leia sobre a extrema direita em disputa https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/minha-opiniao_25.html 

Humor de resistência: Céllus

 

Céllus

Leia sobre contradições do bolsonarismo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/02/palavra-de-walter-sorrentino.html 

Postei no X

O noticiário na TV é farto em declarações de agentes do mercado pedindo "mais medidas impopulares" para restabelecer a confiança dos investidores. E nenhuma declaração em defesa dos direitos e das necessidades da classe trabalhadora e do povo. 

Leia sobre o pacote de medidas econômicas do governo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/palavra-do-pcdob_29.html

Dólar em alta fradulenta

O Banco Central entregou a economia à especulação
O BC deveria ter entrado, feito leilão de swap, exigindo depósito à vista para operar dólar futuro. Essa estratégia já foi adotada
Luis Nassif/Jornal GGN    

Nos anos 90, em vários momentos, com o país praticamente sem reservas cambiais, o Banco Central segurou as ondas especulativas com o dólar. Na mesa de pôquer do mercado, o BC é o único jogador que sabe as cartas de cada um. Com pouquíssimos recursos – e com um operador admirável, Emílio Garofalo – conseguia segurar a horda de especuladores que assaltava o país.

Ontem e hoje, dispondo de todas as informações, e com 350 bilhões de dólares em reservas cambiais, o BC assistiu impassível o jogo previsível de especulação, que deixou o país no corner.

Ex-operador do mercado, professor de Economia, Manfred Back viu assim o movimento do dólar ontem, antes da fala de Fernando Haddad, e hoje, após a fala.

Constata ele que o pacote nada tem de extraordinário. O dado extraordinário é a ingenuidade da área econômica em tratar com o mercado.

“Bravata com juros e o mercado financeiro, só xingamento de arquibancada, de prático, o que fez para regular e combater a especulação? Nada! Pergunto: o Brasil tem autoridade monetária? Se tem onde está? Deixou os caras daqui soltos, armaram um corner via mercado futuro, jogaram os ingênuos contra a parede”. 

”A turma aqui vive na macro da banca de tcc”, continua ele, “menospreza a capacidade e poder do mercado financeiro. Ontem subiu juros e câmbio,e agora de manhã idem… onde vão explicar? Com os manuais?”

O mercado veio montando posição no futuro há quase dois meses, sem ser incomodado, parte do dinheiro de brasileiros no exterior, entrando via fundos pelos Anexos 4 e 5. Pior: tudo controlado pelo Banco Central

Ontem, às 13 horas, quando estava tudo calmo, o JP Morgan deu o apito de cachorro: vendam o Brasil! Mas o BC de Roberto Campos Neto e a área econômica ainda estão presos aos anos 90, período de ataques especulativos de efeito dominó – com o câmbio sendo influenciado pela saída de dólares. 

Agora, todo o movimento do câmbio se dá sem saída de dólares. O mercado financeiro destrói qualquer modelo e teoria, continua ele, planeja um ataque especulativo silencioso… E o BC de Campos Neto só fala em pix.

O BC deveria ter entrado, feito leilão de swap, exigindo depósito à vista para operar dólar futuro. Essa estratégia já foi adotada antes, quando havia autoridade monetária, obrigando os especuladores a zerar contratos e a ter prejuízos, reduzindo a volatilidade.

Mas nada foi feito. E a ignorância geral reduz tudo a um problema de comunicação, jogando o erro para cima do governo – não das jogadas de mercado. O erro do governo foi não existir autoridade monetária.

Leia sobre o pacote de medidas econômicas do governo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/palavra-do-pcdob_29.html

Sylvio: sem anisitia

Chega a ser patético o apelo de Bolsonaro pedindo anistia e pacificação do País. O que o medo da prisão não faz, depois de atentar contra o Estado de Direito? Anistia sem condenação e pacificação depois de várias tentativas de incendiar o Brasil. Nenhuma coisa, nem outra, mas julgamento pelo mal que tem feito.

Sylvio Belém 

Leia: Trama golpista maior do que a auto-censura da mídia https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/minha-opiniao_23.html

Enio Lins opina

Golpe tentado e derrotado: é hora de jair pagando a conta
Enio Lins     

“Tentativa de golpe” é termo incorreto se usado como tentativa de enfiar goela abaixo do povo brasileiro como se atenuante fosse. Mas, o falso Messias não apenas pensou uma quartelada, e sim tentou a abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A derradeira investida desse criminoso foi levada adiante no dia 8 de janeiro de 2023. Jair, ali, colocou seu bloco na rua, e foi derrotado – em primeiro lugar, dentro dos quartéis.

B DE BUNDA DE FORA

“Bolsonaro nu - Ninguém precisava da PF para saber que Bolsonaro é golpista. Mas as investigações são úteis porque o despem de vez dos trapos retóricos com os quais ele tentou se travestir de democrata” – assim o vetusto Estadão iniciou seu editorial de ontem. E arrochou: “O relatório final da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado que teria sido urdida no seio do governo de Jair Bolsonaro para aferrá-lo ao poder decerto não surpreendeu quem acompanhou minimamente a vida pública do ex-presidente. Desde quando saiu do Exército em desonra, passando por uma frívola carreira parlamentar – que, se prestou para alguma coisa, foi para enriquecê-lo, além de sua família – até chegar à Presidência da República, Bolsonaro jamais traiu seu espírito golpista. De mau militar e mau deputa do a mau presidente, foram quase 40 anos de exploração da insurreição e da infâmia como ativos políticos”. Texto incontestável, imprescindível, indiscutível.

