Novo aumento de juros somente beneficia o capital financeiro. É nocivo ao Brasil e ao povo
O Copom, agora sob nova direção, errou ao se submeter a uma diretriz que já se apresentara gravemente equivocada, agravada pelos efeitos danosos já patentes de uma política monetária de matriz neoliberal
Editorial do Portal 'Vermelho' www.vermelho.org.br
A decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de promover mais um forte aumento na taxa básica de juros, a Selic, de 12,25% para 13,25% ao ano, tem sérias consequências para o país e para a vida do povo. É a quarta elevação consecutiva, num ciclo de muita pressão do mercado financeiro. Com um detalhe: é a primeira reunião do Copom sob o comando de Gabriel Galípolo, novo presidente do BC, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Copom, agora sob nova direção, errou ao se submeter a uma diretriz que já se apresentara gravemente equivocada, agravada pelos efeitos danosos já patentes de uma política monetária de matriz neoliberal. E, aos olhos do povo, ficou a mensagem negativa: ano novo e a velha e nociva política de juros altos.
Vejamos os sinais negativos da economia decorrentes da política de juros altos.
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 deve alcançar a marca de 3,5%; já em 2025, em grande medida devido à paulada dos juros, deve cair para cerca de 2,5%, segundo estimativas do próprio Ministério da Fazenda. Quer dizer: menos investimentos, menos produção, menos emprego, menos salários, menos direitos. E, crédito mais caro, menos consumo.
Dados da produção industrial apresentam retração, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Assim como as vendas do comércio varejista. Os efeitos podem ser notados pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, mostrando que foram fechadas 535.547 vagas formais de trabalho em dezembro.
E mais: a confiança do consumidor, medida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), fechou 2024 com recuo de 3,6 pontos. A confiança empresarial, na média de todos os setores, teve queda de 0,1 ponto em dezembro, a segunda consecutiva. A percepção sobre o desempenho atual dos negócios também piorou.
O Brasil chegou à segunda maior taxa real de juros no mundo. Em primeiro lugar, está a Argentina, com 9,36%, ante 9,18% do Brasil.
Ideólogos neoliberais sustentam que se trata de notícias ruins, que vão gerar anúncios positivos no futuro imediato. Falácia. São sinais muito evidentes e preocupantes que, tendencialmente, empurram o país para trás. Tais ideólogos disseminam a concepção de que o país está condenado a uma taxa medíocre de crescimento, muito aquém de suas potencialidades e necessidades. O crescimento, mesmo que na faixa mediana de 3%, entra na linha de tiro, como o grande vilão.
O pretexto é um surto inflacionário que não existe. Basta ver o comportamento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que fechou 2024 em 4,83%. A alta foi puxada pelo aumento de 7,69% dos alimentos e de 9,71% da gasolina, influenciada pela seca, as enchentes no Rio Grande do Sul e a alta do dólar, num movimento especulativo do mercado financeiro para pressionar por mais juros. Tais vetores inflacionários, como argumentam economistas de vários matizes, sobretudo o aumento dos alimentos, não se resolve com juros altos.
Quanto a 2025, previsões do mercado financeiro, pelo relatório Focus do BC – que por vezes não se confirmaram –, apontam para 5,25% de inflação, acima de uma meta erroneamente fixada num patamar muito baixo. Todavia, mesmo assim, na mesma previsão, deve se reduzir para 4,2% em 2026. O Conselho Monetário Nacional (CMN), segundo o BC, definiu que a meta para a inflação, a partir de janeiro de 2025, é de 3 %, mesmo valor vigente em 2024 e que havia sido anteriormente definido para 2025 e 2026, com tolerância de 1,5% em relação à meta. Isto é, de 1,5% a 4,5%. Ou seja: o próprio mercado financeiro diz que não existe o alegado surto inflacionário.
A outra chantagem do mercado, a denominada crise fiscal, foi em definitivo desmascarada. Ao considerar apenas os gastos dentro do arcabouço fiscal, o déficit primário ficou em R$ 11,032 bilhões (0,09% do PIB). O valor está dentro da margem de tolerância de R$ 28,75 bilhões estabelecida pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, conforme informa a Agência Brasil.
É preciso considerar também que os chamados “fundamentos da economia” apresentam resultados consistentes. A começar pelo crescimento do PIB de 3,2% em 2023 e de 3,5% em 2024, conforme projeção do BC. A balança comercial teve superávit de US$ 74,5 bilhões em 2024, segundo melhor resultado da série histórica iniciada em 1997, atrás apenas do registrado em 2023, que foi de US$ 98,9 bilhões. A dívida pública, de 76,1% do PIB, conforme recente divulgação do BC, é considerada administrável, embora ostente o maior pagamento de juros em termos percentuais do mundo.
São dados que reforçam o potencial de expansão dos investimentos públicos e privados. O comunicado do Copom, entretanto, ignora tudo isso e segue impregnado do repertório do capital financeiro. Esgrima, de modo absoluto, a âncora da inflação. E segue omisso quanto às necessidades do desenvolvimento e da geração de emprego.
Como era de se esperar, o setor produtivo – sobretudo a indústria e o movimento sindical – se manifestou com indignação. Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), resumiu a questão ao afirmar que essa decisão “depõe contra a nossa economia, contra a produção industrial, contra o consumo das famílias, contra a melhoria da renda das famílias, contra a política de geração de emprego”. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) disse que essa política monetária é “a crônica de uma morte anunciada” para o país.
O grande vilão não é o crescimento econômico, tampouco a geração de empregos, muito menos o consumo das famílias, os direitos do povo. É a oligarquia financeira, que atua para prolongar um modelo que drena grande parte da riqueza nacional para assegurar seus ganhos exorbitantes, às custas do bloqueio do desenvolvimento soberano do país.
Somente uma convergência de amplos setores, abarcando empresários e trabalhadores, forças políticas democráticas, patrióticas, populares, conseguirá construir uma maioria capaz de viabilizar uma política monetária que seja alavanca do desenvolvimento. A nova diretoria do BC, tendo à frente Gabriel Galípolo, é chamada a operar com celeridade o fim da política de juros altos herdada do governo da extrema-direita. Para tal, tem o respaldo do programa eleito nas urnas em 2022, apoio da produção e do trabalho e da ampla maioria do povo.
Leia também: Galípolo e o desafio de menos juros e mais desenvolvimento nacional https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/10/editorial-do-portal-vermelho.html
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