Eleições em moto-contínuo*
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
O calendário
eleitoral brasileiro não dá descanso, termina uma eleição e já começam os
preparativos para a próxima. Sobretudo, quando se trata da eleição
presidencial, de governadores, senadores e deputados.
Institutos
especializados antecipam pesquisas que, no atual estado da arte, captam apenas
tendências iniciais. Na verdade, há um tempo hábil para que as coisas
aconteçam de fato.
Recordo-me das
eleições para governador em 1986. Deputado estadual, fui abordado por um
colega na Assembleia Legislativa, influente liderança no Agreste Setentrional,
que tem Caruaru como cidade polo: “Você é amigo de Miguel Arraes, diga para ele
que estou disposto a apoiá-lo.”
Tratava-se de uma
defecção de peso nas hostes adversárias, ao meu olhar, ainda inexperiente,
merecedora de atenção imediata.
No mesmo dia estive
com Arraes, em sua residência, para tratar do assunto.
Depois de me ouvir,
nosso pré-candidato a governador fez considerações a propósito das alianças
amplas e diversificadas e confirmou que aquela seria uma adesão talvez
decisiva.
Entretanto, sugeriu
que haveria um tempo político adequado para que a aliança se consumasse:
“Agamenon Magalhães dizia que deputado governista só muda de lado seis meses
antes das eleições, para evitar perseguições”.
“Mantenha essa
amizade, diga que me deu o recado” — prosseguiu — “alimente a conversa até que
possamos ter um entendimento pessoal”.
Assim foi feito e, na
continuidade, foi-se construindo gradativamente o favoritismo de Arraes no
pleito que se aproximava.
“No interior, a
expectativa de poder é mais sedutora do que o próprio poder”, passei a ouvir de
vários interlocutores.
Agora, aqui na terra
do frevo, fala-se muito num possível favoritismo do atual prefeito do Recife,
João Campos (PSB), coincidentemente bisneto de Arraes, na próxima peleja pelo
governo do estado. Mas, a atual governadora, Raquel Lyra (PSDB), reage.
João tem a
perspectiva; Raquel, as rédeas do governo.
Cá com meus modestos
botões e me arvorando a dizer que o tempo me fez aprender muito, ainda temos um
ano pela frente para que as condições da disputa sejam efetivamente postas à
mesa.
Vale também para a
reeleição (ou sucessão) do presidente Lula.
O centro político
conservador e a extrema direita, reforçados pelo complexo midiático
comprometido com o capital financeiro e com agronegócio exportador, torpedeiam
o governo interruptamente.
A correlação de forças segue muito instável e difícil.
Mas Lula tem como reagir — especialmente se conseguir superar o relativo
marasmo da base social para a qual o governo trabalha, com a ajuda dos partidos
de esquerda e dos segmentos organizados do movimento popular.
Eleição não pode ser
em moto-contínuo. Respirar é preciso — para que tenham lugar a paciência, a
capacidade de encontrar os meios adequados de isolar o adversário principal,
unir as nossas forças e atrair novos aliados e ainda, se possível, neutralizar
parte dos que hoje militam no campo adversário.
*Texto da minha coluna no portal Vermelho
Leia: 'Mergulhar fundo para avançar na superfície" Mergulhar fundo para avançar na superfície https://grabois.org.br/2024/11/18/luciano-siqueira-mergulhar-fundo-para-avancar-na-superficie/
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