CRIME CONTINUADO

Não é novidade serem a improbidade, a imoralidade e a imprestabilidade características pessoais de Jair Messias. Incúria, incompetência e indignidade igualmente compõem o perfil público desse cidadão desde, pelo menos, 1987, quando em suas primeiras entrevistas (literalmente bombásticas) se desnudava como militar indisciplinado, insubordinado e incompetente. Então envergando, indignamente, farda do Exército brasileiro, na condição de oficial da ativa, chegou a anunciar, pela revista Veja, suas intenções terroristas, inclusive desenhando um croqui de como colocaria bambas nos quartéis e na Adutora do Guandu. Preso, julgado e condenado (por unanimidade, em março de 1988) numa primeira instância militar; se amofinou, choramingou, apelou, desmentiu-se, e – antes de ser expulso – conseguiu ser descondenado pelo STM em junho do mesmo ano, num placar de 9x4 . Desonrado, deixou a farda levando suas ideias golpistas, corruptas e terroristas para o campo da política partidária. O velho e decrépito mito autoritário de hoje é o mesmo jovem e atrevido pelanco de ditador de ontem. Como diferença, apenas muitos milhões de votos a favor de suas ideias sebosas, e milhões de reais em imóveis, e joias, nos bolsos.

PERIGO E ESPERANÇA

Apesar de não surpreender ninguém, é chocante a coleção de provas arroladas contra o ex-capitão e seus áulicos no golpe de Estado frustrado em pleno andamento. Jair Messias sempre se supera em termos de covardia e delinquência. Mas existem coisas novas nesse processo em andamento. Não é novidade a inidoneidade do "mito", mas é um horror renovado relembrar que tamanha degenerescência moral contamina quase 50% do eleitorado nacional. A novidade boa – repleta de esperança – é constatar, finalmente, a existência de instituições que não se acovardam ao ouvir berros do tipo “Selva!”; e que a maioria sã das Forças Armadas brasileiras é capaz de barrar, em seu seio, as intentonas de uma minoria apodrecida. A esperança de um país sem golpes e quarteladas vai se tornando realidade. Mas, ninguém se iluda, esse velho câncer não foi extirpado totalmente.

Leia sobre uma face da trama golpista: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/uma-face-da-trama-golpista.html

29 novembro 2024

Palavra de poeta: Cora Coralina

Ofertas de Aninha

Cora Coralina    


Eu sou aquela mulher

a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.

 

Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.

 

Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futura dos erros e violências do presente.
.
Aprendi que mais vale lutar
Do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.

 

[Ilustração: Anastasiya Matveeva]

 

Leia sobre detalhes que importam https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/08/minha-opiniao-por-um-triz.html 

Superexploração na América do Norte

O trabalho destrutivo não assola só o Sul global
Na América do Norte, desde a década de 70, a produtividade aumentou 65%; e salários só 17%. Sem tempo livre para descanso e lazer, o burnout corroi corpos e mentes. E também a democracia, pois alimenta o ressentimento e implode as esperanças por outro futuro
David Moscrop, na Jacobin Brasil/Outras Palavras   

Em maio passado, uma pesquisa descobriu que quase 40% dos profissionais no Canadá estavam sofrendo de burnout crescente. Os dados da empresa de consultoria Robert Half descobriram que as principais causas citadas pelos trabalhadores foram carga de trabalho, má comunicação e suporte da gerência e um ambiente de trabalho tóxico. Consistente com dados dos Estados Unidos e de todo o mundo, a pesquisa canadense descobriu que a Geração Z e os millennials foram os mais afetados pelo burnout. Mas o fenômeno não é exclusivo deles. É uma crise ampla e profunda — e se estende para além do local de trabalho.

Existem várias causas de burnout, mas geralmente é fundamentalmente um problema de desequilíbrio e falta de controle da própria vida. Estar sob o controle de outro pode acabar com a autonomia e aumentar a exposição a condições e ambientes de trabalho excessivamente exigentes e irracionais. Tais condições incluem uma carga de trabalho desequilibrada e falta de tempo livre e descanso. Em suma, somos forçados a trabalhar muito duro, por muito tempo, com suporte e tempo livre limitados.

Só trabalho, sem diversão

Em nossa sociedade de mercado, o tempo gasto fora do trabalho é frequentemente infiltrado por preocupações relacionadas ao trabalho, perturbando o que deveria ser um tempo e espaço sagrados de descanso. Quando não estamos trabalhando, pensamos em trabalhar, nos preocupamos em trabalhar, verificamos e-mails ou somos solicitados a “fazer um esforço extra” e investir mais tempo. A amarra digital contribuiu consideravelmente para a confusão dos limites entre trabalho e descanso, tornando-nos constantemente disponíveis para as demandas de nossos chefes 24 horas por dia, 7 dias por semana, efetivamente transformando a vida doméstica em um mero trabalho extracurricular.

Tudo isso pressupõe que o custo de vida de uma pessoa permita algum tempo de folga. No Canadá, a crise de acessibilidade — particularmente na habitação — forçou milhões a se empenharem mais e trabalharem mais apenas para manter um teto sobre suas cabeças. Isso, por sua vez, restringe o já escasso tempo livre que alguém pode conseguir garantir. E embora as horas de trabalho em geral não sejam exatamente equivalentes à era Dickensiana, elas estão aumentando. A extensão exata é difícil de avaliar devido ao aumento de bicos temporários e atividades paralelas permitidas pelos desenvolvimentos em tecnologia. A promessa de que a tecnologia liberaria tempo para os trabalhadores ainda não se materializou; em vez disso, contribuiu para uma escalada na exploração.

Em uma pesquisa da Harris Poll em maio, trabalhadores canadenses ofereceram algumas sugestões para prevenir ou aliviar o esgotamento, com um tema comum sendo o controle pessoal e no local de trabalho. Um horário de trabalho flexível liderou a lista, seguido de perto pelo apoio ao tempo livre. Na medida em que o burnout é um problema de controle, transferir mais dele para os trabalhadores é essencial para lidar com a questão. Mais tempo livre também é uma escolha óbvia. Naturalmente, pagar mais aos trabalhadores também é importante — embora isso não resolva necessariamente o problema do excesso de trabalho.

