A fundação
de uma República
Resenha
Roberto
y Plá Trevas*
“A Fundação de uma República” é um filme realizado em 2009, uma grande superprodução chinesa, dirigida pelos cineastas Huang Jianxin e Han Sanping, com roteiro de Chen Baoguang e Wang Xingdong, direção de arte de Jing Zhao, música de Nan Shu e Diretor de Fotografia de Xiaoshi Zhao, lançado na República Popular da China em 17/09/2009 tendo obtido enorme sucesso no país e no exterior. Trata-se de um filme histórico, que relata a trajetória da guarra civil chinesa entre o Partido Comunista Chinês liderado por Mao Zedong e as forças nacionalistas do Kuomitang dirigida pelo generalíssimo Chiang Kai Shek, tendo início em 1945 e terminando em 01 de outubro de 1949, com a fundação da República Popular da China, em Beijing, na Praça da Paz Celestial, às 15 horas do primeiro dia de outubro de 1949.
Enredo – O filme tem como sua centralidade o enfrentamento das
forças do Exército Popular de libertação
liderado por Mao Zedong no período de guerra com as forças nacionalistas, a
partir de 1945 até 1949, salientando-se diversas tentativas entre as partes de
chegar a um acordo no conflito, inclusive a partir de uma visita de Mao Zedong
a Chiang Kai Shek, a cidade de Chongqing,
onde ambos líderes assinam um acordo de não agressão, logo em seguida rompido
por Chiang Kai Shek.
É de suma importância destacar que esse filme
faz parte da 6ª geração de cineastas chineses, que se inicia em 1990, cujo cineastas estão mais ligados a temas
contemporâneos, através de realização de produções independentes, principalmente a filmes documentais,
desenvolvidos em uma ótica de uma indústria de cinema baseada em uma tentativa
de atingir também o mercado internacional, considerando o mercado comercial e
de entretenimento, salientando-se que os cineastas dessas gerações foram
advindos da Academia de Cinema de Pequim, fundada em 1952. A crítica Cecília
Mello aponta como marco de surgimento da 6ª Geração, o ano de 1990, após os acontecimentos da Praça da Paz
Celestial, em 1989.
Elenco E ROTEIRO – Esse filme reuniu
cerca de 170 atores, que inclusive abriram mão de seus cachês, podemos salientar, fato inédito na história
do cinema chinês e os principais atores são: Tang Guoqiang, que interpreta Mao
Zedong, Zhang guoli no papel do Presidente de Kuomitang, Chiang Kai Sheik,
Liu Zin, no personagem de Zhou En Lai e
inclusive o renomado ator Jackie Chan, que interpreta o jornalista que
entrevistou Li Jishen, presidente do Comitê Revolucionário do Kuomitang. É
importante ressaltar que cerca de 200 milhões de espectadores assistiram ao
filme, cuja receita ultrapassou 400
milhões de yuans.
O filme é um documentário histórico baseado
em um período da longa guerra civil chinesa, que durou de 1927 a 1949. Portanto
com o final da segunda guerra mundial, o futuro da China continuava
indeterminado, e em 28 de agosto de 1945, com a finalidade de tratar a paz, Mao
Zedong, Presidente do Partido Comunista da China, viaja para Chongqing para se
encontrar com Chiang Kai – Shek, Presidente da República da China e do
Kuamitang, fundada em 1911 pelo Dr. Sun
Yat Sen.
Em outubro de 1945 foi assinado um Acordo
entre as partes, porém o Kuomitang rompe,
dando então continuidade a guerra civil.
