31 janeiro 2025

Minha opinião

Eleições em moto-contínuo*

Luciano Siqueira  
instagram.com/lucianosiqueira65

O calendário eleitoral brasileiro não dá descanso, termina uma eleição e já começam os preparativos para a próxima. Sobretudo, quando se trata da eleição presidencial, de governadores, senadores e deputados.

Institutos especializados antecipam pesquisas que, no atual estado da arte, captam apenas tendências iniciais. Na verdade, há um tempo hábil para que as coisas aconteçam de fato. 

Recordo-me das eleições para governador em 1986. Deputado estadual, fui abordado por um colega na Assembleia Legislativa, influente liderança no Agreste Setentrional, que tem Caruaru como cidade polo: “Você é amigo de Miguel Arraes, diga para ele que estou disposto a apoiá-lo.”

Tratava-se de uma defecção de peso nas hostes adversárias, ao meu olhar, ainda inexperiente, merecedora de atenção imediata.

No mesmo dia estive com Arraes, em sua residência, para tratar do assunto.

Depois de me ouvir, nosso pré-candidato a governador fez considerações a propósito das alianças amplas e diversificadas e confirmou que aquela seria uma adesão talvez decisiva.

Entretanto, sugeriu que haveria um tempo político adequado para que a aliança se consumasse: “Agamenon Magalhães dizia que deputado governista só muda de lado seis meses antes das eleições, para evitar perseguições”.

“Mantenha essa amizade, diga que me deu o recado” — prosseguiu — “alimente a conversa até que possamos ter um entendimento pessoal”.

Assim foi feito e, na continuidade, foi-se construindo gradativamente o favoritismo de Arraes no pleito que se aproximava.

“No interior, a expectativa de poder é mais sedutora do que o próprio poder”, passei a ouvir de vários interlocutores. 

Agora, aqui na terra do frevo, fala-se muito num possível favoritismo do atual prefeito do Recife, João Campos (PSB), coincidentemente bisneto de Arraes, na próxima peleja pelo governo do estado. Mas, a atual governadora, Raquel Lyra (PSDB), reage.

João tem a perspectiva; Raquel, as rédeas do governo.

Cá com meus modestos botões e me arvorando a dizer que o tempo me fez aprender muito, ainda temos um ano pela frente para que as condições da disputa sejam efetivamente postas à mesa. 

Vale também para a reeleição (ou sucessão) do presidente Lula. 

O centro político conservador e a extrema direita, reforçados pelo complexo midiático comprometido com o capital financeiro e com agronegócio exportador, torpedeiam o governo interruptamente.
 
A correlação de forças segue muito instável e difícil.
 
Mas Lula tem como reagir — especialmente se conseguir superar o relativo marasmo da base social para a qual o governo trabalha, com a ajuda dos partidos de esquerda e dos segmentos organizados do movimento popular. 

Eleição não pode ser em moto-contínuo. Respirar é preciso — para que tenham lugar a paciência, a capacidade de encontrar os meios adequados de isolar o adversário principal, unir as nossas forças e atrair novos aliados e ainda, se possível, neutralizar parte dos que hoje militam no campo adversário. 

*Texto da minha coluna no portal Vermelho 

Leia: 'Mergulhar fundo para avançar na superfície" Mergulhar fundo para avançar na superfície https://grabois.org.br/2024/11/18/luciano-siqueira-mergulhar-fundo-para-avancar-na-superficie/

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