Vivemos em uma cultura que espera e venera horas de trabalho irracionais, apesar de montes de dados que sugerem que trabalhar mais não o torna mais produtivo — e, de fato, muitas vezes o torna menos produtivo. Devemos ser cautelosos com o culto à produtividade, mas as narrativas pró-produtividade no local de trabalho estão frequentemente erradas em seus próprios termos, na medida em que pregam longas horas como a medida do bom trabalho.

Burnout para as massas trabalhadoras, pagamento para as classes proprietárias

Adicionando insulto à injúria nas narrativas pró-produtividade está a realidade de que, apesar de décadas de melhoria da produtividade nos locais de trabalho na América do Norte, o pagamento dos trabalhadores não refletiu esse crescimento. Entre o início da década de 1970 e o presente, a produtividade aumentou em quase 65%, enquanto os salários por hora tiveram um aumento de apenas 17,3%. Com a produtividade superando o pagamento em 3,7 vezes, pode-se questionar corretamente para onde foi esse excedente substancial na produção. A resposta, previsivelmente, está em seu desvio para acionistas e gerentes corporativos.

Nossas vidas fora do local de trabalho devem ser espaços onde podemos relaxar, reiniciar e nos conectar com as pessoas e coisas que nos dão significado. Excesso de trabalho, salários baixos, exaustão, estresse e ansiedade induzidos por nossas vidas profissionais minam esses espaços e conexões, pois arrastamos o pior de nossas vidas profissionais para nossas vidas pessoais. Então, nosso tempo livre se torna um espaço de raiva e ressentimento purulentos, o que alimenta ainda mais o esgotamento. É um ciclo vicioso que mina nossas vidas profissionais e não profissionais.

No tempo privado que temos, somos frequentemente forçados a confrontar um mundo que testa ainda mais os limites da nossa paciência e sanidade, e nossa capacidade de esperança. Encarar um rio sempre corrente de notícias horríveis em casa e no exterior compromete nossa capacidade de descansar e aproveitar o que há para aproveitar da vida fora do trabalho. A lógica clássica da pessoa boa e cívica exige alguém que esteja consciente e engajado com as notícias do dia — tanto melhor para ser informado, preparado para mobilizar e improvável de ser enganado pelos poderes constituídos. Ou assim diz a teoria.

O esgotamento enfraquece a democracia

Uma cidadania engajada pressupõe que as pessoas realmente tenham tempo para se manterem a par das notícias e questões políticas. Muitos de nós não temos. Para aqueles que têm, ler, dia após dia, sobre catástrofes climáticas, guerra, instabilidade geopolítica, políticos desequilibrados e qualquer pedaço do inferno que esteja no menu naquele dia é, em si, indutor de ansiedade e raiva. Além disso, em democracias liberais como o Canadá, que priorizam indivíduos como unidades econômicas de produção e consumo e os desprezam como sujeitos políticos ativos, a pessoa acaba se sentindo desamparada acima de tudo.

A maneira como construímos a democracia liberal é extremamente fraca em autogoverno e laços comunitários. Como argumentei antes, ela é tão fraca que talvez não tenha força para se manter de pé a longo prazo, especialmente quando as coisas ficam difíceis. As coisas estão difíceis agora, e só vão piorar.

Mesmo que alguém estivesse inclinado a ir além dessa impotência e se envolver na vida cívica ou política — a expandir os limites da democracia liberal e assumir um papel maior no autogoverno — com que tempo, energia ou recursos os muitos que são levados ao limite no trabalho e em casa estariam fazendo esse trabalho?

Resolver o burnout no Canadá e além — resolver o problema estruturalmente, não apenas substituí-lo por um tempo — começa com democracia e controle no local de trabalho. Os trabalhadores devem ter controle sobre seus horários, quer trabalhem no escritório ou em casa, e sobre os processos, expectativas e normas que moldam suas condições e ambiente de trabalho. Resolver os problemas impostos pelo burnout também requer tempo livre suficiente e forçado, boa remuneração e condições de trabalho seguras.

Combater o esgotamento significa transferir controle e poder aos trabalhadores. Também requer uma mudança mais ampla nas expectativas culturais sobre trabalho e produtividade. Os ganhos de produtividade devem beneficiar os trabalhadores, não apenas os proprietários. No entanto, também precisamos abandonar o culto moderno do taylorismo que desumaniza os trabalhadores e reconhecer que mais horas não equivalem necessariamente a um trabalho melhor — e muitas vezes sinalizam o oposto. Desmantelar os modelos de vigilância arraigados no capitalismo contemporâneo, impulsionados por tecnologias que monitoram e penalizam os trabalhadores por serem humanos, é crucial. Com essa agenda, os trabalhadores podem recuperar suas vidas e redefinir a natureza de seu trabalho.

David Moscrop é escritor e comentarista político. Ele apresenta o podcast Open to Debate e é o autor do livro Too Dumb For Democracy?

Leia sobre a degradação do trabalho no Brasil https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/08/degradacao-do-trabalho.html 

Humor de resistência: Céllus

 

Céllus

Postei no X

No governo Bolsonaro cerca de 6.000 militares ocuparam postos outrora sobre a responsabilidade de técnicos civis. Fazia parte das intenções golpistas do ex-presidente. Isto fica muito claro agora com as revelações feitas no inquérito da Polícia Federal. 

Leia sobre a extrema direita em disputa https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/minha-opiniao_25.html 

Uma face da trama golpista

Bolsonaro, os generais e a rataria
Marina Amaral, da ‘Pública’  

A estratégia de Jair Bolsonaro de descredibilizar o processo de votação eletrônica para permanecer no cargo, pedra fundamental do relatório da Polícia Federal (PF) nas mãos da Procuradoria-Geral (PGR) da República, foi acompanhada por todos nós em tempo real desde que ele assumiu o poder, em 2019, eleito pelo mesmo sistema que passou a denunciar. 