As cenas de batalha e de deslocamento das
forças envolvidas são retratadas em preto e branco, mostrando o sentimento de
dor, sofrimento de uma guerra civil envolvendo irmãos de sangue, inclusive mostra a diferença brutal entre as
forças nacionalistas, bem equipadas e
apoiadas materialmente pelos Estados Unidos da América, enquanto que as forças
de Mao Zedong encontravam dificuldades em termos materiais, logísticos, contando
entretanto com a grande adesão de combatentes, principalmente dos camponeses. A
partir de julho de 1947, o Exército Popular de Libertação mudou de tática e
estratégia de defesa, atacando as regiões dominadas pelo Kuomitang, iniciando o
processo de libertação de toda a China.
Os diretores, que são da 6ª geração de
cineastas chineses, utilizam técnicas das gerações anteriores, principalmente
nas cenas de preto e branco. Os diretores realçam a figura humana e solidária de Mao Zedong,
retratando na cena de um ataque aéreo ao acampamento de Mao, quando um
cozinheiro que teve a honra de conhecer e servir ao “Grande Timoneiro”, morre nesse
ataque aéreo e Mao Zedong comparece ao enterro dele e simbolicamente coloca no
túmulo uma carteira de cigarro oferecida por mao
a esse lutador e batalhador do Exército
de Libertação Popular, cena de um forte simbolismo. Enquanto ocorre a
guerra civil, é mostrado também a desagregação das forças e partidos
democráticos que compunham a Assembleia do governo do kuomitang, inclusive Chiang Kai – Shek colocou em prisão domiciliar em Shanghai, Zhang Lan,
Presidente da Liga Democrática da China, que posteriormente participou do
governo de Mao Zedong, como
Vice-Presidente do Governo Popular Central, após a fundação da República
Popular da China, em 01 de outubro de 1949.
Cronologicamente, ano por ano, são mostrados
os avanços, batalhas e enfrentamento dos exércitos, e pouco a pouco as forças
do Exército de Libertação Popular vai avançando e ocupando as principais
cidades chinesas até ocupar Pequim, em 1949.
A figura de Zhou En Lai, braço direito de Mao
Zedong é bastante retratada, inclusive a
mulher de Zhou En Lai recebe a incumbência de manter entendimentos e convidar a
Madame Sun Yat Sen, figura de suma
importância dentro da ala moderada do Kuomitang, a ir a Pequim e participar
junto com Mao Zedong da Assembleia Consultiva Popular, que após a fundação da
República Popular da China, os 576 delegados da CCPPCC, elege Mao Zedong,
Presidente da República Popular da China.
É importante ressaltar que não se trata de um
filme doutrinário, mas sim um documentário onde ressalta o lado do líder Mao
Zedong, como além de um grande líder e estrategista, como um grande negociador
e conciliador. Haja vista, a participação de mais de 10 partidos na composição
do primeiro governo, após a proclamação
da fundação da República Popular da China,
às 15 horas na Praça da Paz Celestial em 01 de outubro de 1949.
Concluindo podemos afirmar que o filme “A
Fundação de uma República” retrata com isenção ideológica o período de 5
anos, de 1945 a 1949, que culminou num evento de magnitude excepcional,
qual seja, a fundação de uma nova nação milenar, o famoso “Império do Meio” de
glória, de sucesso e insucessos (século da humilhação – 1849-1949), exemplo de
luta, tenacidade e resiliência de um
povo.
O final do filme, onde é utilizado um
documentário real, protagonizado pelo próprio Presidente Mao Zedong, na Praça
da Paz Celestial, olhando para o futuro da nação, tendo como fundo musical, a
voz de uma criança cantando, simbolizando o nascimento de uma nação.
REFERÊNCIAS
BATISTA, Mauro. Cinema mundial contemporâneo.
São Paulo: Papirus, 2008.
GLACHANT, Isabelle. O cinema chinês.
(1978-2007).
IBRACHINA. A arte do cinema chinês:
tradição e modernidade. 05 abril 2019.
MELLO, Cecília. Gerações do cinema chinês. Instituto CPFL, 30 setembro 2021.
*Engenheiro, ex-Coordenador de Relações Internacionais da Prefeitura do Recife
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