02 novembro 2024

Cinema chinês

A fundação de uma República
Resenha
Roberto y Plá Trevas* 

“A Fundação de uma República” é um filme realizado em 2009,  uma grande superprodução chinesa, dirigida pelos cineastas Huang Jianxin e Han Sanping, com roteiro de Chen Baoguang e Wang Xingdong, direção de arte de Jing Zhao, música de Nan Shu e Diretor de Fotografia de Xiaoshi Zhao, lançado na República Popular da China em 17/09/2009 tendo obtido enorme sucesso no país e no exterior. Trata-se de um filme histórico, que relata a trajetória da guarra civil chinesa entre o Partido Comunista Chinês liderado por Mao Zedong e as forças nacionalistas do Kuomitang dirigida pelo generalíssimo Chiang Kai Shek, tendo início em 1945 e terminando em 01 de outubro de 1949, com a fundação da República Popular da China, em Beijing, na Praça da Paz Celestial, às 15 horas do primeiro dia de outubro de 1949.

Enredo – O filme tem  como sua centralidade o enfrentamento das forças do Exército Popular de libertação liderado por Mao Zedong no período de guerra com as forças nacionalistas, a partir de 1945 até 1949, salientando-se diversas tentativas entre as partes de chegar a um acordo no conflito, inclusive a partir de uma visita de Mao Zedong a Chiang Kai Shek, a cidade de Chongqing,  onde ambos líderes assinam um acordo de não agressão, logo em seguida rompido por Chiang Kai Shek.

É de suma importância destacar que esse filme faz parte da 6ª geração de cineastas chineses, que se inicia em 1990,  cujo cineastas estão mais ligados a temas contemporâneos, através de realização de produções independentes,  principalmente a filmes documentais, desenvolvidos em uma ótica de uma indústria de cinema baseada em uma tentativa de atingir também o mercado internacional, considerando o mercado comercial e de entretenimento, salientando-se que os cineastas dessas gerações foram advindos da Academia de Cinema de Pequim, fundada em 1952. A crítica Cecília Mello aponta como marco de surgimento da 6ª Geração, o ano de 1990,  após os acontecimentos da Praça da Paz Celestial, em 1989.

Elenco E ROTEIRO – Esse filme reuniu cerca de 170 atores, que inclusive abriram mão de seus cachês,  podemos salientar, fato inédito na história do cinema chinês e os principais atores são: Tang Guoqiang, que interpreta Mao Zedong,   Zhang guoli no papel do Presidente de Kuomitang, Chiang Kai Sheik, Liu Zin, no personagem  de Zhou En Lai e inclusive o renomado ator Jackie Chan, que interpreta o jornalista que entrevistou Li Jishen, presidente do Comitê Revolucionário do Kuomitang. É importante ressaltar que cerca de 200 milhões de espectadores assistiram ao filme,  cuja receita ultrapassou 400 milhões de yuans.

O filme é um documentário histórico baseado em um período da longa guerra civil chinesa, que durou de 1927 a 1949. Portanto com o final da segunda guerra mundial, o futuro da China continuava indeterminado, e em 28 de agosto de 1945, com a finalidade de tratar a paz, Mao Zedong, Presidente do Partido Comunista da China, viaja para Chongqing para se encontrar com Chiang Kai – Shek, Presidente da República da China e do Kuamitang, fundada em  1911 pelo Dr. Sun Yat Sen.

Em outubro de 1945 foi assinado um Acordo entre as partes,  porém o Kuomitang rompe, dando então continuidade a guerra civil.

As cenas de batalha e de deslocamento das forças envolvidas são retratadas em preto e branco, mostrando o sentimento de dor, sofrimento de uma guerra civil envolvendo irmãos de sangue,  inclusive mostra a diferença brutal entre as forças nacionalistas, bem  equipadas e apoiadas materialmente pelos Estados Unidos da América, enquanto que as forças de Mao Zedong encontravam dificuldades em termos materiais, logísticos, contando entretanto com a grande adesão de combatentes, principalmente dos camponeses. A partir de julho de 1947, o Exército Popular de Libertação mudou de tática e estratégia de defesa, atacando as regiões dominadas pelo Kuomitang, iniciando o processo de libertação de toda a China.

Os diretores, que são da 6ª geração de cineastas chineses, utilizam técnicas das gerações anteriores, principalmente nas cenas de preto e branco. Os diretores realçam  a figura humana e solidária de Mao Zedong, retratando na cena de um ataque aéreo ao acampamento de Mao, quando um cozinheiro que teve a honra de conhecer e servir ao “Grande Timoneiro”, morre nesse ataque aéreo e Mao Zedong comparece ao enterro dele e simbolicamente coloca no túmulo uma carteira de cigarro oferecida por mao a esse lutador e batalhador do Exército  de Libertação Popular, cena de um forte simbolismo. Enquanto ocorre a guerra civil, é mostrado também a desagregação das forças e partidos democráticos que compunham a Assembleia do governo do kuomitang, inclusive Chiang Kai – Shek colocou em  prisão domiciliar em Shanghai, Zhang Lan, Presidente da Liga Democrática da China, que posteriormente participou do governo de Mao Zedong,  como Vice-Presidente do Governo Popular Central, após a fundação da República Popular da China, em 01 de outubro de 1949.

Cronologicamente, ano por ano, são mostrados os avanços, batalhas e enfrentamento dos exércitos, e pouco a pouco as forças do Exército de Libertação Popular vai avançando e ocupando as principais cidades chinesas até ocupar Pequim, em 1949.

A figura de Zhou En Lai, braço direito de Mao Zedong é bastante retratada,  inclusive a mulher de Zhou En Lai recebe a incumbência de manter entendimentos e convidar a Madame Sun Yat Sen,  figura de suma importância dentro da ala moderada do Kuomitang, a ir a Pequim e participar junto com Mao Zedong da Assembleia Consultiva Popular, que após a fundação da República Popular da China, os 576 delegados da CCPPCC, elege Mao Zedong, Presidente da República Popular da China.

É importante ressaltar que não se trata de um filme doutrinário, mas sim um documentário onde ressalta o lado do líder Mao Zedong, como além de um grande líder e estrategista, como um grande negociador e conciliador. Haja vista, a participação de mais de 10 partidos na composição do primeiro governo,  após a proclamação da fundação da República Popular da China,  às 15 horas na Praça da Paz Celestial em 01 de outubro de 1949.

Concluindo podemos afirmar que o filme “A Fundação de uma República” retrata com isenção ideológica o período de 5 anos,  de 1945 a 1949,  que culminou num evento de magnitude excepcional, qual seja, a fundação de uma nova nação milenar, o famoso “Império do Meio” de glória, de sucesso e insucessos (século da humilhação – 1849-1949), exemplo de luta,  tenacidade e resiliência de um povo.

O final do filme, onde é utilizado um documentário real, protagonizado pelo próprio Presidente Mao Zedong, na Praça da Paz Celestial, olhando para o futuro da nação, tendo como fundo musical, a voz de uma criança cantando, simbolizando o nascimento de uma nação.

REFERÊNCIAS

BATISTA, Mauro. Cinema mundial contemporâneo. São Paulo: Papirus, 2008.

GLACHANT, Isabelle. O cinema chinês. (1978-2007). 

IBRACHINA. A arte do cinema chinês: tradição e modernidade. 05 abril 2019.

MELLO, Cecília. Gerações do cinema chinês. Instituto CPFL, 30 setembro 2021.

*Engenheiro, ex-Coordenador de Relações Internacionais da Prefeitura do Recife

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