Assistimos também à entrada maciça de militares no governo, incluindo generais da ativa como Braga Netto, que passou para a reserva quando já era ministro da Casa Civil – cargo que não era ocupado por um militar desde a ditadura. Aliás, há 12 oficiais da ativa entre os 25 militares indiciados pela PF pelos crimes de abolição violenta do estado democrático, golpe e organização criminosa.

Mas, embora criticada por parte da imprensa, a chegada dos militares ao poder, com mais de 6 mil integrantes das Forças Armadas ocupando cargos civis em 2020, chegou a ser vista com simpatia no início do governo, com reportagens louvando os generais, principalmente os que serviram no Haiti, como parte de uma nova geração que seria muito diferente da dos golpistas de 1964. 

As graves violações de direitos humanos durante o comando brasileiro da missão da ONU viraram nota de rodapé. Poucos veículos noticiaram a atuação tida como criminosa por organizações de direitos humanos nas favelas de Porto Príncipe durante a missão, sobretudo enquanto comandada pelo futuro chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro, general Augusto Heleno.

Até o general Villas Bôas, que ainda no governo Temer tentou intervir na Justiça, proferindo ameaças diante da possibilidade de soltura de Lula, foi pintado como “moderado” ao se tornar assessor de Augusto Heleno no Gabinete de Segurança Institucional (GSI). E os militares do Planalto foram retratados como “vítimas” de uma “armadilha” da “ala ideológica” do governo Bolsonaro, reforçando o mito de que seriam técnicos e isentos.

Lembrando que os kids pretos – ou a “rataria”, como diz um dos seus, o general Mário Fernandes, preso com todas as digitais nos planos operacionais que levariam ao golpe –, já estavam infiltrados nas operações no Haiti de Augusto Heleno, que depois – de acordo com o relatório da PF – “atuou de forma destacada no planejamento e execução de medidas para desacreditar o processo eleitoral brasileiro e para subverter o regime democrático”.;

Da mesma maneira, a intervenção militar comandada por Braga Netto no governo Temer, com mais de 103 civis mortos, foi saudada pelos jornais com elogios ao general, agora indiciado como um dos líderes da trama golpista pelo relatório da PF

Deram crédito a ele mesmo depois da descoberta de que o delegado Rivaldo Barbosa, nomeado um dia antes como chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro por Braga Netto, seria um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. 

“ Apesar de as Forças Armadas continuarem a formar seus militares com histórias distorcidas e mentirosas sobre a ditadura, sem nunca colaborar para o esclarecimento dos crimes cometidos pelas forças repressivas, a imprensa cedeu espaço para que os novos generais falassem de “preconceito e desinformação” na análise do período militar na ditadura.”

E, quando Bolsonaro foi eleito, nenhum jornal disse que a extrema direita tinha chegado ao poder, apesar da devoção pública da família por um torturador reconhecido como tal pelo Estado, o coronel Brilhante Ustra. Sem falar na proximidade com a milícia. 

A radicalização da direita, que chegaria ao ápice na tentativa de golpe depois da derrota de Bolsonaro, agora minuciosamente comprovada no relatório da PF, foi falsamente apresentada como “polarização” – em uma falsa equivalência que dominaria a cobertura dos grandes veículos pelo menos até o golpismo explícito no 7 de setembro de 2022.

A imprensa tem que fazer o mea-culpa pelo modo negligente com que cobriu a ascensão da direita golpista ao poder desde o impeachment de Dilma Rousseff e pela falsa imagem das Forças Armadas que ajudou a propagar. 

Não é só pela força descontrolada das redes sociais que a democracia esteve por um triz desde então. 

PS. Para saber mais sobre a ascensão dos militares ao poder associada às operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) do Exército no Rio de Janeiro que resultaram na morte de inocentes, aconselho a leitura do livro Dano colateral, de Natalia Viana. 

Leia também sobre os militares no governo Bolsonaro https://lucianosiqueira.blogspot.com/2020/06/quem-controle-quem.html 

Sylvio: tributação menos injusta

As medidas anunciadas pelo ministro Haddad de alteração do imposto de renda têm enorme alcance social, pois ao isentar quem ganha até cinco mil reais, cerca de vinte milhões de pessoas, como compensação tributa quem tem renda superior a cinquenta mil reais, em torno de cem mil pessoas. Assim, os mais ricos vão contribuir um pouco para desafogar os mais pobres e a classe média. 

Sylvio Belém 

Leia sobre o pacote de medidas econômicas do governo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/palavra-do-pcdob_29.html

Palavra do PCdoB

PCdoB defende direitos sociais e denuncia pressões do mercado por corte de gastos
Cezar Xavier/www.pcdob.org.br

Em meio a debates intensos sobre a condução da política econômica no Brasil, a Comissão Política Nacional (CPN) do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) emitiu, neste sábado (23), uma nota após reunião em Brasília. O texto, intitulado Cortes defendidos pelo mercado financeiro trarão menos crescimento e mais desigualdade, denuncia as pressões do capital financeiro sobre o governo federal e defende uma agenda que priorize o investimento público e os direitos sociais como pilares para o desenvolvimento.

Apoio ao Governo e críticas ao “austericídio”

Na análise do PCdoB, o governo Lula tem sido exitoso na tarefa de reconstrução nacional, mas enfrenta pressões que desafiam o pacto civilizatório consagrado pela Constituição de 1988. O partido aponta para um contexto de chantagem do mercado financeiro, que busca impor cortes nos gastos públicos em detrimento das políticas sociais e do crescimento econômico.

A nota enfatiza que os fundamentos da economia brasileira não justificam as medidas de ajuste fiscal propagandeadas. “A dívida pública está sob controle, e a principal pressão sobre seu crescimento vem da alta taxa de juros, e não dos investimentos sociais ou dos programas do governo”, afirma o texto, elaborado com a colaboração do Grupo de Pesquisa sobre Desenvolvimento Nacional e Socialismo da Fundação Maurício Grabois.

A posição do partido evidencia um alerta para os rumos da política econômica e reforça a necessidade de priorizar a inclusão social e o desenvolvimento soberano diante das pressões neoliberais.

Leia a íntegra da nota: 

Corte de gastos: PCdoB defende investimentos em direitos e denuncia pressões do mercado 

A Comissão Política Nacional (CPN) do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), em reunião realizada neste sábado (23), em Brasília, fez um exame multilateral do governo Lula, considerado até agora exitoso na missão de reconstrução do país. Ao mesmo tempo, debateu o chamado pacote de corte de gastos, agenda imposta por grande pressão, e mesmo chantagem, do capital financeiro. Como resultado, aprovou o documento Cortes defendidos pelo mercado financeiro trarão menos crescimento e mais desigualdade, texto originalmente elaborado pelo Grupo de Pesquisa sobre Desenvolvimento Nacional e Socialismo da Fundação Maurício Grabois.  

Cortes defendidos pelo mercado financeiro trarão menos crescimento e mais desigualdade*

O Ministério da Fazenda tem indicado que está prestes a anunciar um conjunto de medidas para conter o crescimento das despesas públicas. Consideramos que qualquer medida deve, em primeiro lugar, se alicerçar na realidade dos fatos sobre a situação econômica do país e das contas públicas em particular e, em segundo lugar, ter como horizonte o desenvolvimento nacional soberano com enfrentamento às desigualdades sociais.

A situação econômica do país não é a que o mercado financeiro propagandeia por meio da grande imprensa privada, na busca de impor seu programa ao país, que, entre outras dimensões, implica subtrair a parcela do orçamento destinada à maioria do povo. Portanto, essa propaganda não deve ser a referência para tomada de decisões governamentais que podem comprometer o pacto civilizatório firmado na Constituição de 1988. Deve-se, isto sim, refutar as principais mentiras alardeadas pela oligarquia financeira. Primeiro, a dívida pública não está descontrolada. A dívida líquida do setor público, medida que capta mais precisamente a situação fiscal, está em patamar controlado, de 62,39% do PIB, e sua trajetória recente é de queda no ritmo de crescimento: de janeiro a setembro de 2023 a dívida c resceu 3,95 pontos percentuais (p.p.) do PIB, mas de janeiro a setembro de 2024 cresceu 2,27 p.p.. Ou seja, o governo está conseguindo controlar o crescimento da dívida.

Segundo, a despesa do governo com programas sociais e investimentos não é o fator determinante para o crescimento da dívida. O principal responsável pelo crescimento da dívida é a taxa de juros estabelecida pelo Banco Central: em 2024, o resultado primário (receitas menos despesas do governo) foi responsável pelo aumento de 0,8 p.p. da dívida, enquanto os juros nominais aumentaram a dívida em 5,7 p.p., isto é, sete vezes mais. Além disso, uma redução de 1 p.p. na taxa selic reduz a dívida em 0,48 p.p..

Terceiro, o Brasil não corre risco de insolvência que justifique a urgência de cortes. A dívida pública brasileira é quase integralmente detida por brasileiros, diferentemente da maioria dos outros países subdesenvolvidos. Isso torna o Brasil sem nenhum risco de insolvência.

Quarto, é igualmente falacioso o argumento de que os juros não caem por conta da política fiscal do governo e que somente o corte de direitos constitucionais, que reduzam estruturalmente a despesa pública, poderá gerar juros mais baixos. Na verdade, são nas características do sistema financeiro brasileiro que se encontram as razões para os juros elevados: o comprometimento do Banco Central com a rentabilidade do mercado financeiro; o oligopólio bancário privado que consegue se proteger cobrando os maiores spreads do mundo; a baixa oferta de crédito, das menores entre os países subdesenvolvidos, que dificulta o funcionamento da política monetária; a especulação no mercado financeiro que eleva os juros, como até Campos Neto foi obrigado a reconhecer; e um dos mercados de câmbio mais desregulados do mundo, favorecendo a especulação contra nossa mo eda e prejudicando os trabalhadores ao gerar pressões inflacionárias. Ou seja, é na supremacia dos interesses rentistas e antinacionais sobre a economia brasileira que residem os maiores obstáculos a serem superados para destravar o desenvolvimento do país, não nos investimentos sociais redutores de desigualdade, não nos imprescindíveis investimentos públicos.

Essas e outras evidências tornam nítido que a propaganda do mercado financeiro sobre um suposto descontrole das contas públicas no Brasil é inteiramente falsa. A verdadeira motivação dessa campanha é a defesa do interesse de empresas financeiras e de milionários que se enriquecem sugando a riqueza do país e atravancando o desenvolvimento nacional. Acatar esse falseamento da realidade como verdade dificulta a abertura de caminhos para a reconstrução nacional.

Sob as máscaras do neoliberalismo “austericida” argumentam também que o governo deve reduzir seus gastos e focar em medidas que elevem a produtividade da economia brasileira, porque isso sim geraria crescimento a longo prazo. Nesse ponto a desfaçatez é imensa. Porque ignoram que o governo atual, ao contrário dos governos neoliberais anteriores por eles defendidos, executa medidas para alavancar a produtividade da economia brasileira, a nova política industrial e tecnológica e o PAC.

Ignoram igualmente que o maior obstáculo ao desempenho dessas políticas é exatamente os altos juros injustificáveis praticados pelo Banco Central submetido à oligarquia financeira. Ademais, ignoram que somente haverá crescimento da produtividade se as empresas investirem em novos maquinários e inovarem, o que somente ocorre se houver expectativa de crescimento econômico, que por sua vez, novamente, é dificultado pelos juros elevados e seria ainda mais prejudicado com o ajuste fiscal profundo defendido. Por fim, a diminuição dos gastos sociais, como defendido pelos neoliberais, atuará diretamente contra o crescimento da produtividade da economia, uma vez que deixará amplas parcelas do povo brasileiro com menos condições de acessarem níveis de qualificação profissional mais elevados, condenando-os – e com eles a economia brasileira – a postos de tr abalho de baixa qualificação, mal remunerados e jornadas de trabalhos extenuantes, como a 6×1.

A agenda do mercado financeiro é indefensável a partir da ótica da superação da iníqua desigualdade social existente no país e da subordinação nacional imposta pelo imperialismo e a financeirização capitalista global. Seus diagnósticos e recomendações são mera expressão dos interesses de setores poderosos das classes dominantes. A defendida redução do gasto público é a demonstração do real sentido da institucionalização dos interesses do mercado financeiro realizada pelos governos pós-golpe de 2016. O pacto social constitucional deve ser reafirmado como horizonte civilizatório do país, portanto deve ser protegido. O que deve recuar é o domínio do mercado financeiro sobre o Estado brasileiro.

A agenda econômica necessária para transformar as condições de vida do povo brasileiro tem outra direção. Em termos imediatos é preciso persistir na revisão e diminuição dos subsídios injustificáveis concedidos às empresas, como a desoneração da folha de pagamentos. Atualmente são cerca de 500 bilhões em subsídios e renúncias fiscais que precisam ser revistos criteriosamente.

Estruturalmente, é preciso abrir caminho para retomar o controle das alavancas da economia, especialmente por meio das seguintes medidas: elevar a meta de inflação; alçar o pleno emprego a objetivo prioritário do Banco Central, ao lado do controle da inflação, e retomar a soberania popular sobre a política monetária, por meio da revisão da autonomia do Banco Central; reforçar o papel dos bancos públicos na ampliação do crédito com juros mais baixos; priorizar os investimentos da Petrobras e não o pagamento de dividendos; e ampliar a tributação da renda e do patrimônio dos muito ricos.

Também é preciso colocar no horizonte a revisão do próprio “arcabouço fiscal” aprovado em 2023. Não há razões, além da chantagem do mercado financeiro, para não se flexibilizar suas regras, corrigindo o excesso de rigidez imposta ao Poder Executivo e ao povo brasileiro. E, para ampliar a qualidade do gasto público, priorizando projetos estruturantes, é preciso devolver ao Executivo a primazia da execução do orçamento, que foi comprometida pelo avanço indevido do Congresso, hoje no controle de praticamente um quarto das despesas discricionárias, por meio de emendas parlamentares, revelando baixíssima visão estratégica do gasto público.

O Brasil precisa superar o aprofundamento das desigualdades econômicas, sociais e regionais que colocam em risco a Democracia e a consolidação da nação. Para isso é imprescindível a ampliação e não a redução da capacidade de investimento do Estado, tanto na modernização da estrutura produtiva quanto nos gastos sociais.

Comissão Política Nacional (CPN) do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)

Brasília, 23 de novembro de 2024 

*Documento originalmente elaborado pelo Grupo de Pesquisa sobre Desenvolvimento Nacional e Socialismo da Fundação Maurício Grabois.

Leia: "Mergulhar fundo para avançar na superfície" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/meu-artigo-no-portal-da-fundacao.html 

Enio Lins opina

Alternativas bem-vindas num espaço perigosamente monopolizador
Enio Lins 

Dentre as notícias importantes engolidas por outras grandes manchetes nas últimas semanas (desde os destaques do G20, até as provas das tentativas de golpes bolsonaristas), um fato vital para a economia e soberania brasileira passou praticamente despercebido: o surgimento de uma alternativa viável ao temerário monopólio da Starlink na esfera dos satélites de baixa altitude.

INDICADO

Resta relembrar ser essa demanda uma questão própria do capitalismo, nada tendo a ver com o matiz puramente ideológico tão em alta. Afinal, a busca pela concorrência comercial é algo típico do modo capitalista de vida, pois o monopolismo comercial, pelas teses liberais, é um pecado capital imperdoável. Além dessa questão comercial, considerada um direito do consumidor, existem as temáticas da segurança & soberania nacional – tão caras aos patriotas de plantão. Eis a questão: precisamos de mais de um link para as estrelas (e/ou para o solo, no caso).

CONTRAINDICADO

Além de ser recomendável, dentro do capitalismo vigente, ter-se mais de uma opção comercial para qualquer produto, é altamente desaconselhável ficar na mão de um fornecedor instável e inconfiável, de personalidade centralizadora e autoritária, de confessados interesses políticos, e de notória prática antiética. Falamos do esfuziante multibilionário Elon do X, proprietário da pretensa monopolista Starlink, empresa hoje única fornecedora de serviços essenciais de monitoramento via satélite para áreas estratégicas brasileiras. Quando o STF triscou, muito de levinho, nos contratos da Starlink no Brasil, foi um deus nos acuda. Ali tem coisa...

PERIGO GRANDE

Apois a tal Starlink é a única fornecedora de serviços essenciais da tecnologia de cobertura por satélites de baixa altitude para o Brasil. A empresa de Elon do X controla detalhadamente tudo na região amazônica, região onde a Starlink entrega a quem possa pagar desde o simples acesso às redes de telefonia digital até informações privilegiadas sobre localização de jazidas minerais, pistas de pouso... entenderam, né? E controla também o georreferenciamento náutico para a navegação nas costas brasileiras de forma que (podemos supor), além de uma jangada a usar um mísero GPS, nossa Marinha de Guerra possa estar na algibeira de um político estadunidense. Como interrogaria Galvão Bueno: “Pode isso, Arnaldo?”

LUZ NO TÚNEL

Há uma semana, no dia 19, o Ministério das Comunicações do Brasil assinou um magote de acordos com a empresa chinesa SpaceSail e com a Administração Nacional de Dados da China. A BBC informou que “a SpaceSail está desenvolvendo um serviço de internet de alta velocidade por meio de um sistema de satélites de órbita baixa da Terra (LEO, por sua sigla em inglês). Já a Administração Nacional de Dados da China apoia iniciativas de cidades inteligentes e desenvolve a infraestrutura digital”. Um enorme alívio, pois, como até a pouca leitura fundamentalista (à direita, ao centro, e à esquerda) pode entender, os interesses estadunidenses e chineses terão de se preocupar com a concorrência, saindo cada qual da zona de conforto monopolista. Mas, e os segredos no geomapeamento? Não existem para as grandes potências.

PERSPECTIVAS

Informa a BBC Brasil: “A SpaceSail é uma empresa privada chinesa sediada em Xangai e atua no mercado de internet banda larga provido por satélites de órbita baixa. Atualmente, a companhia conta com 18 satélites, mas seus planos incluem o lançamento de até 15 mil até 2030. A título de comparação, estima-se que a Starlink tenha 6 mil”. Ótimas perspectivas, gente.

Leia: "Mergulhar fundo para avançar na superfície" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/meu-artigo-no-portal-da-fundacao.html

Palavra de poeta: Luiz Cernuda

Contigo
Luiz Cernuda 

Minha terra?
Minha terra é você.
Minha gente? Minha gente é você.
O desterro e a morte
para mim estão onde você não está.
E a minha vida?
Diga-me, minha vida,
o que é, se não é você?

[Ilustração: Gustav Klimt]

Leia também um poema de José Saramago https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/palavra-de-poeta-jose-saramago.html

28 novembro 2024

Minha opinião

Percepção turva e decadente 
Luciano Siqueira   

Noticia-se que um em cada cinco adultos dos EUA se informa através de influenciadores de mídia digital, de largo predomínio conservador.

Um fator considerado relevante na recente campanha eleitoral pela presidência da República, que elegeu Donald Trump.

Isto representa 21% dos adultos, segundo pesquisa assinada pelo Pew Research Center.

Adultos na faixa entre 18 a 29 anos correspondem a 37% dos que se informam desse modo. 

Um elemento relevante na fomentação do consenso conservador na sociedade estadunidense, hoje com cada vez mais evidentes traços de decadência civilizatória. 

Leia mais sobre as eleições e a decadência norte-americana https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/o-drama-norte-americano.html

Humor de resistência: Aroeira

 

Aroeira

Leia sobre a luta antifascista, pela paz e o progresso https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/palavra-de-luciana.html

Humor de resistência: Miguel Paiva

 

Miguel Paiva

Ronald Freitas opina

Alguns desafios políticos da atual conjuntura
Um Plano de Reformas Estruturantes para o país como a política, a econômica, a social, a eleitoral e a da segurança pública.
Ronald Freitas*/Portal Grabois www.grabois.org.br

Vivemos dias de intensa movimentação política em nosso país. O resultado das eleições municipais recém findas, a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA e o andamento de um reacionário projeto de anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, infundiram ânimo na direita e na extrema-direita, que passaram a considerar que a situação política do país lhes era muito favorável a um retorno à presidência em 2026. Enquanto isso, os setores progressistas e de esquerda também foram impactados pelos parcos resultados colhidos nas eleições municipais, pela vitória de Trump nos EUA e pela posição de fragilidade no Congresso Nacional para enfrentar as ameaças de aprovação da lei de anistia aos golpista. E ficavam temerosos diante da possibilidade da direita ganhar as elei& ccedil;ões gerais de 2026.

Eis que, no dia 13 de novembro último, um até então anônimo cidadão chamado Francisco Wanderley Luiz, imbuído de ideias ultradireitistas, as quais lhe levaram a conclusão, de que o STF é o responsável pela perseguição política ao campo da direita brasileira e principal responsável pela não eleição de Bolsonaro em 2022, comete um atentado terrorista, suicida, contra o Supremo Tribunal Federal, explodindo uma bomba, junto ao próprio corpo, na praça dos Três Poderes, em Brasília, bem próximo à sede do Supremo. Na sequência desse fato, em 19 de novembro, a Polícia Federal envia ao Supremo inquérito policial, onde indicia como responsáveis por tramar, em fins de 2022 e início de 2023, um golpe de Estado contra o regime democrático atualmente vigente no país. Nada menos do que 37 pessoas fo ram indiciadas, sendo que entre elas se encontram: Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, ex-ministros militares, como os generais Braga Netto e Augusto Heleno, o almirante Almir Garnier Santos etc., sendo que dos 37 indiciados, 25 são militares da ativa e da reserva, todos oficiais de alta patente, na sua maioria oficiais superiores, tendo como exceção o indiciamento de um sub-tenente do exército, Giancarlo Gomes Rodrigues.

Esses eventos, a explosão da bomba na praça dos Três Poderes e a denúncia proferida contra acusados de tramar um golpe de Estado contra a democracia no final de 2022, e que teve nos atos terroristas de 8 de janeiro de 2023 seu ponto máximo, provocam uma reviravolta nas posições e expectativas políticas das forças partidárias e sociais atuantes, criando entre as forças que compõem o campo progressista e democrático uma sensação de distensionamento das ameaças que antes sentiam, que foram referidas acima, e mesmo em certos círculos da esquerda uma certa euforia, diante da perspectiva de se passar a viver uma conjuntura política de declínio da direita e da extrema-direita.

Entretanto, se é fato que o ambiente político se tornou mais favorável para as forças democráticas, não devemos subestimar a capacidade de atuação política e apoio social que o campo de direita, em suas várias vertentes, continua tendo.

Ao mesmo tempo em que atuamos no quotidiano da política e buscamos nos fortalecer nos momentos de conjuntura mais favorável, necessitamos não perder de vista como os elementos estruturantes da sociedade, nos terrenos político, econômico, militar, social, cultural e das relações internacionais se desenvolvem, e moldam, conscientemente ou não, o desenrolar da cena política na superfície.     

Vendo por esse prisma, constata-se que a cena política nacional e internacional aponta para um agravamento das tensões entre classes, povos e nações, emolduradas pela disputa entre EUA e China. Os EUA em decadência e defendendo, com unhas e dentes, seu status de potência hegemônica, e a China, uma potência em ascensão, que busca reordenar as relações internacionais de forma mais equânime e mais respeitosa com a soberania das outras nações, mas em última instância tendo como foco central seu fortalecimento. Nessa disputa, não podemos deixar de estar atentos a ampliação de Guerras que se desenrolam, sendo a da Rússia com a Ucrânia, e a de Israel contra os Palestinos e Libaneses, os pontos mais visíveis dessas ameaças. Os tambores de Guerra rufam em nossos horizontes e projetam uma situação de instabilidade polí tico-social, que incidirá fortemente sobre nossa situação interna.

Assim, necessitamos orientar nossa atuação política tendo em vista dois planos que se inter-relacionam, mas têm suas particularidades.

No plano da ação imediata, devemos nos concentrar em garantir que o resultado das eleições gerais de 2026 propiciem a continuidade do atual processo de reconstrução nacional, que o governo Lula tenta implementar, e que, dessa maneira, o país não volte a ser governado pelas forças do atraso e da reação materializadas na direita e na extrema-direita. Sendo que para isso acontecer, além de garantir a vitória de um candidato de nosso campo à presidência, seja Lula ou outro nome por ele apoiado, é essencial elegermos parlamentares para a Câmara Federal e para o Senado, que proporcionem uma base de sustentação política ao futuro governo.

Esse é o desafio que a cena política imediata coloca na nossa frente e nos obriga a elaborar e implementar um plano de ação bianual onde possamos barrar a volta da direita e extrema-direita, bolsonarista ou não, ao poder em 2026. Essa é uma questão crucial, e que deve merecer atenção máxima da direção de todo o campo progressista e democrático da sociedade, e em particular dos comunistas.

Porém, numa perspectiva mais geral, no terreno da estratégia, diante da onda conservadora e reacionária que predomina hoje no mundo e no Brasil, fortalecida com a eleição de Trump, está posto para as forças democráticas e progressistas do país o desafio de desvendar os fundamentos teóricos e práticos desse período reacionário, que já perdura por mais de uma década, e a partir de uma análise profunda dessa realidade que, a meu juízo, tem na disfuncionalidade do Estado sua causa principal, passar a pesquisar, discutir e elaborar um conjunto de propostas de Reformas Estruturantes do Brasil atual, onde seja possível, com amplo apoio da sociedade, fazer avançar um Projeto Nacional de Desenvolvimento, que tire o país da instabilidade e estagnação em que vive há mais de uma década.

Nesse sentido, considero que devemos procurar elaborar e propagandear um Plano de Reformas Políticas Estruturantes que abranjam:

1 – Reforma política, onde se proponha mudanças na estrutura do Estado, entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Proceder uma análise da estrutura de cada um desses poderes, afim de detectar eventuais disfuncionalidades, e propor a superação das mesmas. Bem como a avaliação e reajuste na atuação de vários centros de poder, periféricos aos Três Poderes, mas que, com o tempo, tornaram-se autônomos e independentes do controle do Executivo, tais como as FFAA, MPF, PF etc.

2 – Reforma econômica, onde se rompa com os pressupostos centrais do neoliberalismo econômico que hoje norteiam nossa economia como: política fiscal, política cambial etc. E se adote um agressivo Plano de Reindustrialização da economia nacional, tendo como foco a auto suficiência energética e tecnológica, em todos os ramos de atividade.  

3 – Reformas sociais, onde além de se retomar o papel do Estado em promover o bem-estar da população mediante políticas públicas que sejam distribuidoras de riqueza e renda, tenha-se na mobilização e engajamento da população na elaboração, execução e controle dessas políticas um eixo destacado.

4 – Reforma no aparato de segurança do Estado, onde se discuta o papel e se proponha soluções para:

*Estrutura e papel das Forças Armadas. (art.142 e 144 da CF).

*Retirar das Polícias militares o papel, que lhe é constitucionalmente atribuído, de Forças Auxiliares do Exército.

*Criar um órgão de coordenação e centralização das várias polícias civis e militares dos Estados federados e do DF, com o objetivo de maximizar os recursos disponíveis no combate ao crime, de qualquer natureza.

5 – Reforma eleitoral e Partidária, onde sejam estabelecidas normas que garantam que as eleições se deem com paridade de armas entre os vários partidos que disputam as eleições. (Está em curso um processo de cerceamento da existência de partidos de natureza programática e ideológica, em detrimento dos partidos fisiológicos.)

6 – Elaborar um Plano Plurianual de Desenvolvimento do País, que incorporando o desenvolvimento científico-tecnológico dos tempos atuais, tenha como guia político orientador, a soberania e a autonomia nacional, em todos os campos da vida social da Nação, tal qual se apresenta hoje: na economia; na estrutura política; na estrutura de Defesa; na estrutura de Segurança Pública; nas políticas de erradicação das desigualdades sociais que nos afligem, mormente o desemprego e a fome; na estruturação, enfim, de um Estado de Direito Democrático Popular, que seja capaz de desenvolver um verdadeiro Projeto Nacional de Desenvolvimento. Projeto esse que seja uma alavanca na busca da construção de um país mais prospero, socialmente mais justo, capaz de defender seus direitos e riquezas, frente ao mundo turbulento em que vivemos e onde os fruto s da riqueza produzida pelo trabalho de todos, seja equanimemente distribuídos. Ou seja, uma Democracia Popular que abra o caminho para a construção do Socialismo em nosso país.

*Ronald Freitas é membro do Comitê Central do PCdoB e membro do Grupo de Pesquisa sobre Estado e Instituições da FMG

Leia sobre mercado financeiro e fascismo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2022/12/pressao-midiatica-rentista.html